Por Chico Bicudo, em seu blog:
Sinceramente, não consigo aceitar que o que acontece nos territórios palestinos seja uma guerra, com "ataques e exageros dos dois lados". Será que foram mesmo 12 mil foguetes com grande poder de destruição lançados a partir da Faixa de Gaza nos últimos tempos, como se costuma afirmar por aí - e quase nenhum deles caiu de fato em território israelense? Não se trata então de poder elevado de defesa, mas de Estado quase imbatível, invulnerável, absolutamente bem protegido. Por que os foguetes palestinos são tão desorientados - e as bombas israelenses, tão certeiras, "cirúrgicas"?
Reforço esse aspecto porque, me parece, trata-se de um discurso muito semelhante ao que se via e ouvia na época da ditadura brasileira: era uma "guerra", o "terrorista" morria em conflito com as "forças da ordem", por coincidência sempre com vários e precisos tiros na cabeça, no peito... enquanto isso, o assassino estatal saía ileso, sem um arranhão ou ferimento sequer. Vivíamos os tempos do "enfrentamento total com os subversivos, fortemente armados, muito bem treinados, perigosos", mas o "tiro preciso e fatal" era "competência" de um lado só - o da repressão. Apenas para retomar o foco e citar a "batalha" mais recente no Oriente Médio - em oito dias, foram registradas (oficialmente, reconhecidas até mesmo por Israel) 153 mortes - 148 palestinos e 5 israelenses. É uma guerra? Para pensar.
É importante também contextualizar e relembrar a origem do conflito palestino-israelense - a Partilha da Palestina, definida em 1947 pela ONU e que determina a existência de dois Estados livres, independentes e soberanos, jamais foi respeitada por Israel, que desde então age apenas e tão somente, e sistematicamente, institucionalmente, para eliminar os palestinos (ver mapas acima). Será que a gente consegue de fato avaliar o que é viver num território ocupado, submetido a condições animalescas de vida? Fome, miséria, falta de água e de medicamentos, barracas de lona e toda sorte de privações impostas pelo bloqueio israelense?
O nazismo alemão e o apartheid sul-africano, no século XX, foram duas das experiências mais terríveis da História da humanidade, quando flertamos muito de perto com a bestialidade e a barbárie. Pois o Estado de Israel, com apoio de boa parte da população do país (há admiráveis fraturas e resistências, mas a sustentação é também inegável), consegue reunir num só elementos dos dois projetos citados. Trata-se de um Estado militarista, expansionista, autoritário, nacionalista (no pior sentido da palavra), que persegue e extermina sistematicamente o povo palestino, segregado e condenado a viver em guetos. E a dita comunidade internacional, Estados Unidos à frente, é conivente com o nazi-apartheid israelense.
Quando há um Estado terrorista e opressor em ação (e a política da direita nacionalista no poder em Israel é de nazi-apartheid), a resistência (inclusive armada) é consequência não só natural, mas desejável, uma forma de ação e luta política considerada inclusive pela carta de fundação da ONU. Foi assim que muitos judeus dignamente, legitimamente resistiram ao Holocausto nazista. Sim, há grupos extremistas que atuam nessas franjas e brechas (o Hamas é um deles), e as mortes de israelenses obviamente devem ser lamentadas e recusadas também. Sim, há grupos (minoritários) em Israel que não apoiam o genocídio, que reconhecem os direitos dos palestinos e são favoráveis a um acordo (verdadeiro) de paz. Também penso e defendo que os dois povos devem poder construir suas nações, em amplo sentido - e a estratégia razoável para alcançar esse cenário é a negociação política. Mas, novamente, é preciso considerar o pecado original. E a atuação unilateral e beligerante, sempre, de um Estado.
Trago para cá as reflexões do linguista estadunidense Noam Chomsky: "Israel usa sofisticados jatos e navios de guerra para bombardear densamente campos de refugiados, escolas lotadas, blocos de apartamentos, mesquitas e favelas, atacando uma população que não tem força aérea, não tem Marinha, não tem armas pesadas, nem unidades de artilharia, nem armamento mecanizado, nem comando de controle e sequer um Exército... E ainda chamam isso de guerra. Isso não é guerra, é um genocídio".
Sinceramente, não consigo aceitar que o que acontece nos territórios palestinos seja uma guerra, com "ataques e exageros dos dois lados". Será que foram mesmo 12 mil foguetes com grande poder de destruição lançados a partir da Faixa de Gaza nos últimos tempos, como se costuma afirmar por aí - e quase nenhum deles caiu de fato em território israelense? Não se trata então de poder elevado de defesa, mas de Estado quase imbatível, invulnerável, absolutamente bem protegido. Por que os foguetes palestinos são tão desorientados - e as bombas israelenses, tão certeiras, "cirúrgicas"?
Reforço esse aspecto porque, me parece, trata-se de um discurso muito semelhante ao que se via e ouvia na época da ditadura brasileira: era uma "guerra", o "terrorista" morria em conflito com as "forças da ordem", por coincidência sempre com vários e precisos tiros na cabeça, no peito... enquanto isso, o assassino estatal saía ileso, sem um arranhão ou ferimento sequer. Vivíamos os tempos do "enfrentamento total com os subversivos, fortemente armados, muito bem treinados, perigosos", mas o "tiro preciso e fatal" era "competência" de um lado só - o da repressão. Apenas para retomar o foco e citar a "batalha" mais recente no Oriente Médio - em oito dias, foram registradas (oficialmente, reconhecidas até mesmo por Israel) 153 mortes - 148 palestinos e 5 israelenses. É uma guerra? Para pensar.
É importante também contextualizar e relembrar a origem do conflito palestino-israelense - a Partilha da Palestina, definida em 1947 pela ONU e que determina a existência de dois Estados livres, independentes e soberanos, jamais foi respeitada por Israel, que desde então age apenas e tão somente, e sistematicamente, institucionalmente, para eliminar os palestinos (ver mapas acima). Será que a gente consegue de fato avaliar o que é viver num território ocupado, submetido a condições animalescas de vida? Fome, miséria, falta de água e de medicamentos, barracas de lona e toda sorte de privações impostas pelo bloqueio israelense?
O nazismo alemão e o apartheid sul-africano, no século XX, foram duas das experiências mais terríveis da História da humanidade, quando flertamos muito de perto com a bestialidade e a barbárie. Pois o Estado de Israel, com apoio de boa parte da população do país (há admiráveis fraturas e resistências, mas a sustentação é também inegável), consegue reunir num só elementos dos dois projetos citados. Trata-se de um Estado militarista, expansionista, autoritário, nacionalista (no pior sentido da palavra), que persegue e extermina sistematicamente o povo palestino, segregado e condenado a viver em guetos. E a dita comunidade internacional, Estados Unidos à frente, é conivente com o nazi-apartheid israelense.
Quando há um Estado terrorista e opressor em ação (e a política da direita nacionalista no poder em Israel é de nazi-apartheid), a resistência (inclusive armada) é consequência não só natural, mas desejável, uma forma de ação e luta política considerada inclusive pela carta de fundação da ONU. Foi assim que muitos judeus dignamente, legitimamente resistiram ao Holocausto nazista. Sim, há grupos extremistas que atuam nessas franjas e brechas (o Hamas é um deles), e as mortes de israelenses obviamente devem ser lamentadas e recusadas também. Sim, há grupos (minoritários) em Israel que não apoiam o genocídio, que reconhecem os direitos dos palestinos e são favoráveis a um acordo (verdadeiro) de paz. Também penso e defendo que os dois povos devem poder construir suas nações, em amplo sentido - e a estratégia razoável para alcançar esse cenário é a negociação política. Mas, novamente, é preciso considerar o pecado original. E a atuação unilateral e beligerante, sempre, de um Estado.
Trago para cá as reflexões do linguista estadunidense Noam Chomsky: "Israel usa sofisticados jatos e navios de guerra para bombardear densamente campos de refugiados, escolas lotadas, blocos de apartamentos, mesquitas e favelas, atacando uma população que não tem força aérea, não tem Marinha, não tem armas pesadas, nem unidades de artilharia, nem armamento mecanizado, nem comando de controle e sequer um Exército... E ainda chamam isso de guerra. Isso não é guerra, é um genocídio".