Morreu ontem, aos 90 anos, Zuleika Alambert, ex-deputada comunista. Ao lado de Heloísa Ramos, mulher de Graciliano Ramos, participou no Porto de Santos do boicote aos navios de bandeira espanhola na época da ditadura de Franco.
Fonte: Coluna de Ancelmo Gois/ O Globo
PPS lamenta a morte de Zuleika Alambert
Por: Assessoria PPS
O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), lamentou a morte de Zuleika Alambert ocorrida na manhã desta quinta-feira (27), no Rio de Janeiro. Freire lembrou a homenagem recente feita pelo partido pela passagem do aniversário da grande militante PCB/PPS. O dirigente destacou a luta de Alambert pelas causas democráticas e pela igualdade de gênero no país.
O local e horário do velório ainda estão sendo definidos por familiares e amigos.
“O PPS amanheceu nesta quinta-feira de luto pelo falecimento de Zuleika Alambert. Há poucos dias homenageamos esta brava mulher pela celebração de seus 90 anos e por sua trajetória pioneira na luta pela igualdade do gênero e hoje, lamentavelmente, nos despedimos. Levamos a nossa solidariedade aos familiares e a todos aqueles que acompanharam a trajetória de Zuleika Alambert.
Brasília, 27 de dezembro
Roberto Freire
Presidente Nacional do PPS"
Homenagem prestada pelo PPS aos 90 anos de Zuleika Alambert
A militante teve destacada atuação política desde os anos 1940, durante a II Grande Guerra, tendo participado de atos públicos e manifestações em defesa dos direitos humanos, das liberdades democráticas, da equidade.
Em 1947, foi eleita deputada estadual pela Baixada Santista, onde juntamente com Conceição Neves Santa Maria seriam as primeiras mulheres em São Paulo a terem assento no Palácio 9 de Julho. Alguns meses depois, o Supremo Tribunal Eleitoral votou a cassação do registro do PCB (Partido Comunista Brasileiro).
Em 1948, Zuleika teve o mandato cassado pela Assembléia Legislativa em cumprimento da sentença do STE, sendo obrigada a mergulhar na clandestinidade (o motivo essencial para a busca e ordem de prisão de todos os parlamentares comunistas do país, deu-se a partir de manifesto por toda a bancada em defesa da autonomia de São Paulo, diante da ameaça de invasão do estado por tropas federais). Quando deputada, apresentou projeto pioneiro que seria o embrião do 13º salário. Seu projeto era para um abono de Natal.
Com a breve redemocratização, ocorrida após o fim da ditadura Vargas, ela foi uma das organizadoras do trabalho do PCB junto aos jovens, sobretudo estudantes, contribuindo para organizar o Centro Popular de Cultura da UNE. Também ocupou o cargo de secretária-geral da Juventude Comunista, militando ao lado de figuras históricas como João Saldanha e Marcos Jaimovitch.
Na década de 1950, teve atuação redobrada em campanhas pela soberania nacional e pelo Estado de Direito. Atuou junto à diretoria da UNE em importantes movimentos, como em favor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; em defesa do monopólio estatal do petróleo e das areias monazíticas, contra a entrega de nossas riquezas às multinacionais; pelas Reformas de Base. No Plano Cultural, teve participação destacada na Campanha pela Alfabetização de Adultos; na criação, desenvolvimento e movimentos de cultura popular e CPCs.
Após o golpe de 1964, ela teve que deixar o país, por motivos políticos, tendo participado, em 1969, em Budapeste (Hungria), na Federação Mundial da Juventude Democrática, onde ajudou a organizar duas importantes campanhas: Pela Libertação de Ângela Davis e Pelo término da guerra do Vietnã.
Em 1971, foi a Santiago do Chile para participar do "Encontro da Juventude Mundial contra a Guerra no Vietnã", permanecendo naquele país, onde desenvolveu a criação do Comitê de Mulheres Brasileiras no Exílio, dentre outras atividades. Em 1973, foi asilada na Embaixada da Venezuela após o golpe chileno e a retirada de todos os brasileiros para centros de refugiados e embaixadas. Em 1974, foi para Paris, como refugiada sob a proteção da ONU, tendo realizado várias importantes atividades, como a criação do Comitê de Mulheres Brasileiras no Exterior com trabalho de educação feminista com as mulheres que Chegaram ao Chile, primeiro contato com feministas brasileiras e francesas; participação no Congresso Internacional da Mulher, em Berlim Oriental; apoio às brasileiras que, vindas do Chile, se asilaram em diferentes países da Europa. Trabalho Específico nos Comitês de Mulheres Brasileiras em Bruxelas, Lisboa e Milão. Na segunda metade dos anos 1970, Zuleika continua seu combate pela causa da liberdade, em geral, e assume definitivamente as bandeiras do feminismo, sob um prisma marxista. Por essa mesma época, integra o Secretariado do Partido Comunista Brasileiro, sendo a primeira mulher a fazê-lo na história do partido.
Em 1979, com a anistia decretada, Dalembert retornou ao Brasil sendo recebida no Galeão por todas as entidades feministas já existentes no Rio de Janeiro. Quinze dias depois na Casa Grande, fez exposição sobre o tema "Democracia e Mulher" para um público de mais de mil mulheres. Apresentou-se como uma marxista preocupada com a mulher. Como feminista, participou em mais de duzentos eventos internacionais e nacionais, a maior parte deles como expositora.
Desde então, vem se dedicando integralmente à promoção da condição da mulher. Tendo sido secretária de Estado, ocupando a pasta dos Negócios Metropolitanos de São Paulo, foi uma das fundadoras do Conselho Estadual da Condição Feminina do Estado de São Paulo, o primeiro a se criar no país e do qual se tornou presidente (1986-1987) e do qual foi conselheira durante vários anos, assim como coordenou a Comissão Estadual de Educação, Cultura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (1994-1996).
Autora de livros, como Uma jovem brasileira na URSS (1953), Estudantes fazem história (1964), A situação e organização da Mulher (1980), Feminismo: O Ponto de Vista Marxista (1986), Metodologia do Trabalho com Mulheres (Cadernos da União de Mulheres de São Paulo, 1990), Mulher: Uma trajetória épica (1996) e Uma mulher na História (2004), esta última obra editada pela Fundação Astrojildo Pereira, Zuleika já teve seus méritos reconhecidos por meio de títulos e condecorações, como a Medalha Anchieta e Diploma de Gratidão do Povo de São Paulo, por serviços prestados à cidade, Câmara Municipal de São Paulo (1986), Placa de Prata "Mulher do Ano na Área do Feminismo" Comitê Nacional de Mulheres Brasileiras, Rio de Janeiro (1988), Placa de Prata, “Jogos Femininos da Primavera”, Secretaria do Trabalho (1990), Placa de Prata, “8 de março", em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (1992).
Zuleika Dalembert foi uma grande inspiradora do movimento de mulheres do Partido Popular Socialista, particularmente o Nugeza (Núcleo de Gênero Zuleika Alambert), onde pontificam Cleia Schiavo, Tereza Vitale, Almira Rodrigues, Irina Storni, Soninha Francine, Elaine Marinho, Jane Neves, Guiomar Monteiro, Renata Cabrera e tantas outras companheiras
Fonte: Portal do PPS