"Fio desencapado" que preocupa o Planalto

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  • domingo, 6 de janeiro de 2013
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  • O candidato a líder do PMDB coleciona um histórico de problemas com o governo e não conta com a simpatia da presidente

    Karla Correia

    O Congresso se aproximava do recesso parlamentar e a bancada federal do PMDB decidiu anunciar, com calculado alarde, o apoio a um dos itens mais importantes da agenda legislativa da presidente Dilma Rousseff : a MP 579, que prorrogou as concessões do setor elétrico, com a condição de reduzir os valores da conta de luz a partir do início deste ano. Com a ajuda de um dos principais partidos da base aliada, a medida acabou aprovada pela Câmara e pelo Senado, em votações que ocorreram no mesmo dia.

    Mais do que unificar o partido em torno da proposta da presidente, a reunião da cúpula do PMDB que precedeu o anúncio do apoio à MP teve uma só finalidade: enquadrar o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e evitar que qualquer ato de rebeldia do parlamentar pudesse comprometer o resultado da votação. Favorito para assumir a liderança de uma das maiores bancadas aliadas do Congresso neste ano, Cunha é visto como um "fio desencapado" dentro da base governista, tanto pela proximidade que tem com os interesses de empresas do setor elétrico quanto pelo fator de risco que representa na relação com o governo federal.

    A hipótese, bastante viável, causa arrepios no Palácio do Planalto. Preocupada com a possível escolha de Cunha para a liderança do PMDB, Dilma articula nos bastidores em favor da candidatura de Sandro Mabel (GO) ao cargo. De volta ao PMDB depois de rápida passagem pelo PR, atingido de raspão pelo escândalo do mensalão, Mabel seria uma alternativa infinitamente mais palatável ao Planalto que Eduardo Cunha, segundo interlocutores de Dilma.

    A biografia e o histórico de sequelas causadas ao governo pelas rebeliões e movimentações do deputado, sobretudo no setor elétrico, que a presidente costuma tratar com especial atenção, motivam a desconfiança do Planalto em relação ao parlamentar, seguidor do modelo fisiológico de fazer política que cunhou o modus operandi do PMDB.

    Evangélico, flamenguista roxo, Eduardo Cunha chegou à política no fim da década de 1980 sob as bênçãos de Paulo César Farias, então tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Mello para a Presidência da República. Integrante do comitê eleitoral de Collor no Rio de Janeiro, Cunha foi nomeado presidente da Telerj, a empresa pública de telecomunicações do estado, pouco depois da eleição de Collor. Já fora da estatal, filiou-se ao PPB (hoje PP) em 1994 e tornou-se o braço direito de outra estrela em ascensão na política carioca: Anthony Garotinho, hoje colega de Câmara e desafeto de Cunha. Eles já chegaram a trocar insultos pela internet. No início dessa legislatura, os dois se atacaram pelo Twitter. Garotinho questionou a fonte do patrimônio financeiro de Eduardo Cunha, que, em resposta, o chamou de "quadrilheiro".

    "Contrabandos"

    Mas nem só de brigas vive o possível próximo líder do PMDB. Em seu terceiro mandato de deputado federal, Cunha é um fenômeno dentro da legenda, onde sua desenvoltura o levou em pouco tempo da posição de noviço para um assento entre os caciques peemedebistas. "Poucos deputados conhecem tão bem o regimento da Casa e sabem como fazer uso dele. É um "caxias", estudioso e esforçado", derrete-se um aliado. "É também um cabeça-dura que não sabe quando encerrar uma briga, não tem noção de limites", alfineta outro colega de partido.

    Seu talento para o confronto deixou marcas no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Relator da MP que prorrogaria a validade da CPMF em 2007, Cunha segurou o quanto pôde a entrega do parecer como forma de pressionar o governo pela nomeação de cargos em Furnas, incluindo o ex-prefeito Luiz Paulo Conde para a presidência da estatal. A demora de Cunha em entregar o relatório deixou o governo sem margem de manobra quando a MP chegou ao Senado e a derrota com a queda da CPMF se transformou em uma das grandes mágoas de Lula em sua relação com o Congresso.

    Com esse currículo, o deputado não teve dificuldades em conquistar a antipatia da presidente Dilma Rousseff. A presidente já rejeitou indicações do PMDB para o setor elétrico única e exclusivamente pela influência de Cunha na escolha dos nomes apontados pelo partido. Dilma também já se acostumou a vetar rotineiramente emendas incluídas em textos de medidas provisórias pelo deputado, todas favorecendo empresas privadas do setor. No Planalto, diz-se que a presidente guarda na gaveta de sua mesa uma "lupa anti-Eduardo Cunha" para analisar cada texto aprovado pelo Congresso, em busca de contrabandos inseridos pelo parlamentar.

    Quem é ele

    Nome: Eduardo Consentino da Cunha
    Idade: 54 anos
    Profissão: economista
    Filiações: PPB (1994-2003), PP (2003), PMDB (desde 2003)
    Cargos: presidente da Telerj (1991-1993); subsubsecretário estadual de Habitação (1999); presidente da Companhia de Habitação do Rio de Janeiro (1999-2000)
    Mandatos eletivos: deputado estadual, 2001-2003 (PPB); deputado federal, 2003-2007 (PPB-RJ), 2007-2011 (PMDB-RJ), e desde 2011

    Fonte: Correio Braziliense
     
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