Dia Nacional da Poesia

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  • quinta-feira, 14 de março de 2013
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  • Onde Estás?

    É meia-noite... e rugindo
    Passa triste a ventania,
    Como um verbo de desgraça,
    Como um grito de agonia.
    E eu digo ao vento, que passa
    Por meus cabelos fugaz:
    "Vento frio do deserto,
    Onde ela está? Longe ou perto?"

    Mas, como um hálito incerto,
    Responde-me o eco ao longe:
    "Oh! minh'amante, onde estás?...
    Vem! É tarde! Por que tardas?
    São horas de brando sono,
    Vem reclinar-te em meu peito
    Com teu lânguido abandono!...
    'Stá vazio nosso leito...

    'Stá vazio o mundo inteiro;
    E tu não queres qu'eu fique
    Solitário nesta vida...
    Mas por que tardas, querida?...
    Já tenho esperado assaz...
    Vem depressa, que eu deliro
    Oh! minh'amante, onde estás?..
    Estrela-na tempestade,
    Rosa-nos ermos da vida,
    Iris-do náufrago errante,
    Ilusão-d'alma descrida!
    Tu foste, mulher formosa!
    Tu foste, ó filha do céu!...

    ... E hoje que o meu passado
    Para sempre morto jaz...
    Vendo finda a minha sorte,
    Pergunto aos ventos do Norte...
    "Oh! minh'amante, onde estás?..."

    ***

    Boa-Noite

    Veux-tu donc partir? Le jour est encore éloigné
    C'était le rossignol et non pas l'aloustte
    Dont le chant a frappé ton oreille inquiete;
    Il chante la nuit sur les branches de ce grenadier,
    Crois-moi, cher ami, c'était le rossignol.
                                                  SHAKESPEARE

    Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.
    A lua nas janelas bate em cheio.
    Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
    Não me apertes assim contra teu seio.

    Boa-noite!... E tu dizes — Boa-noite.
    Mas não digas assim por entre beijos...
    Mas não mo digas descobrindo o peito
    — Mar de amor onde vagam meus desejos.

    Julieta do céu! Ouve... a calhandra
    Já rumoreja o canto da matina.
    Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
    ... Quem cantou foi teu hálito, divina!

    Se à estrela-d'alva os derradeiros raios
    Derrama nos jardins do Capuleto,
    Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
    "É noite ainda em teu cabelo preto..."

    É noite ainda! Brilha na cambraia
    — Desmanchado o roupão, a espádua nua —
    O globo de teu peito entre os arminhos
    Como entre as névoas se balouça a lua...

    É noite, pois! Durmamos, Julieta!
    Recende a alcova ao trescalar das flores,
    Fechemos sobre nós estas cortinas...
    — São as asas do arcanjo dos amores.

    A frouxa luz da alabastrina lâmpada
    Lambe voluptuosa os teus contornos...
    Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
    Ao doudo afago de meus lábios mornos.

    Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
    Treme tua alma, como a lira ao vento,
    Das teclas de teu seio que harmonias,
    Que escalas de suspiros, bebo atento!

    Ai! Canta a cavatina do delírio,
    Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
    Marion! Marion!... É noite ainda.
    Que importa os raios de uma nova aurora?!...

    Como um negro e sombrio firmamento,
    Sobre mim desenrola teu cabelo...
    E deixa-me dormir balbuciando:
    — Boa-noite!, formosa Consuelo!...

                                      Castro Alves
    ...

    *No Dia Nacional da Poesia, comemorado hoje  - data escolhida em homenagem ao grande Poeta Castro Alves (foto), nascido em 14/03/1847 -, com estes dois de seus (tantos) belíssimos  Poemas, a singela homenagem do Editor do Blog. (JG)
     
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