Por Saul Leblon
“O lançamento burocrático do nome de Aécio à sucessão de Dilma Roussef, feito por apressados tucanos na 2ª feira, exala o odor da naftalina entranhada nas peças do vestuário preteridas no guarda-roupa. Quando, finalmente, ascendem à luz, já perderam a sintonia com o manequim e a estação.
Ungido no vácuo, Aécio ainda gaguejou assombrado: 'antes de candidatura, a legenda precisa de agenda'
Não sem razão. O credo do PSDB transformou-se num pé de chumbo histórico. Hoje, ele pisoteia o que restou do “Estado do Bem Estar Social” europeu superpondo o “arrocho ortodoxo” ao “colapso neoliberal”. Apaga incêndio com gasolina.
As labaredas atingiram a classe média europeia da qual o tucanato um dia considerou-se uma espécie de prefiguração tropical culta, rica, bela e cheirosa.
19 milhões de desempregados, quase 120 milhões na antessala da pobreza, revestem a zona do euro das cores de uma tragédia histórica feita de despejos, suicídios, fome e pobreza, em escala e virulência desconhecidas desde a Segunda Guerra.
A candidatura Aécio é isso: o “choque de gestão” de Alckmin algemado ao descrédito planetário da bandeira dos mercados autorreguláveis. Queira ou não, sua candidatura vestirá o que lhe resta --a camisa "conservadora" [neoliberal, antinacional] impregnada da naftalina udenista.
O único plano de voo tucano é a aposta no acuamento político do PT e do governo Dilma.
Depende muito de como o outro lado reagir.
A inexistência de um contraponto estruturado de mídia progressista, por exemplo --ontem e ainda hoje menosprezado pelo governo Dilma-- amplifica o alcance dessa ressurgência udenista, cuja chance de volta ao poder pressupõe nada menos que a destruição de Lula e o engessamento de sua sucessora.
Não é único flanco de um viés de complacência cada vez mais temerário.
O PT, de certa forma, foi uma costela emancipada da efervescência cristã-progressista semeada pela Teologia da Libertação nas periferias metropolitanas. A ela associou-se a energia sindical amadurecida nos levantes metalúrgicos do ABC paulista nos anos 70 e 80.
Dessa simbiose de forte capilaridade, emergiram lideranças e quadros que iriam catalisar segmentos egressos da luta armada, intelectuais de esquerda, cristãos progressistas e democratas em geral, na construção de um novo partido socialista, libertário e ecumênico.
O êxito eleitoral fulminante associado ao revés simultâneo da ala progressista da igreja católica contribuiria para o duplo desmonte do enraizamento original pela base.
O jogo eleitoral absorvente impôs a sua lógica absolutista na vida interna do partido; o golpe "conservador" dentro da Igreja Católica reproduziria o mesmo vácuo nas periferias crescentemente colonizadas pela individualização evangélica.
A vitória de Fernando Haddad em São Paulo reabre essa página da história.
A partir de São Paulo, o PT pode - se quiser - renovar o arsenal de políticas públicas, ao mesmo tempo em que regenera a capacidade de organização pela base.
Seria uma demonstração de discernimento histórico da nova gestão petista, por exemplo, criar uma “Secretaria de Participação Cidadã”.
Sua missão democrática seria reativar a nucleação suprapartidária da cidadania em torno de questões cruciais que atormentam o cotidiano dos bairros de classe média, dos conjuntos populares e das periferias distantes.
O renascimento da participação comunitária impulsionada pelo recorte ecumênico, pavimentaria a realização de grandes conferências municipais temáticas. Nelas, delegados de classe média e de cinturões populares pactuariam suas prioridades para São Paulo.
O processo ganharia difusão através de uma rede de mídia alternativa capaz de amplificar a mais significativa virada cultural na gestão de uma metrópole no século XXI: o protagonismo democrático de seus habitantes.
A vitalidade participativa em uma das cinco maiores manchas urbanas do planeta sacudiria a vida política do país e a letargia interna do PT.
Faria mais que isso: fomentaria um anteparo de discernimento popular com densidade capaz de resistir ao golpismo “conservador” [eufemismo para “neoliberal antinacional”] que, queira ou não Aécio, deve cavalgar a sua candidatura a 2014 - se e até quando ela sobreviver à liquefação neoliberal”
FONTE: escrito por Saul Leblon no “Blog das Frases”, no site “Carta Maior” (http://cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1150). [Imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].
“O lançamento burocrático do nome de Aécio à sucessão de Dilma Roussef, feito por apressados tucanos na 2ª feira, exala o odor da naftalina entranhada nas peças do vestuário preteridas no guarda-roupa. Quando, finalmente, ascendem à luz, já perderam a sintonia com o manequim e a estação.
Ungido no vácuo, Aécio ainda gaguejou assombrado: 'antes de candidatura, a legenda precisa de agenda'
Não sem razão. O credo do PSDB transformou-se num pé de chumbo histórico. Hoje, ele pisoteia o que restou do “Estado do Bem Estar Social” europeu superpondo o “arrocho ortodoxo” ao “colapso neoliberal”. Apaga incêndio com gasolina.
As labaredas atingiram a classe média europeia da qual o tucanato um dia considerou-se uma espécie de prefiguração tropical culta, rica, bela e cheirosa.
19 milhões de desempregados, quase 120 milhões na antessala da pobreza, revestem a zona do euro das cores de uma tragédia histórica feita de despejos, suicídios, fome e pobreza, em escala e virulência desconhecidas desde a Segunda Guerra.
A candidatura Aécio é isso: o “choque de gestão” de Alckmin algemado ao descrédito planetário da bandeira dos mercados autorreguláveis. Queira ou não, sua candidatura vestirá o que lhe resta --a camisa "conservadora" [neoliberal, antinacional] impregnada da naftalina udenista.
O único plano de voo tucano é a aposta no acuamento político do PT e do governo Dilma.
Depende muito de como o outro lado reagir.
A inexistência de um contraponto estruturado de mídia progressista, por exemplo --ontem e ainda hoje menosprezado pelo governo Dilma-- amplifica o alcance dessa ressurgência udenista, cuja chance de volta ao poder pressupõe nada menos que a destruição de Lula e o engessamento de sua sucessora.
Não é único flanco de um viés de complacência cada vez mais temerário.
O PT, de certa forma, foi uma costela emancipada da efervescência cristã-progressista semeada pela Teologia da Libertação nas periferias metropolitanas. A ela associou-se a energia sindical amadurecida nos levantes metalúrgicos do ABC paulista nos anos 70 e 80.
Dessa simbiose de forte capilaridade, emergiram lideranças e quadros que iriam catalisar segmentos egressos da luta armada, intelectuais de esquerda, cristãos progressistas e democratas em geral, na construção de um novo partido socialista, libertário e ecumênico.
O êxito eleitoral fulminante associado ao revés simultâneo da ala progressista da igreja católica contribuiria para o duplo desmonte do enraizamento original pela base.
O jogo eleitoral absorvente impôs a sua lógica absolutista na vida interna do partido; o golpe "conservador" dentro da Igreja Católica reproduziria o mesmo vácuo nas periferias crescentemente colonizadas pela individualização evangélica.
A vitória de Fernando Haddad em São Paulo reabre essa página da história.
A partir de São Paulo, o PT pode - se quiser - renovar o arsenal de políticas públicas, ao mesmo tempo em que regenera a capacidade de organização pela base.
Seria uma demonstração de discernimento histórico da nova gestão petista, por exemplo, criar uma “Secretaria de Participação Cidadã”.
Sua missão democrática seria reativar a nucleação suprapartidária da cidadania em torno de questões cruciais que atormentam o cotidiano dos bairros de classe média, dos conjuntos populares e das periferias distantes.
O renascimento da participação comunitária impulsionada pelo recorte ecumênico, pavimentaria a realização de grandes conferências municipais temáticas. Nelas, delegados de classe média e de cinturões populares pactuariam suas prioridades para São Paulo.
O processo ganharia difusão através de uma rede de mídia alternativa capaz de amplificar a mais significativa virada cultural na gestão de uma metrópole no século XXI: o protagonismo democrático de seus habitantes.
A vitalidade participativa em uma das cinco maiores manchas urbanas do planeta sacudiria a vida política do país e a letargia interna do PT.
Faria mais que isso: fomentaria um anteparo de discernimento popular com densidade capaz de resistir ao golpismo “conservador” [eufemismo para “neoliberal antinacional”] que, queira ou não Aécio, deve cavalgar a sua candidatura a 2014 - se e até quando ela sobreviver à liquefação neoliberal”
FONTE: escrito por Saul Leblon no “Blog das Frases”, no site “Carta Maior” (http://cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1150). [Imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].