Ao entrar em seu último ano de mandato com alguma chance de mostrar serviço, dado que 2014 é perdido para a eleição, Dilma Rousseff deveria estar a comemorar. Aprovação alta apesar da gestão opaca, oposição abúlica a despeito do impacto do mensalão e do "Rosegate" no PT e em Lula.
Até aqui, a jabuticaba "pibinho com inflação" não foi capaz de assustar o eleitorado, por intangível no curto prazo e anulada pela combinação emprego-renda. Destruição de fundamentos macroeconômicos, ineficácia gerencial e intervencionismo? Isso não tira voto de ninguém antes de os efeitos serem sentidos.
Mas as nuvens ausentes sobre os reservatórios brasileiros insinuam um mau agouro daqueles. A histeria oficial ao negar os problemas do setor elétrico é indicativo do medo do risco de apagões para um governo que elegeu reduzir a conta de luz como uma de suas bandeiras.
Os sinais estão aí. Empresas falando em "racionamento branco", falta de gás para termelétricas, reuniões e cobranças. Tudo pode ser resolvido com a ajuda, literalmente, dos céus, mas a mera sensação de que o Brasil pode virar uma Brasília, capital que experimenta apagões quase diários (por motivos diversos, não é o ponto), já causa arrepios na Esplanada.
A memória do racionamento de 2001, que, em certa medida, ajudou a eleger Lula, é fresca. Para piorar, Dilma crê ser a dona da bola no assunto; a soberba, afinal, é um dos pecados prediletos do Tinhoso.
A oposição nominal espera. Não pode torcer pelo pior em público, seja no caso de apagões ou no de mais problemas econômicos, porque pegaria mal. Porém sabe bem o quão poderosa é a combinação entre problemas reais e a insatisfação dos que mandam (e financiam campanhas) com os rumos da economia.
O time a pensar a campanha de Aécio Neves tem DNA econômico. Se ele será candidato, é outra história, mas não se trata de coincidência.
Fonte: Folha de S. Paulo