Pornografia com bilionário é fácil. E com assalariado?

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  • sábado, 10 de novembro de 2012
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  • O que acontece quando uma boa escritora feminista como a inglesa Julie Burchill, ex-menina-prodígio do “New Musical Express”, ataca o estranho fenômeno editorial desencadeado pelo sucesso de “Cinquenta tons de cinza”? Aqui (em inglês), escrevendo no “Observer” sobre Bared to you – lançado no Brasil pela editora Paralela como “Toda sua” – de Sylvia Day, uma imitação descarada que também tem vendido feito pão quente por lá, ela nos dá a resposta. Acontecem risadas, risadas restauradoras da nossa fé na inteligência do homem – e da mulher, claro. Principalmente da mulher.

    Sempre achei a ideia de obscenidades “ao gosto feminino” especialmente patética, como papel higiênico com crinolina. Mesmo antes de ler qualquer coisa do gênero, minha opinião era que esse tipo de “pornografia da mamãe”, como é conhecido de forma bastante revoltante, demonstrava um lado sádico e não masoquista da mulher moderna. Parecia ser só mais uma forma de atormentar os homens, surgida quando estávamos prontas para algo um pouco mais forte do que anúncios televisivos que os retratam como débeis-mentais incapazes de encontrar o próprio traseiro usando as duas mãos, um GPS e um são-bernardo. Escuta aqui, homenzinho – você não é um bilionário jovem e lindo que pode levar uma mulher ao orgasmo com o simples derrubar de uma abotoadura de ouro e ônix!
    No dia em que um livro sobre as delícias de ser delirantemente dominada por um homem que ganha salário mínimo se tornar um sucesso galopante, eu acreditarei que as mulheres estão de fato passando por uma onda masoquista. Mas enquanto os heróis forem, como são, uniformemente super-ricos – além de jovens e bonitos – acho que essa febre é impulsionada por desejos que não são apenas físicos, mas fiscais.
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    A propósito da edição em inglês da revista “Granta” dedicada aos jovens escritores brasileiros, que chega às livrarias neste momento, aí vão os links para os textos sobre o Brasil que o escritor mexicano Juan Pablo Villalobos vem publicando – o último sai na semana que vem – na edição online da revista: um, dois e três (em inglês). O narrador é um extraterrestre que veio ao nosso país em busca de fechar bons negócios para seu planeta em torno da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
    O resultado da brincadeira do autor de “Festa no covil” (Companhia das Letras), que mora atualmente em São Paulo, é divertido: crítico sem ser preconceituoso, um tanto fixado em clichês – o que é compreensível – sem ser tolo ou ofensivo. Definitivamente, algo parece estar começando a mudar na percepção internacional sobre a vida por aqui. Recomendo em especial o terceiro texto, um guia de sobrevivência em tópicos que contém as duas dicas literárias abaixo (as outras tratam de costumes, telenovela, sexo, língua, futebol, Giselle Bündchen etc.):
    Questões literárias: Se você for estrangeiro e quiser conversar sobre livros, deve estar bem preparado para responder adequadamente à seguinte pergunta: qual é seu escritor brasileiro preferido?
    Dica que pode salvar sua auto-estima: Não tente ler Guimarães Rosa em português.
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    Mapa da mina para autores de literatura policial em busca de um mistério inusitado: arqueologistas israelenses descobriram um poço datado de cerca de 8.500 a.C. com duas ossadas dentro, a de uma moça de 19 anos e a de um rapaz um pouco mais velho (mais detalhes aqui). Como eles foram parar lá? Acidente? Pacto suicida? Assassinato? Estamos falando do período neolítico, no fim da pré-história, e de um dos poços mais antigos de que se tem notícia, provavelmente cavado pelos primeiros agricultores do vale Jezreel. Devido à escassez de informações sobre a época, o escritor que embarcar nessa aventura terá uma tela praticamente em branco para o livre exercício da imaginação. Eu mesmo cheguei a ficar tentado por cinco segundos, o tempo de lembrar que meu romance sobre temas contemporâneos tem me dado trabalho suficiente, obrigado.
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    James Ellroy afirma (em espanhol) que não lê um livro há 30 anos. Só escreve. “Me basto e me sobro”, gaba-se. Não chega a me impressionar. Conheço um escritor brasileiro de 30 anos que está no mesmo caso.
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    Bom fim de semana a todos.

    todoprosa
     
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