O trabalho pode matar — e isso não é apenas força de expressão. O principal culpado por isso é o stress. Seus efeitos no organismo vão além dos problemas emocionais. "O stress faz com que o corpo libere mais hormônios como a adrenalina e o cortisol que, em excesso, aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial, diminuem a imunidade, aumentam o apetite e agravam o acúmulo de gordura na região abdominal", diz Mara Fernandes Maranhão, psiquiatra do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. As possíveis consequências desses problemas são conhecidas: obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e até condições mais graves como o câncer.
Uma série de pesquisas feitas com pessoas do mundo todo já comprovou esses prejuízos. Um estudo da Universidade de Harvard, feito com mais de 20.000 mulheres e publicado em julho deste ano, revelou que trabalhar em ambientes estressantes e sob muita tensão pode aumentar em 70% o risco de um infarto e em 40% de outro evento cardiovascular. Outra pesquisa divulgada neste ano, desenvolvida no Instituto de Pesquisas sobre Trabalho e Saúde do Canadá, concluiu que o stress no trabalho dobra as chances de uma mulher ter diabetes.
Três causas — Mas, afinal, quem é o verdadeiro culpado por uma pessoa sofrer altos níveis de stress no trabalho? Depende. Por exemplo, o problema pode ser intrínseco à própria profissão. "Algumas carreiras podem gerar um stress crônico porque lidam com constante pressão de tempo, de cumprimento de metas ou então com risco de vida, como bombeiros, por exemplo", diz Mara. Além disso, o ambiente de trabalho pode ser o grande responsável por esse stress ocupacional, especialmente se nele há muita competitividade e agressividade entre as relações. Por fim, a culpada pela condição pode ser a própria pessoa estressada, seja porque ela tem mais dificuldades em se adaptar a novos ambientes ou em receber ordens, ou, na vontade de fazer o trabalho bem feito, não delega funções, leva trabalho para casa e, portanto, se sobrecarrega.
Como trabalho e stress são duas coisas que andam de mãos dadas, é praticamente impossível evitar o problema no ambiente profissional. Deixar de trabalhar não é uma opção para se livrar do stress — e mudar de emprego nem sempre dá certo, já que o novo trabalho pode ser tão ou mais estressante que o anterior. Talvez por isso seja tão comum que o 'stress ocupacional' se acumule e desencadeie vários problemas à saúde, que vão desde um desânimo crônico até doenças graves, como hipertensão.
Para especialistas ouvidos pelo site de VEJA, porém, embora não seja possível fugir do stress no trabalho, há formas de amenizar os impactos o problema tem sobre a nossa vida. Conheça dez formas de fazer isso:
Identifique o que está provocando o stress
         É preciso saber o que está provocando o stress no trabalho para que a  atitude mais correta seja tomada. O problema pode ser você, então  procure avaliar se você está se sobrecarregando porque não delega  funções, cobra demais de si mesmo, leva o perfeccionismo ao extremo ou  por outro motivo. No entanto, pode ser que as próprias características  do trabalho (pressão, risco de vida e prazos apertados, por exemplo)  acarretem stress. Finalmente, o ambiente de trabalho, construído pelos  funcionários e pelas relações entre eles, pode ser o grande culpado.Fique atento aos sinais do seu corpo
                 Os problemas clínicos associados ao stress que costumam aparecer  primeiro são cansaço e desânimo desproporcionais, fadiga constante,  dificuldades de concentração, problemas de memória, comportamento  explosivos e irritabilidade. Além deles, sintomas comuns quando o nível  de stress profissional é grande incluem depressão, transtornos de  ansiedade, hipertensão, compulsão alimen tar, aumento de peso, gastrite e outras alterações gastrointestinais.Seja flexível, não abrace o mundo
                 Não delegar tarefas e cobrar muito de si são alguns dos comportamentos  que podem se virar contra você, já que colaboram com o aumento do stress  no trabalho. “Por exemplo, uma pessoa muito perfeccionista nunca vai  ficar satisfeita com o seu trabalho, não importa o resultado. Ou ela vai  considerar que não fez mais do que sua obrigação, ou vai se culpar pois  deixou a desejar”, diz o psiquiatra Renato Mancini. Não guarde os problemas para si
                 A falta de comunicação é um dos principais males da convivência  profissional. Para melhorá-la, um profissional deve buscar e estudar  quais são as melhores formas de interagir e de se comportar no ambiente  de trabalho. “Se os problemas persistirem, é preciso conversar sobre  eles, por mais difícil que possa ser, já que o ambiente profissional é  muitas vezes opresso. É importante discutir, por exemplo, quando o prazo  de um trabalho for impossível de ser cumprido”, diz Mancini.Conheça o emprego antes de aceitá-lo
                 Saber quais são as características do seu emprego é fundamental para  evitar uma quebra de expectativa e uma frustração. “É preciso ter certas  coisas em mente. Não podemos esperar, por exemplo, que um colega de  trabalho seja nosso melhor amigo”, diz Manicini. Além disso, é provável  que o emprego atinja uma certa rotina e que as funções deixem de ser  novidade. “Quem só gosta de novidades e desafios e cai na rotina se  frustra. Por isso precisamos entender o ambiente em que estamos  inseridos e avaliar se ele é estimulante”, afirma o médico.Não limite sua vida ao trabalho
                 Quando a vida de uma pessoa está resumida somente ao trabalho, ou seja,  quando nada mais lhe satisfaz, qualquer fato que ocorra no ambiente  profissional terá um impacto muito maior do que deveria. Por isso é  importante que um indivíduo tenha um hobbie, mantenha contato com  família e amigos, procure um curso para fazer ou outra atividade para se  engajar fora do trabalho.Fortaleça o seu sistema imunológico
                 Hábitos alimentares corretos ajudam a fortalecer o sistema imunológico  e, consequentemente, tornam uma pessoa menos vulnerável ao stress e seus  efeitos. Vitamina C e alimentos ricos em zinco, como as amêndoas, são  aliadas da imunidade.Durma pelo menos 8 horas por dia
                 Dormir bem é outra maneira de melhorar a qualidade de vida e o  bem-estar, diminuindo o cansaço e aumento a disposição para trabalhar. O  sono adequado, ou seja, de oito horas diárias, ajuda uma pessoa a ser  mais forte em frente ao stress e melhora a sua memória e  raciocínio. “Uma melhor qualidade de vida melhora o desempenho no  trabalho e a forma como uma pessoa lida com os conflitos profissionais,  já que o stress prejudica o raciocínio e a tomada de decisões”, explica a  psiquiatra Mara Maranhão.Pratique atividades físicas
                 O bem-estar e a qualidade de vida também dependem do exercício físico.  Eles melhoram a disposição de um indivíduo e o tornam mais forte para  enfrentar situações de stress. O ideal é a prática de 30 minutos de  qualquer atividade ao menos três vezes na semana.Procure ajuda profissional
                 Pode ser difícil encontrar formas de lidar com o stress, mesmo sabendo o  motivo pelo qual ele existe e quais são as suas consequências. Por  isso, o auxílio de um profissional que seja especialista em saúde mental  pode ser fundamental para que o stress permaneça distante e não afete a  sua vida.Vivian Carrer Elias
