"O DIA QUE DUROU 21 ANOS" REMONTA A PARTICIPAÇÃO DOS EUA NO GOLPE DE 64

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  • quarta-feira, 28 de novembro de 2012
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  • John Kennedy e o embaixador norte-americano no Brasil  

    “O documentário "O dia que durou 21 anos", dirigido por Camilo Tavares, explicita a participação ativa dos EUA no golpe de 1964 com uma contundência inédita no Brasil. O trabalho de pesquisa de três anos rendeu aos organizadores do filme materiais secretos da CIA, telegramas e até gravações telefônicas entre o embaixador norte-americano no Brasil e os presidentes dos EUA John Kennedy e Lyndon Johnson.


    Por Fábio Nassif

    Que os Estados Unidos da América contribuíram com o golpe militar de 1964 no Brasil todos sabem. Mas o documentário “O dia que durou 21 anos”, dirigido por Camilo Tavares, explicita isso com uma contundência inédita no Brasil. O trabalho de pesquisa de três anos rendeu aos organizadores do filme materiais secretos da CIA, telegramas e até gravações telefônicas entre o embaixador norte-americano no Brasil e os presidentes dos EUA John Kennedy e Lyndon Johnson. As conversas mostram o passo a passo do golpe e o reconhecimento dele.

    O documentário introduz o contexto vivido no Brasil desde João Goulart e suas tentativas de aplicação das chamadas “Reformas de Base”, até a reação estadunidense ao encaixá-lo como um comunista semelhante a Fidel Castro. Com forte participação dos embaixadores no Brasil, de institutos – como o “Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais” (IPES) e “Instituto Brasileiro de Ação Democrática” (IBAD) – o golpe é tratado no filme de maneira direta, expondo os interesses econômicos dos EUA no Brasil e o investimento financeiro aplicado para, por exemplo, comprar parlamentares brasileiros.

    Historiadores e personalidades conduzem a narrativa, com ajuda de fotos da época animadas, áudios, imagens de documentos e filmagens do período. Um trabalho de fôlego, que preenche a “7ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul” com conteúdo, contribuindo para a construção da história do país. O documentário buscará a distribuição comercial para abril de 2013.

    Veja a entrevista que Camilo concedeu à “Carta Maior” e confira a programação da “Mostra” no site  (www.cinedireitoshumanos.org.br):

    -Por que escolheu dar o enfoque do documentário na atuação norte americana no golpe de 64?

    Camilo Tavares: A riqueza do material encontrado nos levou a essa opção. Tanto os telegramas da CIA, como as conversas da Casa Branca, assim como os incríveis programas de TV produzidos pela CBS (em 1961) para convencer a opinião pública dos EUA.

    -Acredita que, no Brasil, há uma percepção comum dessa participação ativa dos presidentes norte-americanos no golpe?

    Camilo Tavares: Há muito pouco conhecimento do assunto. Esse foi um dos objetivos do filme. Nossa meta é que o filme, que teve patrocínio do Ministério da Cultura e da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, via Eletrobras, SABESP e CESP, seja distribuído na rede de ensino público com foco no público jovem que precisa conhecer melhor nossa história. E, também, do público adulto em geral que viveu a ditadura militar mas não conhece a dimensão dos interesses dos EUA em nosso país.

    -O documentário traz uma série de documentos secretos do governo dos EUA e da CIA, além de gravações entre embaixadores e os presidentes dos EUA. Como foi o processo de pesquisa? Quanto tempo durou, como foram adquiridos esses materiais e como foi organizado? A divulgação desse material é considerada inédita no Brasil?

    Sim é inédita no sentido do volume de informações. Tivemos apoio de historiadores muito antenados como Carlos Fico (UFRJ) que pesquisou os arquivos e publicou dois livros sobre o assunto, Peter Kornbluh (NARA_Washington) e da jornalista e escritora Denise Assis que fez a pesquisa do IPES e IBAD. A Pequi Filmes , minha produtora, arcou um árduo e custoso trabalho de 3 anos para levantar todo o material de arquivo. Aliás, temos um rico material suficiente para novas séries de TV ou filmes longa-metragem das relações Brasil, EUA e América Latina.

    -O documentário traz, também, dois aspectos interessantes: a insistência do interesse financeiro dos governos norte-americanos em apoiar o golpe militar e a suposta falta de controle de pessoas que apoiaram o golpe, mas não concordavam com torturas, prisões e outras medidas autoritárias. Acredita que os objetivos norte-americanos foram atingidos ou em algum momento houve um descompasso com os interesses dos militares brasileiros?

    Os militares brasileiros fizeram exatamente o que os americanos queriam. Entregaram nosso mercado para os EUA e adotaram o modelo de desenvolvimento financiado pelas empresas americanas, que hoje são as grandes empresas do Brasil nos setores estratégicos da economia. A primeira medida do Presidente Castelo Branco ao assumir foi acabar com a lei que limitava a remessa de lucros excessivos das empresas americanas ao EUA. Ou seja, abriu as portas , como diz a música do Raul Seixas: "a solução é alugar o Brasil". E, alias, como será que está esta lei de remessa de lucros atualmente?

    -Foram colhidos depoimentos de militares. Com que objetivo buscou isso?

    Esse foi o grande desafio ouvir a voz dos militares, como o Ministro Jarbas Passarinho, General Newton Cruz, Almirante Bierrenbach e também dos militares que apoiavam João Goulart, como Capitão Ivan Proença e o Brigadeiro Rui Moreira Lima.

    -Qual papel o documentário em si e o cinema em geral podem ter para a promoção dos direitos humanos no Brasil?

    Considero essencial.”

    FONTE (do texto): entrevista com Camilo Tavares conduzida por Fábio Nassif da “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21318).
    FONTE (do vídeo, acrescentado por este blog 'democracia&política'): (http://www.cultura.rj.gov.br/materias/parceria-entre-pai-e-filho).
     
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