SOBRE OS HUMORISTAS BRASILEIROS
Paulo Nogueira, do “Diário do Centro do Mundo”
“À falta de graça, eles aliam reacionarismo que os isola da voz das ruas
O Brasil, conforme constatou agudamente um leitor do “Diário”, tem uma esquisitice humorística: os comediantes são "reacionários" [isto é, são da direita pró-grandes conglomerados econômicos e financeiros internacionais]. Não vou entrar no fato de que são essencialmente sem graça. Me atenho apenas ao "conservadorismo". Comediantes, como artistas em geral, costumam, em todo o mundo, ser progressistas. Eles quase sempre têm forte consciência social que os leva a criticar situações de grande desigualdade e a ser “antiestablishment”.
Os comediantes brasileiros fogem da regra, e essa é uma das razões pelas quais são tão sem graça. Marcelo Madureira é um caso extremo de conservadorismo petrificado e completo alinhamento com o chamado “1%” [a autoproclamada "elite"]. Marcelo Tas é outro caso. De Londres, não o acompanhei, mas ao passar algumas semanas no Brasil, agora, pude ver – sem sequer assistir a um episódio de seu programa – o quanto ele é mentalmente velho.
O que o CQC fez a Genoíno em nome da piada oscila entre o patético, o ridículo e o grotesco. Não me refiro apenas ao episódio em si de explorar o drama de Genoíno. Também, a sequência foi pavorosa. Vi no “YouTube” Tas ter uma disenteria verbal ao falar de Genoíno. Corajosamente, aspas, chamou-o repetidas vezes, aos gritos, de “mequetrefe”.
Não sou petista.
Jamais votei uma única vez em Genoíno.
Mas Tas tem condições morais — e conhecimento, pura e simplesmente — para julgar e condenar Genoíno? Várias vezes ele diz que Genoíno foi condenado pela justiça. E daí? Quem acredita na infabilidade da justiça brasileira acredita em tudo, como disse Wellington.
O que me levou a procurar Tas no “YouTube” foi uma mensagem pessoal que recebi de Ana Carvalho. Ela estava no local em que houve a confusão entre o humorista Oscar Filho [OF] e amigos de Genoíno. Ana acabou sendo citada num texto que OF escreveu, e ficou tão indignada que decidiu escrever sua versão dos fatos numa carta aberta que ela, cerimoniosamente, me pediu que lesse. Li. Primeiro, ela esclarece: ao contrário do que OF escreveu, ela não é militante do PT. Estava apenas votando, com a família, no lugar do tumulto, e tentou ajudar a serenar os ânimos, como boa samaritana.
Ana relata o que ouviu, na refrega, do produtor do CQC e de Genoíno. Do produtor, berros que diziam que os “'mensaleiros filhos da puta' iriam ser punidos: em vez de um minuto, o programa falaria horas do caso". De Genoíno, ela ouviu: “Calma, calma, sem bater, sem bater”. Mas quem publicaria o que ela ouviu? Essa pergunta Ana fez a si mesma, e é um pequeno retrato da maneira distorcida com que a grande mídia trata assuntos de política no Brasil. A resposta é: ninguém. Nem “Folha” e nem “Estadão” e nem “Veja” e nem “Globo” publicariam o relato de Ana – embora ela fosse testemunha privilegiada da confusão.
Há formas e formas de violência. O que o pessoal do CQC fez foi violência mental, uma tortura. Não faz muito tempo, o mundo soube que presos nos Estados Unidos tinham sido torturados com sessões de música ininterrupta da série Vila Sésamo. Vinte e quatro horas, sete dias por semana. (O autor ficou perplexo com o uso dado a sua canções tão inocentes.)
O que o CQC fez tem um nome: tortura moral. Humor não é isso. Citei, em outro artigo, os repórteres do “Pânico” que invadiram o funeral de Amy Winehouse para fazer piada. Tivessem sido pilhados, terminariam na cadeia – e teriam formidável dificuldade para convencer a justiça londrina de que a liberdade de expressão, aspas, os autorizava a fazer o que fizeram.
Humor sem graça, como o feito no Brasil, é um horror. Mas consegue ficar ainda pior quando, à falta de espírito, se junta um reacionarismo patológico, uma completa desconexão com o povo brasileiro, e este é o caso de Marcelo Tas e seu CQC.”
FONTE: escrito por Paulo Nogueira, do “Diário do Centro do Mundo”. Transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-comediantes-reacionarios) [Título, imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].
Paulo Nogueira, do “Diário do Centro do Mundo”
“À falta de graça, eles aliam reacionarismo que os isola da voz das ruas
O Brasil, conforme constatou agudamente um leitor do “Diário”, tem uma esquisitice humorística: os comediantes são "reacionários" [isto é, são da direita pró-grandes conglomerados econômicos e financeiros internacionais]. Não vou entrar no fato de que são essencialmente sem graça. Me atenho apenas ao "conservadorismo". Comediantes, como artistas em geral, costumam, em todo o mundo, ser progressistas. Eles quase sempre têm forte consciência social que os leva a criticar situações de grande desigualdade e a ser “antiestablishment”.
Os comediantes brasileiros fogem da regra, e essa é uma das razões pelas quais são tão sem graça. Marcelo Madureira é um caso extremo de conservadorismo petrificado e completo alinhamento com o chamado “1%” [a autoproclamada "elite"]. Marcelo Tas é outro caso. De Londres, não o acompanhei, mas ao passar algumas semanas no Brasil, agora, pude ver – sem sequer assistir a um episódio de seu programa – o quanto ele é mentalmente velho.
O que o CQC fez a Genoíno em nome da piada oscila entre o patético, o ridículo e o grotesco. Não me refiro apenas ao episódio em si de explorar o drama de Genoíno. Também, a sequência foi pavorosa. Vi no “YouTube” Tas ter uma disenteria verbal ao falar de Genoíno. Corajosamente, aspas, chamou-o repetidas vezes, aos gritos, de “mequetrefe”.
Não sou petista.
Jamais votei uma única vez em Genoíno.
Mas Tas tem condições morais — e conhecimento, pura e simplesmente — para julgar e condenar Genoíno? Várias vezes ele diz que Genoíno foi condenado pela justiça. E daí? Quem acredita na infabilidade da justiça brasileira acredita em tudo, como disse Wellington.
O que me levou a procurar Tas no “YouTube” foi uma mensagem pessoal que recebi de Ana Carvalho. Ela estava no local em que houve a confusão entre o humorista Oscar Filho [OF] e amigos de Genoíno. Ana acabou sendo citada num texto que OF escreveu, e ficou tão indignada que decidiu escrever sua versão dos fatos numa carta aberta que ela, cerimoniosamente, me pediu que lesse. Li. Primeiro, ela esclarece: ao contrário do que OF escreveu, ela não é militante do PT. Estava apenas votando, com a família, no lugar do tumulto, e tentou ajudar a serenar os ânimos, como boa samaritana.
Ana relata o que ouviu, na refrega, do produtor do CQC e de Genoíno. Do produtor, berros que diziam que os “'mensaleiros filhos da puta' iriam ser punidos: em vez de um minuto, o programa falaria horas do caso". De Genoíno, ela ouviu: “Calma, calma, sem bater, sem bater”. Mas quem publicaria o que ela ouviu? Essa pergunta Ana fez a si mesma, e é um pequeno retrato da maneira distorcida com que a grande mídia trata assuntos de política no Brasil. A resposta é: ninguém. Nem “Folha” e nem “Estadão” e nem “Veja” e nem “Globo” publicariam o relato de Ana – embora ela fosse testemunha privilegiada da confusão.
Há formas e formas de violência. O que o pessoal do CQC fez foi violência mental, uma tortura. Não faz muito tempo, o mundo soube que presos nos Estados Unidos tinham sido torturados com sessões de música ininterrupta da série Vila Sésamo. Vinte e quatro horas, sete dias por semana. (O autor ficou perplexo com o uso dado a sua canções tão inocentes.)
O que o CQC fez tem um nome: tortura moral. Humor não é isso. Citei, em outro artigo, os repórteres do “Pânico” que invadiram o funeral de Amy Winehouse para fazer piada. Tivessem sido pilhados, terminariam na cadeia – e teriam formidável dificuldade para convencer a justiça londrina de que a liberdade de expressão, aspas, os autorizava a fazer o que fizeram.
Humor sem graça, como o feito no Brasil, é um horror. Mas consegue ficar ainda pior quando, à falta de espírito, se junta um reacionarismo patológico, uma completa desconexão com o povo brasileiro, e este é o caso de Marcelo Tas e seu CQC.”
FONTE: escrito por Paulo Nogueira, do “Diário do Centro do Mundo”. Transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-comediantes-reacionarios) [Título, imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].