Também já fui brasileiro – Carlos Drummond de Andrade

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  • quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
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  • Eu também já fui brasileiro
    moreno como vocês.
    Ponteei viola, guiei forde
    e aprendi na mesa dos bares
    que o nacionalismo é uma virtude.
    Mas há uma hora em que os bares se fecham
    e todas as virtudes se negam.

    Eu também já fui poeta.
    Bastava olhar para mulher,
    pensava logo nas estrelas
    e outros substantivos celestes.
    Mas eram tantas, o céu tamanho,
    minha poesia perturbou-se.

    Eu também já tive meu ritmo.
    Fazia isso, dizia aquilo.
    E meus amigos me queriam,
    meus inimigos me odiavam.
    Eu irônico deslizava
    satisfeito de ter meu ritmo.
    Mas acabei confundindo tudo.
    Hoje não deslizo mais não,
    não sou irônico mais não,
    não tenho ritmo mais não.
     
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