Ex-presidente nega solidariedade a parlamentares e minimiza crise
Chico Otavio
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi senador entre 1983 e 1992, negou ontem solidariedade ao Congresso Nacional na queda de braço com o Supremo Tribunal Federal (STF), causada pela cassação dos deputados mensaleiros João Paulo Cunha (PT), Valdemar Costa Neto (PR) e Pedro Henry (PP). Embora reconheça que o Congresso "talvez tenha razão" nas queixas sobre a interferência da Corte em questões legislativas, Fernando Henrique disse que os parlamentares não estão cumprindo o papel institucional de fiscalizar, deixando um vazio de poder.
- Infelizmente, o Congresso abdicou de ser um poder para apoiar medidas. Às vezes estão certas, às vezes não. O problema é que o Congresso deixou um vazio, não está exercendo poder de fiscalização. Veja o caso desta CPI (do Cachoeira). Não estou de acordo com o que houve. Não tenho por que me solidarizar com erro, mesmo do meu partido - declarou.
Homenageado em almoço que juntou antigos colaboradores de seu governo na Associação Comercial do Rio, Fernando Henrique rejeitou a ideia de crise entre Poderes:
- É falsa a crise. Não há crise nenhuma. É questão de interpretação. Uma vez que o STF toma uma decisão de suspender os direitos políticos, não há como a pessoa exercê-los. Entendo que o STF informa ao Congresso, que toma a decisão formal de levar adiante.
Acusado pouco antes pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de torcer contra o primeiro governo petista, iniciado em 2003, para se aproveitar do fracasso e retomar o poder, Fernando Henrique ironizou a declaração do oponente. Disse que Lula "está perturbado por outras razões".
- Imagina se eu iria torcer para ele ganhar. Eu torci para o Serra ganhar. Eu tinha medo que ele fosse destruir tudo que eu fiz - sustentou.
Ao defender a necessidade de uma sociedade decente, o ex-presidente citou o julgamento do mensalão. Para ele, o processo, embora envolva "peixes graúdos", não deveria parar o país.
- É positivo o que tem acontecido. Por outro lado, preocupante. Se transforma em um fato insólito um julgamento que deveria ser rotina.
FH criticou ainda a visita de solidariedade do governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), feita a Lula na terça-feira:
- Lamento. A gente tem que separar as coisas. O governador tem que ser grato, mas a solidariedade não é pelo o que ele fez por Alagoas
Fonte: O Globo