Por Altamiro Borges
Nesta batalha já declarada não haverá qualquer escrúpulo. A Folha não vacila em explorar o que ela chama de “aspectos constrangedores e diminutos” do badalado caso Rosemary Noronha. “Diferentemente do que ocorre em outros países, não é da tradição brasileira investigar a vida pessoal das suas figuras públicas. Pouco importaria o tipo de relacionamento que se verificou entre Lula e Rosemary. Entretanto impõem-se explicações sobre o fato de ela ter sido nomeada chefe do escritório da Presidência em São Paulo”.
O porta-voz dos golpistas
Em seu editorial de ontem (5), o jornal Folha de S.Paulo radicalizou ainda mais o discurso contra o ex-presidente Lula. Preocupada com a fragilidade dos demotucanos, a famiglia Frias substitui os partidos da direita e reafirma a sua “posição oposicionista”, como já pregou Judith Brito, executiva do Grupo Folha e ex-presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ). Na prática, a mídia "privada" antecipa a disputa sucessória de 2014. O alvo agora é a “herança maldita” de Lula; na sequência, Dilma será apedrejada!
"Desmorona o mito de estadista"
“A dimensão das propinas e dos favorecimentos já descobertos autoriza a aplicação de um termo em voga, ‘mequetrefe’, para os atos da assessora lulista. Mas não é mequetrefe, afinal, o cargo de presidente da República. E não é inédito, muito ao contrário, o estilo de aparelhamento imposto pelo lulismo ao governo federal... Desmorona, aos poucos, o mito de estadista de que se quis cercar um governante que pôs o Estado a serviço de interesses partidários”, esbraveja o jornal da famiglia Frias.
Apesar de não existir qualquer prova de irregularidade contra o ex-presidente, a Folha insinua que Lula também participou do esquema de corrupção e tráfico de influência. Na mesma edição de ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, desmentiu esta versão. Ele explicou que Rosemary Noronha “tinha contatos ilegais e relações indevidas, mas não participava do núcleo central da quadrilha. Ao contrário, ela foi escanteada pelos seus membros”. Sua explicação, porém, de nada valeu para o “tribunal” da famiglia Frias.
O jornal insiste em atacar Lula e a sua “herança maldita” – título do editorial. Mas ninguém deveria esquecer é da “herança maldita” da Folha. Como ela apoiou o golpe militar de 1964 e o setor linha dura dos generais. Como cedeu as suas peruas para transportar presos políticos. Como se contrapôs aos direitos dos trabalhadores na Constituinte de 1988. Como ajudou a eleger FHC e serviu de porta-voz do desmonte neoliberal durante o seu reinado. Como escondeu os “aspectos constrangedores e diminutos” do grão-tucano.
A Folha não está preocupada com a “ética e a moral”. Seu discurso udenista e moralista só engana os mais ingênuos. A famiglia Frias sempre foi e continua sendo golpista. Ela não visa corrigir supostos desvios, mas sim derrotar o que ela chama de lulopetismo. Expressão da elite corrupta e imoral, ela sonha com a volta ao poder do bloco conservador e neoliberal. Pena que a presidenta Dilma ainda insista em alimentar cobras, inclusive com publicidade oficial e com a presença na festança dos 90 anos deste jornal golpista.