O MANUAL DO GOLPE

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  • segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
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  • Por Mauro Santayana

    “Cúrzio Malaparte escreveu, em 1931, seu livro político mais importante, “Técnica del colpo di Stato”: envenenamento da opinião pública, organização de quadros, atos de provocação, terrorismo e intimidação, e, por fim, a conquista do poder.

    Malaparte escreveu sua obra quando os Estados Unidos ainda não haviam aprimorado os seus serviços especiais, como o FBI - fundado sete anos antes - nem criado a CIA, em 1947. De lá para cá, as coisas mudaram, e muito. Já há, no Brasil, elementos para a redação de um atualizado “Manual do Golpe”.

    Quando o golpe parte de quem ocupa o governo, o rito é diferente de quando o golpe se desfecha contra o governo. Nos dois casos, a ação liberticida é sempre justificada como legítima defesa: “contra um governo arbitrário” (ou “corrupto”, como é mais frequente), ou do “governo contra os inimigos da pátria”. Em nosso caso, e de nossos vizinhos, todos os golpes contra o governo associaram as denúncias de ligações externas (com os países comunistas) às de corrupção interna.

    Desde a destituição de Getúlio, em 29 de outubro de 1945, todos os golpes, no Brasil, foram orientados pelos norte-americanos, e contaram com a participação ativa de grandes jornais e emissoras de rádio. A partir da renúncia de Jânio, em 1961, a televisão passou, também, a ser usada. Para desfechá-los, sempre se valeram das Forças Armadas.

    Foi assim quando Vargas já havia convocado as eleições de 2 de dezembro de 1945 para uma assembléia nacional constituinte e a sua própria sucessão. Vargas, como se sabe, apoiou a candidatura do marechal Dutra, do PSD, contra Eduardo Gomes, da UDN. Mesmo deposto, Vargas foi o maior vitorioso daquele pleito.

    Em 1954, eleito pelo povo, Vargas venceu-os, ao matar-se. Não obstante isso, uma vez eleito Juscelino, eles voltaram à carga, a fim de lhe impedir a posse. A posição de uma parte ponderável das Forças Armadas, sob o comando do general Lott, liquidou-os com o contragolpe fulminante. Em 1964, contra Jango, foram vitoriosos.

    A penetração das ONG no Norte do Brasil, e a campanha de coleta de assinaturas entre a população dos “7 Grandes” - orientada, também, pelo Departamento de Estado [dos EUA], que financiava muitas delas – para que a Amazônia fosse internacionalizada, reacenderam os brios nacionalistas das Forças Armadas. Assim, os norte-americanos decidiram não mais fomentar os golpes de estado cooptando os militares, porque eles passaram a ser inconfiáveis para eles, e não só no Brasil.

    Washington optou hoje pelos “golpes brancos”, com apoio no Parlamento e no Poder Judiciário, como ocorreu em Honduras e no Paraguai. Articula-se a mesma técnica no Brasil. Nesse processo, a crise institucional que fomentam, entre o Supremo e o Congresso, poderá servir a seu objetivo – se os democratas dos Três Poderes se omitirem e os patriotas capitularem.”

    FONTE: escrito por Mauro Santayana e transcrito no blog “DoLaDoDeLá”, de Marco Aurélio Mello  (http://maureliomello.blogspot.com.br/2012/12/santayana-e-o-manual-do-golpe.html#more).
     
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