Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Taxistas, comerciantes e jornalistas têm uma coisa em comum: não gostam de feriados prolongados. Cai o movimento, as ruas (com a exceção natalina da 25 de Março), e os gabinetes ficam vazios, aumenta a falta de novidades no mercado da notícia nossa de cada dia.
Em qualquer plataforma da nova ou da velha mídia, jornalismo é, basicamente, apurar, contar e comentar fatos novos que possam interessar à freguesia e influenciar as suas vidas.
Leio diariamente, logo cedo, os três jornalões nacionais que restam em busca de assuntos capazes de me surpreender e também aos meus leitores, mas com o advento da internet eles me parecem cada dia mais velhos, trazendo acontecimentos já sabidos de véspera nas telas dos computadores.
Às vezes, tenho a impressão de que só eu ainda leio jornal, assim como insisto em usar um negócio antigo chamado talão de cheque e um celular que só serve para falar e ouvir.
Se não fossem as guerras e os crimes o que seria dos mancheteiros?
Nesta segunda-feira morta entre um feriado e outro, por exemplo, somos informados pela imprensa de papel que as pessoas continuam se matando no Oriente Médio.
Ataques aéreos israelenses a um prédio na Faixa de Gaza deixaram mais 26 palestinos mortos, entre eles 12 membros de uma mesma família, incluindo mulheres e crianças. Quem ainda se comove com isso?
Na mídia eletrônica, ficamos sabendo que na guerra paulista entre a PM e o PCC mais 10 pessoas morreram e outras nove ficaram feridas nesta madrugada, apesar do feriadão, que não deu trégua à violência. Isto chega a ser uma novidade?
A grande novidade seria se a violência cessasse e não fosse assassinado ninguém de um dia para o outro no Oriente Médio e em São Paulo...
Na tela e no papel, como já se esperava há várias semanas, o Palmeiras finalmente caiu para a segunda divisão. E começa o julgamento do Caso Bruno; a Parada Gay, maior sucesso, levou uma multidão às ruas do Rio; Dilma segue em sua viagem pela Espanha e o Brasil foi heptacampeão mundial no futebol de salão. E daí? O que isso muda na minha vida?, pode-se indagar o caro leitor.
Não é que falte assunto, o eterno drama dos escribas cotidianos - assunto tem até demais, para todos os gostos.
O desafio é encontrar entre eles algum que de fato seja novo, com força para despertar a atenção pela sua relevância para a vida do leitor, e não apenas pela espetacularização cada vez maior que se faz das abobrinhas exóticas.
Num dia como hoje, sem saber o que colocar na manchete, um genial editor dos bons tempos do recém-falecido "Jornal da Tarde", de São Paulo, passou a tarefa ao leitor, depois de elencar uma série de temas:
"Escolha aqui a sua manchete".
Ao contrário do que acontece com os mancheteiros, ninguém me obriga a escrever todos os dias, mesmo quando não tenho nada de novo ou de útil a dizer, mas sinto falta disso desde que abri este Balaio.
Habituei-me ao nosso encontro diário e fico feliz em ver que os comentaristas continuaram comparecendo aqui na minha breve ausência, nem que seja só para quebrar o pau entre eles porque, afinal, a vida segue, ainda que sem grandes novidades.
Certa vez, perguntaram a um escritor famoso, cujo nome não me lembro, do que tratava seu próximo livro, e ele não gostou. "E por que preciso escrever um novo livro?".
Quando somos mais jovens, temos a ilusão de influenciar ou mesmo de mudar os acontecimentos com aquilo que escrevemos, o que é muito raro de acontecer. Alguns mais velhos, é verdade, ainda pensam assim, achando-se capazes de decidir eleições papais e destinos mundiais.
A propósito, em entrevista ao jornal espanhol "El País" publicada neste final de semana, a presidente Dilma Rousseff lembrou que se elegeu sem o apoio dos meios de comunicação (contra a vontade deles, acrescentaria eu) e que já não existe no país a figura do "formador de opinião".
Aos poucos, a realidade vai-nos dando conta da nossa irrelevância particular, posto que tudo continuará acontecendo do jeito que tem de acontecer, independentemente da nossa vontade ou opinião.
E ainda assim temos que continuar escrevendo todos os dias, não só para pagar as nossas contas, mas para contar a história do nosso tempo a quem se interessar no futuro pelo que aconteceu nestes dias cinzas de novembro de 2012.
Só para ninguém esquecer: amanhã é feriado de novo aqui em São Paulo.
Em qualquer plataforma da nova ou da velha mídia, jornalismo é, basicamente, apurar, contar e comentar fatos novos que possam interessar à freguesia e influenciar as suas vidas.
Leio diariamente, logo cedo, os três jornalões nacionais que restam em busca de assuntos capazes de me surpreender e também aos meus leitores, mas com o advento da internet eles me parecem cada dia mais velhos, trazendo acontecimentos já sabidos de véspera nas telas dos computadores.
Às vezes, tenho a impressão de que só eu ainda leio jornal, assim como insisto em usar um negócio antigo chamado talão de cheque e um celular que só serve para falar e ouvir.
Se não fossem as guerras e os crimes o que seria dos mancheteiros?
Nesta segunda-feira morta entre um feriado e outro, por exemplo, somos informados pela imprensa de papel que as pessoas continuam se matando no Oriente Médio.
Ataques aéreos israelenses a um prédio na Faixa de Gaza deixaram mais 26 palestinos mortos, entre eles 12 membros de uma mesma família, incluindo mulheres e crianças. Quem ainda se comove com isso?
Na mídia eletrônica, ficamos sabendo que na guerra paulista entre a PM e o PCC mais 10 pessoas morreram e outras nove ficaram feridas nesta madrugada, apesar do feriadão, que não deu trégua à violência. Isto chega a ser uma novidade?
A grande novidade seria se a violência cessasse e não fosse assassinado ninguém de um dia para o outro no Oriente Médio e em São Paulo...
Na tela e no papel, como já se esperava há várias semanas, o Palmeiras finalmente caiu para a segunda divisão. E começa o julgamento do Caso Bruno; a Parada Gay, maior sucesso, levou uma multidão às ruas do Rio; Dilma segue em sua viagem pela Espanha e o Brasil foi heptacampeão mundial no futebol de salão. E daí? O que isso muda na minha vida?, pode-se indagar o caro leitor.
Não é que falte assunto, o eterno drama dos escribas cotidianos - assunto tem até demais, para todos os gostos.
O desafio é encontrar entre eles algum que de fato seja novo, com força para despertar a atenção pela sua relevância para a vida do leitor, e não apenas pela espetacularização cada vez maior que se faz das abobrinhas exóticas.
Num dia como hoje, sem saber o que colocar na manchete, um genial editor dos bons tempos do recém-falecido "Jornal da Tarde", de São Paulo, passou a tarefa ao leitor, depois de elencar uma série de temas:
"Escolha aqui a sua manchete".
Ao contrário do que acontece com os mancheteiros, ninguém me obriga a escrever todos os dias, mesmo quando não tenho nada de novo ou de útil a dizer, mas sinto falta disso desde que abri este Balaio.
Habituei-me ao nosso encontro diário e fico feliz em ver que os comentaristas continuaram comparecendo aqui na minha breve ausência, nem que seja só para quebrar o pau entre eles porque, afinal, a vida segue, ainda que sem grandes novidades.
Certa vez, perguntaram a um escritor famoso, cujo nome não me lembro, do que tratava seu próximo livro, e ele não gostou. "E por que preciso escrever um novo livro?".
Quando somos mais jovens, temos a ilusão de influenciar ou mesmo de mudar os acontecimentos com aquilo que escrevemos, o que é muito raro de acontecer. Alguns mais velhos, é verdade, ainda pensam assim, achando-se capazes de decidir eleições papais e destinos mundiais.
A propósito, em entrevista ao jornal espanhol "El País" publicada neste final de semana, a presidente Dilma Rousseff lembrou que se elegeu sem o apoio dos meios de comunicação (contra a vontade deles, acrescentaria eu) e que já não existe no país a figura do "formador de opinião".
Aos poucos, a realidade vai-nos dando conta da nossa irrelevância particular, posto que tudo continuará acontecendo do jeito que tem de acontecer, independentemente da nossa vontade ou opinião.
E ainda assim temos que continuar escrevendo todos os dias, não só para pagar as nossas contas, mas para contar a história do nosso tempo a quem se interessar no futuro pelo que aconteceu nestes dias cinzas de novembro de 2012.
Só para ninguém esquecer: amanhã é feriado de novo aqui em São Paulo.