A 'PRIMAVERA ÁRABE' DEVERIA SER CHAMADA DE 'DESTRUIÇÃO ÁRABE'

Posted on
  • segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
  • by
  • Editor
  • in
  • Entrevista com Damaskino Mansour (Arcebispo da Igreja Ortodoxa Síria no Brasil), em Damasco, Síria

    “Arcebispo da Igreja Ortodoxa Síria no Brasil diz que é um erro o apoio estrangeiro aos grupos de oposição armados no país árabe.

    A comunidade cristã da Síria, cerca de 10% da população do país, se mostra preocupada com a guerra civil no país árabe.

    Um de seus principais líderes, o arcebispo do Brasil, Damaskino Mansour, esteve em Damasco este mês após a morte do patriarca da comunidade, Inácio 4º.

    Nascido em Damasco há 63 anos e morador de São Paulo desde 1992, Mansour chegou a ser um dos mais cotados como sucessor.

    Na Síria, a comunidade cristã sempre teve boa convivência com o regime de Bashar Assad, mas há o temor, atualmente, de que sua substituição por um governo permeado por radicais islâmicos resulte em mais perseguição religiosa.

    Enquanto conversava com a “Folha” no escritório da catedral de Santa Maria, os bombardeios eram constantemente audíveis nos bairros adjacentes à Cidade Velha da capital síria.

    "Cada explosão me dói na alma", confessa o líder religioso, que sonha com o fim da violência e que evita se pronunciar sobre temas políticos devido ao momento delicado que as autoridades da Síria vivem.

    -Folha - Como está Damasco?

    Damaskino Mansour - Desde que cheguei, não tive problema algum, mas é perceptível que a situação está muito instável. Nossa esperança é que o mal tenha limites e que a bondade acabe por vencer esta batalha. Não perdemos a esperança.

    -Desde o início da revolta contra Bashar Assad, a Igreja vem se mantendo neutra. Como o senhor vê a situação depois de 21 meses de instabilidade na Síria?

    Sabemos que a causa principal do problema do país é a ingerência estrangeira, e creio que esse seja um grande erro da parte dos países que apoiam a oposição armada.

    Os combatentes que vêm de outros países matam em nome de Deus, mas seu Deus é um Deus da morte, e não da vida.

    -Qual será o maior desafio para o próximo Patriarca?

    Enfrentar a nova situação do Oriente Médio; as coisas mudaram demais em período muito curto.

    -Em que posição ficam os cristãos depois da chamada ‘Primavera Árabe’ em países como a Tunísia, Líbia, Egito e Síria?

    Isso a que a imprensa internacional denomina "Primavera Árabe", em minha opinião, deveria começar a ser chamado, claramente, de "destruição árabe".

    A primavera é uma estação do ano que traz vida, mas o que vemos ao nosso redor é morte e destruição.

    Quanto aos cristãos, embora sejamos minoria nessas sociedades, historicamente desempenhamos papel essencial em países como a Síria, e sofremos como os demais cidadãos. Não se pode fazer distinções em um momento de dor para todos.

    -O exemplo do vizinho Iraque, onde ocorreu um êxodo maciço de cristãos, ainda é bastante recente. Será que a comunidade não se sente especialmente perseguida? Não se vê como alvo de grupos extremistas?

    Tudo o que está acontecendo me traz à lembrança a experiência iraquiana, mas, como já disse, o sofrimento é de todo o povo, e não exclusivo dos cristãos. Não podemos nos diferenciar em sociedades das quais somos apenas mais uma parte, como qualquer das demais religiões.

    Convivemos há milhares de anos, e todos sofremos essa pressão que vem de fora, de terroristas sem coração que chegam à Síria apenas para matar. Aqueles que matam não distinguem os cristãos dos demais, matam os habitantes da Síria, matam sírios.

    -O senhor chegou a Damasco há poucos dias. Já se acostumou ao barulho das explosões?

    Ninguém se acostuma a isso, e elas me causam muita dor. Antes, havia paz e segurança aqui, e agora estamos em situação difícil. Tenho de confessar que isso me causa medo, mas esperamos que não seja tarde demais para uma solução.

    -Como sua comunidade no Brasil acompanha os acontecimentos aqui?

    Os ortodoxos formam uma comunidade importante no Brasil. Temos 150 anos de tradição, e nossa história no Brasil começou devido à forte emigração de todo o Oriente Médio para lá no século 19. Hoje, a maioria dos emigrantes tem parentes em Damasco e, especialmente, em Aleppo e em Homs. Para eles, é sofrimento diário, porque as notícias não param de surgir e eles veem como as coisas estão. É uma grande pena para todos.”

    FONTE: entrevista com Damaskino Mansour conduzida por Mikel Ayestaran, em colaboração para a “Folha”, em Damasco, Síria. Publicado na “Folha de São Paulo” com tradução de Paulo Migliacci  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/85006-a-primavera-arabe-deveria-ser-chamada-de-destruicao-arabe.shtml). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
     
    Copyright (c) 2013 Blogger templates by Bloggermint
    Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...