Gasolina, tarifas de ônibus e serviços podem manter IPCA perto de 5,5%

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  • quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
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  • Arícia Martins

    SÃO PAULO - A queda das tarifas de energia e a volta à normalidade da trajetória dos alimentos depois do choque de commodities serão os principais pontos de alívio à inflação neste ano, mas o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) seguirá na casa dos 5,5%. Contrabalançando essa ajuda, economistas apontam outras pressões que vão manter o indicador acima do centro da meta de 4,5%: reajuste dos preços da gasolina e de ônibus urbano, o fim do impacto deflacionário de desonerações fiscais para bens duráveis e a resistência dos serviços, que, no melhor dos cenários, repetirão o ritmo de alta do ano passado.

    Os gastos com energia têm peso de 3,3% na composição do IPCA, enquanto a gasolina representa 3,87% do indicador. Com a redução anunciada de 16% no preço das contas de luz, o impacto de queda de energia no índice será de 0,53 ponto percentual. Um reajuste de 10% nas distribuidoras da gasolina, como os economistas estimam, chegaria mais baixo nos postos de abastecimento, em torno de 5%, o que adicionaria de 0,20 a 0,30 ponto percentual ao IPCA. Assim, como o corte nas contas de luz será maior que o aumento da gasolina, o efeito de baixa na inflação acabaria predominando.

    Responsável por quase 35% do IPCA, o grupo de serviços, formado por itens como empregado doméstico, aluguel e mensalidades escolares, deve ter encerrado 2012 com alta de 8,4%, diz Thiago Curado, da Tendências Consultoria. É um nível muito próximo ao projetado para 2013, de 8,6%.

    Curado acredita que os serviços poderiam ter perdido mais fôlego em resposta à desaceleração da atividade, não fosse o reajuste nominal de 14% do salário mínimo, concedido no ano passado, importante formador de preços no setor. Em 2013, diz ele, a correção do mínimo será menor, de 9%, mas, por outro lado, a dinâmica de recuperação econômica coloca perspectiva de aumentos em serviços menos indexados, como os pessoais.

    Para Daniel Moreli Rocha, superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners (BI&P), a reação da atividade vai manter o desemprego nas mínimas históricas, o que pressiona salários e favorece repasses de aumentos de custos nos preços de serviços.

    A inércia inflacionária, com o IPCA subindo 5,5% no ano anterior, também aponta para fôlego maior dos serviços na visão de Rocha, assim como a alta de 7,8% do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) em 2012, principal referência para aluguéis, que sofreu influência do choque de grãos. Assim, o economista espera inflação de serviços de 9% em 2013, superior aos 8,5% previstos para 2012.

    Embora com menor relevância do que os serviços no IPCA, Elson Teles, do Itaú Unibanco, afirma que os bens duráveis serão outro grupo com impacto de alta na inflação. Mesmo que a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e linha branca seja prorrogada ao longo de todo o ano, diz Teles, o efeito de baixa proporcionado pelo início da vigência do desconto ficou para trás.

    O analista calcula que o imposto menor para carros "tirou" 0,4 ponto percentual do IPCA de 2012, folga que não vai se repetir em 2013. "Isso pressionará o grupo de transportes, ao lado dos reajustes de ônibus urbano, que foram inibidos em 2012 devido ao ciclo eleitoral."

    Thiago Carlos, da Link Investimentos, trabalha com altas de transporte público, neste ano, em 9 das 11 capitais nas quais o IBGE coleta preços, mesmo número observado em 2012. Com maior peso no indicador, de 31,6%, no entanto, São Paulo ficou fora da lista no ano passado. Como a passagem será reajustada em 8% na capital paulista neste mês, Carlos estima que o item ônibus urbano avançará 7,3% no IPCA de 2013, ante 5,5% em 2012. Nas outras regiões metropolitanas, ele observa que o aumento do diesel nas refinarias pode fazer com que os reajustes sejam mais elevados do que os concedidos no ano passado.

    Além das passagens de ônibus e do fim da contribuição de automóveis, Curado, da Tendências, acrescenta que um aumento de cerca de 10% da gasolina nas refinarias, para diminuir a defasagem entre os preços internos e externos, chegará às bombas, embora em menor intensidade, em torno de 4,5%, devido à perspectiva de que o percentual de álcool anidro nesse combustível seja elevado.

    Em março de 2012 a gasolina subiu 10% para os distribuidores, mas o governo neutralizou totalmente essa alta para o consumidor por meio da extinção da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide-Combustíveis).

    Mesmo com preços maiores em alguns itens, Curado projeta que a inflação de preços administrados recuará de 3,7% para 3,4% entre 2012 e 2013, devido à queda de 16,5% esperada para as tarifas de energia elétrica.

    Essa medida, segundo ele, dará alívio de 0,7 ponto percentual ao IPCA deste ano, somando seus impactos diretos e indiretos. Segundo Teles, do Itaú, o percentual de corte nas contas antecipado pelo governo deve ser totalmente garantido por meio de aporte do Tesouro Nacional, apesar da rejeição de geradoras importantes em prorrogar seus contratos.

    Não fosse a questão da energia, o IPCA alcançaria no fim do ano o teto da meta, de 6,5%, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Em seu cenário, um reajuste da gasolina nas refinarias de no mínimo 10% chegará ao consumidor, o que acabará afetando também os preços do álcool e mitigará o alívio de 0,6 ponto percentual proporcionado pelo corte nas contas de luz. "Serão três anos com média de inflação de 6,1%", afirma Vale, para quem o reaquecimento da demanda sustentará repasses mais robustos nos serviços e aponta para alta de 6% do IPCA em 2013.

    Daniel Moreli Rocha, do BI&P, conta com desaceleração da inflação de alimentos de 9,8% para 6,5% em seu cenário-base para 2013, como reflexo de uma correção nos preços de commodities depois da forte alta vista no ano passado, mas afirma que esses preços ainda podem representar risco. "Dado que nos últimos três anos a safra nos EUA ficou abaixo do previsto, qualquer problema, por menor que seja, pode pressionar os preços de grãos, principalmente soja e milho, que possuem estoques mais baixos", diz.

    Fonte: Valor Econômico
     
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