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Numa entrevista chapa-branca à Folha desta segunda-feira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a manifestar a sua impaciência com os rumos políticos do país e pediu pressa a Aécio Neves, o cambaleante presidenciável do PSDB. “Ele deve se lançar já ao Planalto”, afirmou. Para FHC, é urgente afiar o discurso tucano. “Eu acho que nossos políticos precisam voltar a tomar partido em bola dividida. A busca das coisas consensuais mata a política”, afirmou, numa aparente crítica às mineirices do senador mineiro.
O grão-tucano, que até andou encenando um “namorico” com a atual presidenta – no que foi correspondido –, defende uma postura mais incisiva da oposição e não poupa ninguém. Para ele, Dilma não tem “um brilho grande na administração. Não conseguiu ainda organizar. Não se sabe nem o nome dos ministros. Está uma coisa meio opaca ainda”. Já o ex-presidente Lula seria complacente com a corrupção. “Nunca vou negar que Lula deu algumas contribuições importantes ao Brasil. Mas houve uma regressão patrimonialista”.
O teatrinho do grão-tucano
Um trecho da entrevista, feita pelo jornalista Fernando Rodrigues, é quase um roteiro para a campanha do PSDB em 2014. Deixa implícito que há fraturas no ninho tucano e que o discurso não está afiado. Revela, ainda, uma certa desconfiança com a candidatura de Aécio Neves, que continua cambaleante no interior da sigla. No seu tom professoral, o "príncipe da Sorbonne", rejeitado nas urnas e escanteado pela própria legenda nas últimas campanhas, dá conselhos ao presidenciável da sigla. Vale conferir:
Aécio deveria, talvez, acelerar a busca do discurso ideal para, eventualmente, ser candidato? Acha que já está na hora?
Acho, acho.
O que Aécio deveria fazer objetivamente?
Assumir mais publicamente posições.
Por exemplo?
Por exemplo, agora mesmo, comentar o que está acontecendo no dia a dia.
Esse escândalo atual de tráfico de influência?
Escândalo não é o campo favorável. Mas pega uma coisa concreta. Pega saúde e vai lá em cima. Ou veja a questão da energia. O que aconteceu com a Petrobras. Tomar posição.
Ele tem falado às vezes no Congresso...
Tem falado, tem falado.
É o suficiente?
Não, porque o Congresso hoje, a tribuna nossa é fraca.
Ele deveria fazer o quê? Viajar?
Eu acho que sim. Falar, fazer conferência, viajar. Eu acho que nossos políticos precisam, cada vez mais, voltar a tomar partido, em bola dividida. A busca das coisas consensuais mata a política. É bola dividida, entrar na bola dividida, e discutir. E mesmo se for o caso de ser candidato, que diga que é.
Podia dizer agora, não tem problema?
Eu acho que a ideia de que você precisa esperar, porque vai ser desgastado, não adianta. O que tiver que ser desgastado, vai ser. Acho que ele deve assumir. Está bom, o Serra também quer ser? Vai ser. Briguem. Pode ser que eu esteja insistindo num tema que não precisaria insistir tanto. Mas acho que o povo cansou da mesmice. As pessoas têm muito cuidado, até mesmo de criticar. Não sei porque tanto cuidado.
Quando eu estava no governo ninguém tinha cuidado de me criticar, diziam o diabo, não é? Quase todo mundo tem cuidado de tudo. Por que ter cuidado? Errou, fala. Pode ser que não tenha razão ao criticar. Mas assuma uma posição. Eu acho que o PSDB tem que assumir uma posição. Você vê os discursos parlamentares, dá até pena. Porque alguns são muito bons, está lá dito, mas não ecoou. Então tem que buscar um caminho de ecoar isso. Política é gesto. Política é um pouco de teatro. Não é só. Mas é um pouco. Vou reiterar o que eu digo sempre: não haveria mensalão se não houvesse Roberto Jefferson [presidente nacional do PTB, que delatou o esquema]. Não haveria. Ele teatralizou. Então, eu acho que precisamos de atores nesse sentido. Não na falsidade.
Faltou isso ao PSDB?
A todos. Não falta ao Lula, que sabe se expressar. E inventa uma história. Pode não ser verdadeira. Muitas vezes não é. Mas ele faz algumas coisas para convencer. Precisa disso. Precisa de entusiasmo. Você não pode ser água morna. Tem que ter entusiasmo. Você tem que ter indignação, irritação.
O marqueteiro do PT disse que o ex-presidente Lula pode ser um bom candidato a governador de São Paulo. O que o sr. acha?
Eu acho que o presidente Lula nunca vai ser o número dois em nada. Ele não aceita. Não é o estilo dele. Ele quer mandar em tudo.
Está em risco a hegemonia do PSDB em São Paulo?
Em risco sempre está. Tem que abrir os olhos. Mas temos condições. Nesta eleição [municipal de 2012], com tudo que foi feito sobre o Serra ele teve 40 e poucos por cento dos votos. Na capital.