Fechada a recontagem na Flórida, é possível conhecer finalmente os números finais da eleição norte-americana. O democrata Obama conquistou 332 votos do colégio eleitoral, contra 206 do conservador Romney.
Para muitos, especialmente aqueles identificados com a esquerda, a opinião é de que a vitória de Obama nada representa. Alguns chegaram até a postar comentários no Facebook afirmando que não haveria diferença entre eles. Uma visão míope e desfocada da conjuntura. Pode-se ser contra as distorções do sistema eleitoral norte-americano, pode-se dizer que nem conservadores e nem democratas representam um projeto de esquerda naquele país, pode-se considerar que a democracia deles não é uma democracia real. Agora, dizer que não há diferenças, é querer ignorar a realidade.
A postura do conservador Romney durante todo o processo eleitoral, esteve à direita até mesmo de seu correligionário e ex-presidente estadunidense Bush Júnior. O candidato conservador representou as ideias do ultraconservadorismo norte-americano. Exalou preconceito contra homossexuais, negros, pobres, mulheres e latinos. Defendeu a postura intervencionista dos Estados Unidos com relação aos países que lhe representam riscos políticos ou econômicos. Foi contra a implementação de um sistema de saúde público, gratuito e universal. Com Romney eleito presidente, é possível que o bloqueio econômico a Cuba se intensificasse e o enfrentamento armado com a Venezuela de Hugo Chavez fosse uma possibilidade real.
Postura diferente apresentou Obama. Se é verdade que não primou por um projeto de esquerda, até porque não é de esquerda e ser de esquerda nos Estados Unidos é ainda nos dias de hoje algo raro, também é verdade que teve um governo e uma plataforma de campanha um pouco mais progressista. Defendeu a união civil entre pessoas do mesmo sexo, apresentou projeto para reformar a saúde e permitir para que ela seja pública e gratuita, defendeu e está negociando o aumento de impostos para empresas e pessoas com alto poder aquisitivo. Na política internacional, mal ou bem foi menos pior, menos intervencionista do que os governos do Partido Conservador.
A reeleição de Obama não fomenta a esperança de que os Estados Unidos tenha um governo identificado com a esquerda. Isso não ocorrerá. Porém, ela representa a certeza de que não haverá uma mudança para pior naquele país, algo que afetaria o mundo todo. Também significa que temas como a taxação das grandes fortunas dos ricos norte-americanos, o reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo e o enfrentamento ao preconceito racial, social e contra latinos poderá avançar um pouco mais.
A propósito, o voto da maioria dos imigrantes e descendentes latinos foram decisivos. Claro que os cubanos de Miami ficaram com Romney, mas os demais ajudaram a garantir a vitória de Obama.