O Congresso dos Estados Unidos apenas adiou o infarto das contas públicas. Os grandes problemas fiscais estão longe de terem sido resolvidos. A agonia continua ao longo dos próximos dois meses.
Graças à decisão que derrubou a isenção do imposto sobre a renda da parcela mais rica da população americana, os cortes automáticos de despesas que teriam de começar agora em janeiro foram evitados.
Mas o rombo das contas públicas dos Estados Unidos continua alto. Sem uma nova autorização do Congresso, a partir de março, o Tesouro não poderá mais emitir títulos com o objetivo de aumentar a dívida federal acima do atual teto de US$ 16,4 trilhões (já atingido), correspondente a cerca de 73% do PIB americano.
O aumento da arrecadação proporcionado pelas decisões tomadas na madrugada de ontem tirou a economia americana da UTI, mas não evitará um desempenho mais baixo da atividade econômica. As primeiras estimativas divulgadas por empresas de consultoria são de que pode tirar em 2013 quase 1 ponto porcentual do crescimento do PIB. Também não deve concorrer para aumentar os postos de trabalho. O atual nível de desemprego, de 7,7% da população ativa, tende a ficar por aí mesmo.
O acordo arrancado com enorme queima de energia política não equaciona as contas públicas. Por enquanto, mantém-se elevada a aceitação dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. É o principal ativo das reservas técnicas dos bancos centrais, dos fundos de investimento e das seguradoras. Mas o crescimento da dívida dos Estados Unidos segue em direção do insustentável, nível que ninguém se atreve a definir onde fica, mas que todos sabem que existe.
Mesmo se, em março, o Congresso concordar em aumentar o teto da dívida americana e, assim, impedir a suspensão imediata dos pagamentos, ainda ficará para ser resolvida a necessidade de cortes extras de despesas da ordem de US$ 1,2 trilhão em dez anos.
Por isso, o alívio pelo acordo, que o mercado financeiro ontem refletiu, não deve perdurar. Ficou demonstrado que os políticos americanos adoram manter a vaquinha balançando sobre o precipício. Mas também se viu que entre eles há razoável percepção de que uma solução ruim é melhor que a ruína de todos. Na undécima badalada do relógio, sempre sai um acordo que evita o pior.
Como este acordo não elimina as incertezas, o mundo dos negócios tenderá a atuar relativamente travado. Os investidores não se sentirão encorajados a despejar dinheiro na economia enquanto não houver clareza sobre o comportamento futuro das contas públicas.
O problema principal está longe de ser econômico. Ele é fundamentalmente político. Consiste em definir como a conta da crise deve ser repassada para a população. Os republicanos entendem que devam ser cortadas as despesas sociais, especialmente de seguro-desemprego e seguro saúde (Medicare). Os democratas preferem o aumento de impostos, sobretudo sobre os mais ricos e os de maior renda. A curto prazo, não há perspectiva de desempate. O impasse seguirá por mais tempo.
Fonte: O Estado de S. Paulo