Os novos nomes da velha política brasileira

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  • segunda-feira, 5 de novembro de 2012
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    As eleições de 2012 trouxeram para a cena política nomes novos - na idade e na vida pública. Prefeitos de dezesseis capitais têm até 50 anos, no mundo político, uma tenra idade. Veja aqui quem são eles. Dados do Tribunal Superior Eleitoral indicam que os eleitos para comandar as cidades brasileiras têm, em média, entre 39 e 48 anos. Apesar do marketing do novo, a ascensão desses jovens pouco tem a ver com renovação. Eles são, em sua maioria, herdeiros da velha política. 
    Ninguém explorou mais a dicotomia entre o velho e o novo do que Fernando Haddad, de 49 anos, em São Paulo. Luiz Inácio Lula da Silva, mentor do candidato, chegou a recomendar a aposentadoria do adversário de seu pupilo, José Serra (PSDB), de 70 anos - esquecendo-se de seus próprios 67 anos. Haddad foi apresentado na campanha como “o homem novo, para um novo tempo”. E a tese do marqueteiro do PT, João Santana, teve eco até mesmo no discurso pós-derrota de alguns tucanos. Integrantes do PSDB creditaram a derrota à idade do candidato tucano. Serra disputou a indicação do partido com pré-candidatos mais novos, entre eles Bruno Covas, de 32 anos.
       O vice-presidente nacional do PSDB, ex-governador Alberto Goldman, coloca a situação em seus devidos termos. “Alguém no mundo pode ser contra a renovação? Renovação é sempre boa”, afirma Goldman. “Mas não perdemos a eleição porque Serra tem 70 anos de idade. A principal rejeição a Serra foi a rejeição ao prefeito Gilberto Kassab, que é jovem.” Pesquisa Datafolha de agosto mostra que 36% dos paulistanos considera a gestão Kassab ruim ou péssima. Para outros 38%, a administração é regular. Kassab, de 52 anos, assumiu a prefeitura em 2006, quando José Serra deixou o cargo para concorrer ao governo de São Paulo.  
    O professor de Filosofia Política e Ética da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano afirma que, quando se trata de renovar a política, a idade pouco importa. “O que vimos nessa eleição, mais uma vez, foi a manutenção de procedimentos arcaicos, envernizados pela publicidade como produtos modernos, novos ou engraçadinhos.” Para Romano, um candidato novo seria, no mínimo, aquele escolhido dentro de um processo democrático, de consulta às bases, sem precisar da bênção do dono do partido. “Os partidos brasileiros seguem a linha do caciquismo, têm dono. As mesmas pessoas estão na liderança deles há trinta ou quarenta anos.” 
     
    Haddad é produto desse caciquismo. E teve boa ajuda da linha do marketing político que deu certo em 2010 pelas mãos do mesmo João Santana com Dilma Rousseff. Tornou-se candidato pelo condão de Lula, mesmo contrariando lideranças do PT de São Paulo. Entre os insatisfeitos estava a senadora Marta Suplicy, que, para aderir à campanha do ungido exigiu da presidente Dilma Rousseff o ministério da Cultura. E levou. Fisiologismo à moda antiga. Apesar de trazer em seu plano de governo ideias novas para a cidade, Haddad segue o velho manual de práticas do PT. “Haddad é da escola de Lula. Não é só cria de Lula. Os dois têm a mesma formação mental. O novo vem com os velhos vícios de seu mestre”, diz Goldman.
     
    A eleição de Haddad em São Paulo reprisa uma estratégia vencedora do PT e PMDB no Rio de Janeiro, com a eleição de 2008 e reeleição agora, em primeiro turno, com 64% dos votos, do peemedebista Eduardo Paes, de 42 anos. A fórmula? Um prefeito com pinta de gente fina, disposto a cair do skate e a tocar em bateria de escola de samba, com o caixa da cidade turbinado por dinheiro do governo federal.
     
    Falha histórica - Os partidos brasileiros sofrem, de fato, com a escassez de novas lideranças. O vácuo na formação de quadros decorre do bipartidarismo surgido no regime militar. “A ditadura forçou a importância dessas lideranças e o controle das lideranças sobre suas bases”, diz Romano. Findo o regime, houve um segundo fenômeno que tampouco colaborou com o amadurecimento da democracia: a proliferação de pequenos partidos, muitos de aluguel, destinados apenas a negócios. 
     
    Entre as apostas da nova geração estão o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Apesar de todo o frisson, eles ainda não mostraram a que vieram.
     
    Pelo Brasil - Em Salvador, o nem tão novo prefeito eleito foi ACM Neto (DEM), de 33 anos. Apesar da idade, ele traz no nome e no rosto a história do coronelismo na Bahia. O estado foi comandando por décadas por seu avô, o senador Antônio Carlos Magalhães, morto em 2007. “Não há nada mais velho do que Antônio Carlos Magalhães”, diz Romano. “Significa rede de favores, adesão pessoal a um líder, obediência ao coronel.” Em seu primeiro pronunciamento, ACM Neto dedicou a vitória ao avô.
     
    Outro exemplar da velha política em roupagem moderna está em Curitiba. A cidade elegeu Gustavo Fruet (PDT). Ex-oposicionista, ele deixou o PSDB, ingressou em um partido da base do governo Dilma Rousseff e se elegeu prefeito de Curitiba com o apoio do PT - a quem fazia duras críticas até então. Fruet ajudou a investigar o mensalão e, em 2010, associou ao PT à “roubalheira” e a “dinheiro na gaveta, na mala, na cueca". 
     
    Agora, diz que a contradição faz parte da convivência na política. “Seria muito simples se fosse um partido só de gente boa e outro só de gente má. A vida política é um pouco mais complexa”, disse . A velha elasticidade ideológica.
     
    Nessa matéria, Haddad e Kassab têm feito escola em São Paulo. Na primeira semana após a eleição, depois de uma campanha sangrenta, o prefeito, que apoiava José Serra, acolheu de braços abertos o petista. “É capacitado, inteligente e tem formação moral”, disse Kassab sobre o sucessor. “São Paulo estará em ótimas mãos.” E Haddad aceitou de bom grado o apoio daquele que antes acusava de gerir mal a cidade. Pragmatismo puro. 
     
    Do alto de seus 81 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) bem advertiu na última semana: "Juventude, em si, não produz ideias novas."
    Carolina Freitas - Veja
     
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