Queda em novembro foi de 0,6%, acumulando recuo de 2,6% em 2012. Analista reduz previsão de alta do PIB para apenas 0,9%
Cassia Almeida
A indústria brasileira voltou a pisar no freio em novembro. A queda na produção foi de 0,6% frente a outubro e de 1% contra novembro de 2011, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem pelo IBGE. De janeiro a novembro, o corte na produção já é de 2,6% e deve fechar o ano de 2012 nesse patamar, segundo analistas, no pior resultado desde 2009, ano de recessão, quando a produção ficou 7,4% menor.
Com cortes sistemáticos desde o início de 2012, a indústria voltou a produzir quase o mesmo que há três anos, afirmou o gerente da pesquisa, André Macedo. A quantidade produzida hoje é a mesma de janeiro de 2010. Segundo ele, novembro foi um mês de predomínio de taxas negativas: cortes em todas as categorias e em 16 dos 27 setores acompanhados.
- Para onde se olha, em qualquer comparação, os resultados são negativos - disse.
O pior resultado no ano vem dos bens de capital: queda de 11,6%. Em novembro, caiu 1% frente a outubro. O setor que fabrica máquinas e equipamentos encolhe desde agosto:
- O número confirma a desaceleração no quarto trimestre. Revisamos nossa projeção de PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços) de 1% para 0,9%. O que preocupa é a queda nos bens de capital, recuo de 10,6% frente a novembro de 2011, apontando o pessimismo do empresariado a respeito da dinâmica brasileira - disse André Perfeito, da Gradual Investimentos.
Estoques altos nas fábricas
Para Perfeito, a queda de juros foi muito forte nesse período. Ele lembra que, em 2008, a taxa real era de 7,5%, e agora é de 1,72%. A rentabilidade das empresas está caindo, e o empresário ainda está aprendendo a viver com lucro menor.
- Houve uma revolução monetária. Assim, mesmo com o corte de custos promovido pelo governo, o empresário está lucrando menos e tende a embolsá-lo em vez de investir.
Para Macedo, os fatores que explicaram a queda da indústria durante todo o ano de 2012 permaneceram em novembro: cenário internacional adverso e nível alto de comprometimento da renda, afetando o consumo das famílias:
- Os estoques altos foram uma variável extremamente usada para entender a queda na indústria - diz Macedo.
O setor automobilístico, que vem recebendo incentivos fiscais desde que a crise internacional eclodiu, em setembro de 2008, cortou a produção em 2,8% em novembro, devolvendo parte da alta de 3,2% de outubro. Segundo o economista do IBGE, apesar das taxas negativas, houve uma melhora no terceiro trimestre e no fim do ano, especificamente nos setores favorecidos por desonerações fiscais, como eletrodomésticos, móveis e carros:
- No bimestre outubro/novembro frente a 2011, bens duráveis subiram 9,4%. Mas isso não reflete o total da indústria.
Na comparação com novembro de 2011, o setor de veículos automotores, com recuo de 7,5%, foi o que exerceu a maior influência negativa para a queda de 1% na produção industrial, pressionado pelo recuo na fabricação de 71% dos produtos investigados.
A produção só aumentou em 27,8% dos itens investigados pelo IBGE. Em outubro, esse percentual fora de 72,5%. A média do indicador nos últimos dez anos para esse mês é de 36,6%. Na comparação com novembro de 2011, a produção subiu em 40,9% dos itens.
Os números da indústria sofreram revisão em outubro: a alta de 0,9% passou para 0,1%. A queda, sem ajuste sazonal, foi de 5% - a pior desde novembro de 2008 (11,7%).
Fonte: O Globo