Risco de racionamento - Governo conta com térmicas e São Pedro

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  • quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
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  • ONS admite que tarifa de energia poderá aumentar até 3% em 2014, após queda este ano

    Embora o ministro de Minas e Energia. Edison Lobão, tenha descartado a possibilidade de o pais racionar energia, o governo está contando apenas com as chuvas e o uso das usinas térmicas para evitar problemas no fornecimento. Segundo Lobão, já está chovendo em boa parte dos reservatórios, e "a tendência é melhorar daqui para a frente". As tarifas de energia elétrica poderão subir até 3% em 2014, se o pior cenário de previsão das chuvas se concretizar e a quase totalidade das usinas térmicas se mantiver acionada ao longo deste ano, admitiu o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Lobão, porém, diz que está mantida a promessa da presidente Dilma de reduzir a conta de luz em 20%, no mês que vem.

    Contando com as chuvas

    Se clima não ajudar, governo usará térmicas para garantir fornecimento. Tarifa pode subir até 3%

    Danilo Fariello, Mônica Tavares

    BRASÍLIA E SÃO PAULO - As tarifas de energia poderão subir até 3% em 2014, se o pior cenário de previsão de chuvas se concretizar e a quase totalidade das usinas térmicas se mantiver acionada ao longo deste ano, admitiu o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, após participar, ontem, da reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). O governo está, assim, contando com as chuvas e com as térmicas para evitar problemas no fornecimento de energia, embora o risco de apagão tenha sido novamente descartado pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

    - Em 2008 (ano de seca mais severa, em que também se cogitou o risco de racionamento), no dia 21 de janeiro, não havia uma gota de chuva. Agora, no dia 9 de janeiro, nós já temos chuva em boa parte do Brasil, portanto, nos nossos reservatórios, que estão com alguma dificuldade hoje, a tendência é melhorar daqui para frente - disse Lobão.

    O Comitê discutiu medidas que poderão ser adotadas para afastar o risco de um racionamento, entre as quais, o uso permanente das térmicas mais caras, hoje só acionadas quando o nível dos reservatórios cai demais. O Comitê - do qual também faz parte o ministro e representantes da Eletrobrás, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) - analisou ainda opções para reduzir o impacto nas tarifas do custo das térmicas.

    Chipp disse que, no pior cenário de chuvas, com as térmicas mais caras acionadas o ano inteiro em 2013, o custo mensal médio desse uso será de R$ 400 milhões. Isso poderia levar a um aumento de tarifas entre 2% e 3% em 2014, dependendo das ações que o governo adotar para reduzir esse impacto.

    Com chuvas, impacto será mínimo

    No melhor cenário, indicado pelas condições meteorológicas a que o governo têm acesso hoje, as chuvas serão mais intensas até o fim de abril, quando as térmicas mais caras poderão ser desligadas. Com mais chuvas, o impacto do uso das térmicas no preço das tarifas deverá ser mínimo em 2014, diz Chipp:

    - Com o retorno das chuvas, desligaremos as térmicas mais caras primeiro.

    Segundo fontes, o leque de medidas em estudo pelo governo é bastante variado. Entre as principais ações, destacam-se acelerar os investimentos em geração e transmissão; aumentar a curva de aversão ao risco do limite mínimo dos reservatórios de água (o que permitiria ligar as térmicas por mais tempo); manter as térmicas ligadas ao longo de todo o ano; sancionar a renegociação de excedentes de energia contratados por grandes consumidores; aplicar aos consumidores residenciais e de baixa tensão a "bandeira tarifária" (com variações sazonais da tarifa anual conforme o volume dos reservatórios e o preço da energia no atacado); e conceder mais incentivos aos chamados microgeradores de energia elétrica, como residências, prédios e estabelecimentos comerciais com placas de geração de energia solar, por exemplo.

    Mal terminou a reunião do CMSE, Lobão convocou uma entrevista coletiva em que descartou a hipótese de um novo racionamento de energia, como ocorreu em 2001. O ministro negou ainda que faltará gás natural das indústrias, por causa de um desvio do fornecimento para o acionamento de usinas termelétricas.

    - Não haverá agora, e espero que jamais haja novamente, desabastecimento de energia elétrica neste país - disse Lobão. - Na reunião de hoje (ontem), ficou a tranquilidade reiterada de que o país possui um estoque de energia firme e em condições de atender a todas as nossas necessidades.

    Na avaliação do governo, o custo maior com as térmicas em 2013 é razoável, para afastar um novo risco de racionamento. O governo indicou ontem, portanto, que lançará mão de todas as possibilidades para evitar um racionamento, que poderia abalar o crescimento do país e a popularidade do governo.

    Lobão admite atrasos em obras

    Com os principais reservatórios das bacias dos rios Parnaíba e Rio Grande em condição crítica, o Brasil têm acionado as usinas térmicas com custo mais caro de geração, movidas a óleo diesel e gás. Essa energia é paga em parte por encargos e em parte pelas distribuidoras, que depois apresentam seus custos à Aneel, que poderá repassá-los à tarifa dos consumidores finais.

    O ministro reconheceu que há atraso nas obras do setor elétrico, conforme revelou o GLOBO ontem. Ele culpou, principalmente, questões socioambientais, como a demora na liberação de licenças e intervenção de grupos indígenas em construções de usinas hidrelétricas como Jirau, Santo Antônio, em Rondônia, e Belo Monte, no Pará.

    - Os atrasos realmente existem, infelizmente em todas as obras do país, não apenas no setor elétrico.

    O ministro garantiu que, independentemente da variação das tarifas por conta do uso das térmicas, haverá já no próximo mês a redução das contas pagas pelos consumidores em 20% prometida pela presidente Dilma Rousseff.

    Analistas do JPMorgan avaliaram ontem que, graças às mudanças estruturais no sistema, o risco de um racionamento de energia no Brasil, como ocorrido em 2001, é improvável, permanecendo inferior a 10%.

    Após dois dias seguidos de quedas, as ações de empresas do setor elétrico se recuperaram ontem e ajudaram a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a fechar em alta. O Ibovespa subiu 0,74%, aos 61.578 pontos. Entre as cinco maiores altas, quatro foram de papéis de elétricas. As ações PNB da Cesp tiveram a maior valorização e subiram 6,71% e os papéis PN da Cemig, 5,58%. O dólar comercial teve queda de 0,04%, para R$ 2,037 na venda.

    Fonte: O Globo
     
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