Planta de Maceió – Lêdo Ivo

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  • terça-feira, 25 de dezembro de 2012
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  • O vento do mar rói as casas e os homens.
    Do nascimento à morte, os que moram aqui
    andam sempre cobertos por leve mortalha
    de mormaço e salsugem. Os dentes do mar
    mordem, dia e noite, os que não procuram
    esconder-se no ventre dos navios
    e se deixam sugar por um sol de areia.
    Penetrada nas pedras, a maresia
    cresta o pêlo dos ratos perdulários
    que, nos esgotos, ouvem o vômito escuro
    do oceano esvaído em bolsões de mangue
    e sonham os celeiros dos porões dos cargueiros.
    Foi aqui que nasci, onde a luz do farol
    cega a noite dos homens e desbota as corujas.
    A ventania lambe as dragas podres,
    entra pelas persianas das casas sufocadas
    e escalavra as dunas mortuárias
    onde os beiços dos mortos bebem o mar.
    Mesmo os que se amam nesta terra de ódios
    são sempre separados pela brisa
    que semeia a insônia nas lacraias
    e adultera a fretagem dos navios.
    Este é o meu lugar, entranhado em meu sangue
    como a lama no fundo da noite lacustre.
    E por mais que me afaste, estarei sempre aqui
    e serei este vento e a luz do farol,
    e minha morte vive na cioba encurralada.
     
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