Chegamos ao Natal, com suas luzes e cores, a correria das compras, a profusão de mensagens calorosas, a contagem regressiva para o novo ano. Mesmo apropriada pelo capitalismo como uma grande oportunidade para a circulação de mercadorias, a data maior do cristianismo transbordou sobre todo o ocidente como hora de confraternização e generosidade. A avareza cede espaço à generosidade, os rancores se abrandam, os olhos estão mais abertos ao Outro. O Correio da última quinta-feira contou a história de uma mãe cujo maior desejo é uma manta para agasalhar a filha que muitas vezes leva ao hospital de madrugada. Cada um tem seu pedido de Natal, modesto ou superlativo.
O Brasil, como ser coletivo, teria muitos. Impossível traduzir os desejos de 200 milhões de pessoas, mas, no plano das instituições políticas, que a todos devem representar, algumas demandas são óbvias, estão na agenda. O Brasil precisa, primeiramente, conservar e fortalecer conquistas importantes: a democracia, a estabilidade da moeda, a gestão pública responsável, os avanços sociais que reduziram a pobreza extrema e a vergonhosa desigualdade e o novo papel que conquistou no mundo. Para preservar e consolidar a democracia, o momento pede uma reconciliação entre os poderes, que são independentes, mas não podem ser concorrentes. Já o que falta, não pode ser pedido a Papai Noel. Terá que ser feito por todos, mas a data é propícia ao inventário de intenções. É preciso controlar a corrupção, palavra tão falada em 2012. O mal resiste como erva daninha no gramado, mas houve avanços importantes. Foram criadas ou fortalecidas instituições como a CGU, o Ministério Público, o TCU, a Polícia Federal, a Comissão de Ética Pública. Elas absorveram muito do papel fiscalizador do Congresso, que precisa se reposicionar quanto ao tema. É hora também de recosturar o tecido federativo, que resistiu a tantos solavancos nestes 190 anos de independência. Mas nesse momento há conflitos entre os estados e entre estes e a União. Há uma guerra fiscal em torno do ICMS e segue a disputa por royalties de um petróleo que ainda está no fundo do mar. A União fez desonerações significativas que certamente ajudaram no enfrentamento da crise mas, com isso, achatou as receitas dos estados, que agora pedem compensação. Um primeiro aceno federal foi feito com a mudança no indexador das dívidas estaduais, uma velha demanda. A reforma política seria um grande presente, mas não cairá do céu. Tem que ser feita. E vem aí o terceiro ano do mandato presidencial, o da primeira mulher presidente, uma conquista democrática. É no terceiro ano que os governos mais podem realizar. O primeiro foi de arrumar a casa, o segundo do pleito municipal e o quarto será de sucessão. Para isso, nossos partidos, todos eles, poderiam conter a visível ansiedade eleitoral para que os poderes trabalhassem com mais foco. O Executivo na gestão, buscando o crescimento que não houve nos dois últimos anos. O Legislativo em suas tarefas, reduzindo seus deficits. E o Judiciário, aproveitando seu momento de prestígio para democratizar o acesso à Justiça em todas as instâncias, para além da condenação de gente poderosa pelo Supremo.
Campos não é candidato. Um fato importante para a conjuntura de 2013: em entrevista à revista Época, o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, afirmou taxativamente que apoiará a reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014. Ou seja, não será candidato. Resumidamente, ele diz que o mais importante agora é garantir as conquistas do s últimos 20 anos (legados de FHC e Lula), enfrentar as ameaças que vêm de fora e ajudar a presidente em 2013, na busca por novos avanços econômicos e sociais. Perguntado se estará com Dilma, foi claro: "Não há dúvida. Estamos na base de sustentação. Não tenho duas posições. Quem defende a presidenta Dilma neste momento deseja cuidar em 2013 do Brasil. Quem pode cuidar do Brasil é Dilma. Nós temos de ajudá-la a ganhar 2013. Ganhando 2013, Dilma ganhará em 2014. Então a forma de ajudar Dilma é dizer: em 2014 todos nós vamos estar com Dilma". Perguntei ontem ao governador, por telefone, se estava retirando sua candidatura. "E eu algum dia a coloquei". Ele acrescenta que lá adiante, no pós-Dilma, se as circunstâncias pedirem, poderá examinar uma candidatura. Naturalmente este anúncio fortalece a coalizão dilmista e a especulação sobre um acordo pelo qual o PT apoiaria Eduardo em 2018. Mas, na política, acordos de tão longo prazo são temerários.
Brasil e Brics. Jim O"Neil, presidente do banco Goldman Sachs, criou em 2002 o termo Bric, que mais tarde foi instituído como grupo, reunindo os emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Surgiram os Brics. Eles estiveram na crista da onda entre 2008 e 2010, quando suas economias cresceram espetacularmente enquanto outras enfrentavam crises. A partir de 2011, eles também perderam gás e falou-se no fim dos Brics. Em seu último artigo, O"Neill foi muito otimista em relação ao grupo e especialmente ao Brasil: "Acho que o Brasil reagirá mais do que muitos hoje projetam, principalmente porque o grau de decepção do terceiro trimestre foi exagerado por uma provável desaceleração temporária no setor financeiro. Acredito que o Brasil crescerá perto de 4% em 2013, e eu não descartaria um crescimento maior". Tomara que acerte de novo.
Dissidente. O PMDB assegurou o apoio do PSDB a seu candidato a presidente do Senado, Renan Calheiros, quando se juntaram para derrotar o relator petista da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha. Em compensação, o candidato a presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, não deve ter o voto do petista, que continua magoado com gregos e troianos que o derrotaram.
Fonte: Correio Braziliense