Publicado em 4 fevereiro 2013 às 06:09
Alienado ou Maluco?
O grande Maestro Ernesto Nazareth faleceu em 1934. Alienado, acometido pela sífilis, fugiu do hospício onde estava internado, embrenhou-se na mata e sem ter noção de onde estava acabou morrendo afogado.
Minha personagem na próxima novela "Dona Xepa" toca cavaquinho e é dono de uma casa noturna especializada em "chorinho". Pesquisando o universo da personagem redescobri a figura do grande Maestro que morreu louco, e que em 1930 gravou Apanhei-te, Cavaquinho, primeira música a ser apresentada sob a denominação de choro.
Tocado pela trágica história de Ernesto Nazareth parei a pesquisa e por um tempo passei a meditar sobre a loucura e a alienação.
Segundo o Dicionário Houaiss "alienado" é o ato de perder, de ceder, de não possuir mais um direito. Ainda no Houaiss encontramos "alienado" como sinônimo de "maluco", "fora da realidade". O caso do Maestro.
Para Marx alienação é o processo em que o ser humano se afasta de sua real natureza, torna-se estranho a si mesmo na medida em que já não controla sua atividade essencial, as suas obras, pois os frutos que produz passam a ser estranhos à sua existência e contrários aos seus interesses.
Para Sartre, alienação é a distância que existe entre a palavra e o ato. Entre o que falamos e o que fazemos.
Para Freud o conceito de alienação não caberia neste post, porque não é tão simples apenas dizer que para ele toda socialização é alienação do eu primordial, inconsciente, libidinal.
Para os hindus a realidade é "maya", ou seja é falsa. O que vemos não seria o real. O que tornaria os nossos sentidos alienados.
Também para os hindus o espírito apaixonou-se pela carne e perdeu-se ao encarnar-se.
Respeitadas as diferenças de crenças, não deixa de fazer sentido, pois o princípio de toda carne é o ego.
Que traz o egoismo, a vaidade.
Traz uma visão de mundo própria a cada um de nós. Traz a cada um de nós uma visão deturpada de quem somos, para o bem ou para o mal. Para orgulho e auto-estima ou para depressão e humilhação.
Em 47 anos de profissão encontrei miríades de artistas, por exemplo, que sempre acham que são melhores do que realmente o são.
Outros sempre se acham aquém do que na verdade mereciam receber. Acham que podem ter mais e melhor, que não estão sendo justiçados...e assim procede a maioria dos seres humanos.
Por vaidade e egoísmo da carne achamos ser o que não exatamente somos.
Por fim uma frase encerrou minha meditação e levou-me a este post de agora, porque em carta escrita aos Efésios, o Apóstolo Paulo, um ex-soldado romano e não um filósofo por formação, já definia o conceito de alienação há dois mil anos ao escrever:
"Aquele que crê ser alguma coisa , não sendo nada, engana-se a si mesmo."