Obama: ruim, mas não o pior

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  • segunda-feira, 12 de novembro de 2012
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  • Por Atilio Boron, no sítio do Correio da Cidadania:

    Apenas metade da população maior de 18 anos (bem acima do recorde da eleição de John F. Kennedy, em 1960: 62,8%) foi às urnas na terça para votar e enfrentar um cruel dilema: eleger quem? Deixando de lado a retórica de ambos os candidatos e as inverossímeis promessas reiteradas por seus comandos de campanha, a eleição era entre o ‘ruim’ e o ‘pior ainda’.

    O ‘ruim’ porque, como demonstram implacavelmente as estatísticas oficiais, a situação dos assalariados que constituem a vasta maioria da população dos Estados Unidos não só não melhoraram como, comparando com seus concidadãos mais ricos, pioraram sensivelmente.

    Um exemplo dá e sobra: segundo o Escritório do Censo, em 2010 a renda média de uma família foi de 49.445 dólares, ou seja, 7,1% abaixo da cifra de 1999. E devido ao aprofundamento da crise econômica geral, nos dois anos posteriores essa tendência, longe de se reverter, se acentuou. Se essa família quisesse, tal como as gerações anteriores, enviar um de seus dois filhos para um curso superior, por exemplo, na Harvard Kennedy School, deveria enfrentar um custo total (matrícula mais o seguro médico, alojamento e alimentação) de 70.802 dólares anuais, o que explica o fenomenal endividamento da típica família estadunidense, e o fato de que fiquem cada vez menos estudantes nas universidades de elite do país.

    Mas aquela média é enganosa, porque a típica família afroamericana tem, segundo o mesmo organismo oficial, uma renda média de 32.068 dólares, e os latinos de 37.595. Se uns e outros esperavam mais de um presidente afroamericano, suas esperanças se desvaneceram durante o primeiro mandato de Obama. Por isso dizemos que elegeram o ‘ruim’, que resgatou os bancos, fundos de investimento e grandes oligopólios – cujos CEOs seguiram ganhando dezenas de milhões de dólares por ano de salários, prêmios, compensações, bônus e outras quinquilharias do tipo – enquanto o salário por hora dos trabalhadores permanecia ajustado pela inflação, nos níveis de fins da década de 70.

    Em termos práticos: mais de 30 anos sem um aumento efetivo de remuneração horária! Nem vamos falar de outras ações do insólito prêmio Nobel da Paz, tais como escalar até o inimaginável a política engendrada por Bush de assassinatos seletivos mediante a utilização de drones (em países com os quais os EUA sequer estão em guerra, como Paquistão, Palestina e Iêmen); o vil linchamento de Kadafi; o mafioso assassinato de Osama Bin Laden diante de sua família, ao estilo do massacre perpetrado por Al Capone e seus capangas na noite de Saint Valentine em 1929, em Chicago; a espionagem interna e externa sem freio e a interceptação de correios, mensagens de textos e telefonemas, sem nenhuma ordem judicial, tal como denunciado pela American Civil Liberties Union, entre outras maravilhas.

    Mas se Obama era a má opção, Romney era pior ainda. O primeiro é um representante do capital, mas o segundo é o capital, e em suas versões mais degradas e facínoras. Seus vínculos com os fundos-abutres, entre eles um que acossa a Argentina, são bem conhecidos; seu absoluto desprezo pela sorte dos trabalhadores de seu país foi indissimulável. Fulminou com uma crítica racista e classista 47% da população, que “não pagam impostos” e acreditam que o governo deve oferecer saúde, educação, moradia e comida gratuitamente.

    Esse comentário, tão absurdo quanto incorreto, empiricamente falando, foi agravado por Paulo Ryan, seu candidato a vice, imposto pelo Tea Party. Em seu delírio reacionário, Ryan chegou a dizer que a “rede de seguridade social” que existe nos EUA tinha se transformado em uma confortável cama, onde os pobres dormiam em plácida siesta, confiantes em que o Big Government venha satisfazer suas necessidades.

    Como se tudo isso não fosse suficiente, Romney se encarregou de dizer que reduziria ainda mais os impostos dos mais ricos (apesar de vários deles, como o multimilionário Warren Buffet, confessarem ser ridículo e imoral pagar, proporcionalmente, menos impostos que seus empregados) e que apoiaria sem hesitar as forças de mercado, ao passo que fez reiteradas declarações que evidenciavam um transbordante belicismo no plano internacional.

    A Rússia foi caracterizada como “inimigo número 1” dos Estados Unidos, insinuou que lançaria uma guerra comercial com a China (o que provocaria uma verdadeira débâcle em seu país) e ameaçava promover ações militares mais enérgicas contra o Irã, Síria, Cuba e Venezuela. Enfim, tudo que conforma um verdadeiro monstro político, diante do qual o reticente eleitorado estadunidense optou, a duras penas, pelo apenas ‘ruim’, convencido de que o outro representava o ‘pior ainda’ em sua forma quimicamente pura.
     
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