Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:
O estudante André Baliera, de 27 anos, foi agredido a chutes e socos, na noite desta segunda (3), em Pinheiros, na capital paulista. Após ter sido provocado por dois jovens que passavam de carro e devolver os insultos, acabou espancado. A polícia, acionada para interromper a pancadaria, levou Bruno Portieri e Diego Mosca ao 91º Distrito Policial, para serem autuados por tentativa de homicídio. Testemunhas afirmam que o ataque teve motivação homofóbica. O jovem agredido é homossexual.
Assisti a reportagens das TVs Bandeirantes e Record que trouxeram essa história e separei frases dos agressores, que foram detidos:
“Foi agredido, apanhou. Apanhou de besta. Se tivesse seguido o caminho dele não teria apanhado.”
“Foi uma agressão normal, como qualquer tipo de outra agressão que acontece no trânsito de São Paulo.”
“Ele mexeu com as pessoas erradas, no lugar errado, no momento errado. E foi agredido. Aprende, nunca mais mexe com ninguém na vida.”
Em suma, total falta de arrependimento pelo que foi feito. Muita empáfia e arrogância por conta da classe social. E uma percepção equivocada e perigosa do que seja o trânsito da cidade.
Gostaria de complementar com frases citadas na página de Bruno no Facebook:
“No meio da batalha, ele não tem tempo para pensar em golpes do inimigo – então usa seu instinto e obedece a sua mente (…) Um HOMEM não se deixa assustar, quando busca o que precisa, ele assume por inteiro sua LENDA PESSOAL – pois a razão de sua vida vai cumprir o seu DESTINO!!!” (sic)
(Amigos da sociologia, dá para fazer várias teses de doutorado partindo apenas dessas frases, não?)
Ofender e bater em “bicha” pode no Brasil. Isso quando a culpa não recai sobre a própria vítima. Ou, como já comentaram os leitores deste blog:
“Afinal de contas, por que essa boiolagem não entende o seu lugar?”
“Tem gente que vai com violência exagerada, mas os gays também pedem, né?”
“Essa viadagem, se quiser fazer as nojeiras deles, que façam longe da nossa vista.”
“Isso é contra a lei de Deus. É pecado e deve ser combatido.”
Na prática, muitos dos envolvidos em casos de violência contra homossexuais – como os dois usuários de suplementos vitamínicos supracitados – apenas colocaram em prática o que devem ter ouvido a vida inteira: “bichas” são a corja da sociedade e agem para corromper os nossos valores morais e tornar a vida dos “cidadãos pagadores de impostos” um inferno. Seres descartáveis, que vivem na penumbra e nos ameaçam com sua existência, que não se encaixa nos padrões estabelecidos pelos “homens de bem”. Pessoas que parecem comigo, trabalham no mesmo local que eu, tem o mesmo gosto para bares e viagens, vestem-se como eu e, portanto, têm que ser destruídos. Afinal de contas, se somos tão parecidos, como posso gostar de mulher e eles de homem?
Como já disse aqui, não são as mãos de líderes religiosos segurando a faca, o revólver ou a lâmpada fluorescente que atacam homossexuais nas grandes cidades brasileiras. O Congresso Nacional, por sua vez, nunca ordenou a caçada a homossexuais, que insistem em reclamar pelos mesmos direitos que os heterossexuais. Aliás, volte lá e veja se há uma única impressão digital de homens de bem que moram na capital paulista entre os corpos de gays e lésbicas mortos por amaram quem quiseram amar. Ninguém é culpado. Todos são culpados.
A sociedade tem uma parcela grande de responsabilidade em atos como esse, da mesma forma que tem com os jovens que se tornam soldados do tráfico por falta de opções, fugindo da violência do Estado e do nosso desprezo. A culpa é deles. Mas também é nossa.
Por fim, como aqui já disse Claudio Picazio, psicólogo, especialista em sexualidade e violência doméstica, o homem precisa começar a entender que tem direito ao afeto, às emoções, a sentir. Passar a ser homem e não macho. O homem é programado, desde pequeno, para que seja agressivo. Raramente a ele é dado o direito que considere normal oferecer carinho e afeto para outro amigo em público. Manifestar seus sentimentos é coisa de mina. Ou, pior, é coisa de bicha. E bicha tem que ser exterminada pois subverte a figura que se espera do homem.
Bruno, Diego, já passou da hora de vocês saírem da sua zona de conforto e começarem a viver sem medo. É duro ouvir isso, mas o mundo não gira em torno dos pênis de vocês. Agora vai depender da competência do advogado caro que suas famílias irão contratar, mas – sinceramente – espero que fiquem o tempo suficiente longe do convívio social para poderem pensar e refletir bastante a respeito.
Assisti a reportagens das TVs Bandeirantes e Record que trouxeram essa história e separei frases dos agressores, que foram detidos:
“Foi agredido, apanhou. Apanhou de besta. Se tivesse seguido o caminho dele não teria apanhado.”
“Foi uma agressão normal, como qualquer tipo de outra agressão que acontece no trânsito de São Paulo.”
“Ele mexeu com as pessoas erradas, no lugar errado, no momento errado. E foi agredido. Aprende, nunca mais mexe com ninguém na vida.”
Em suma, total falta de arrependimento pelo que foi feito. Muita empáfia e arrogância por conta da classe social. E uma percepção equivocada e perigosa do que seja o trânsito da cidade.
Gostaria de complementar com frases citadas na página de Bruno no Facebook:
“No meio da batalha, ele não tem tempo para pensar em golpes do inimigo – então usa seu instinto e obedece a sua mente (…) Um HOMEM não se deixa assustar, quando busca o que precisa, ele assume por inteiro sua LENDA PESSOAL – pois a razão de sua vida vai cumprir o seu DESTINO!!!” (sic)
(Amigos da sociologia, dá para fazer várias teses de doutorado partindo apenas dessas frases, não?)
Ofender e bater em “bicha” pode no Brasil. Isso quando a culpa não recai sobre a própria vítima. Ou, como já comentaram os leitores deste blog:
“Afinal de contas, por que essa boiolagem não entende o seu lugar?”
“Tem gente que vai com violência exagerada, mas os gays também pedem, né?”
“Essa viadagem, se quiser fazer as nojeiras deles, que façam longe da nossa vista.”
“Isso é contra a lei de Deus. É pecado e deve ser combatido.”
Na prática, muitos dos envolvidos em casos de violência contra homossexuais – como os dois usuários de suplementos vitamínicos supracitados – apenas colocaram em prática o que devem ter ouvido a vida inteira: “bichas” são a corja da sociedade e agem para corromper os nossos valores morais e tornar a vida dos “cidadãos pagadores de impostos” um inferno. Seres descartáveis, que vivem na penumbra e nos ameaçam com sua existência, que não se encaixa nos padrões estabelecidos pelos “homens de bem”. Pessoas que parecem comigo, trabalham no mesmo local que eu, tem o mesmo gosto para bares e viagens, vestem-se como eu e, portanto, têm que ser destruídos. Afinal de contas, se somos tão parecidos, como posso gostar de mulher e eles de homem?
Como já disse aqui, não são as mãos de líderes religiosos segurando a faca, o revólver ou a lâmpada fluorescente que atacam homossexuais nas grandes cidades brasileiras. O Congresso Nacional, por sua vez, nunca ordenou a caçada a homossexuais, que insistem em reclamar pelos mesmos direitos que os heterossexuais. Aliás, volte lá e veja se há uma única impressão digital de homens de bem que moram na capital paulista entre os corpos de gays e lésbicas mortos por amaram quem quiseram amar. Ninguém é culpado. Todos são culpados.
A sociedade tem uma parcela grande de responsabilidade em atos como esse, da mesma forma que tem com os jovens que se tornam soldados do tráfico por falta de opções, fugindo da violência do Estado e do nosso desprezo. A culpa é deles. Mas também é nossa.
Por fim, como aqui já disse Claudio Picazio, psicólogo, especialista em sexualidade e violência doméstica, o homem precisa começar a entender que tem direito ao afeto, às emoções, a sentir. Passar a ser homem e não macho. O homem é programado, desde pequeno, para que seja agressivo. Raramente a ele é dado o direito que considere normal oferecer carinho e afeto para outro amigo em público. Manifestar seus sentimentos é coisa de mina. Ou, pior, é coisa de bicha. E bicha tem que ser exterminada pois subverte a figura que se espera do homem.
Bruno, Diego, já passou da hora de vocês saírem da sua zona de conforto e começarem a viver sem medo. É duro ouvir isso, mas o mundo não gira em torno dos pênis de vocês. Agora vai depender da competência do advogado caro que suas famílias irão contratar, mas – sinceramente – espero que fiquem o tempo suficiente longe do convívio social para poderem pensar e refletir bastante a respeito.