Por Altamiro Borges
A iniciativa de refundar o partido da ditadura partiu, aparentemente, de jovens estudantes do Rio Grande do Sul. Cibele Baginski, estudante de direito de 23 anos, é a presidenta da nova Arena. Ela não esconde suas exóticas ideias direitistas. “O Brasil ainda estaria na idade da pedra se não tivesse existido essa época [da ditadura]”, disse à Folha. Já o secretário-geral da sigla, João Maganelli, estudante de engenharia no Rio Grande do Sul, informou que há três membros da antiga Arena entre os fundadores do partido atual.
Bolsista do Prouni contra as cotas
Na semana passada, um grupo de lunáticos que tenta refundar a Arena (Aliança Renovadora Nacional) – partido que deu sustentação à ditadura militar – publicou no Diário Oficial da União o estatuto e o programa da legenda. Segundo seus mentores, a “nova Arena” terá como meta principal “a luta contra a comunização da sociedade”. A publicação dos documentos é o primeiro passo para o registro da sigla na Justiça Eleitoral. Para garantir a existência legal, o grupo terá agora de coletar 500 mil assinaturas de apoio em nove Estados.
Segundo Cibele Baginski, a nova sigla já articula o ingresso de políticos com mandato. Ela não quis citar nomes, “mas disse que entre as pessoas ‘muito respeitadas’ estão os deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Romário (PSB-RJ)”. No documento publicado no Diário Oficial da União, o grupo afirma que, “em respeito às convicções ideológicas de direita, não coligará com partidos que declaram a defesa do comunismo, bem como vertentes marxistas”. A “nova Arena” pretende se firmar como oposição radical ao governo Dilma.
Entre suas bandeiras, ela prega a “abolição de quaisquer sistemas de cotas” nas faculdades. Curiosamente, a própria Cibele Baginski é bolsista do Prouni. Ela recebe bolsa integral do programa do governo para cursar direito na Universidade de Caxias do Sul. “Lula não fez mais do que a obrigação”, desconversa a estudante ao ser questionada sobre a contradição entre sua bolsa e o estatuto da sua sigla. A jovem direitista também prega outras maluquices, como a extinção da Comissão da Verdade que apura os crimes da ditadura.
“Essa comissão tem um problema, porque ela está sendo uma comissão da meia verdade. Ela vai investigar apenas uma parte do que aconteceu. Ninguém vai investigar o sequestro do embaixador (Charles Burke Elbrick, em 1969), ninguém vai investigar outras coisas ali, como os ataques armados a bancos, porque realmente ninguém quer criar um constrangimento para a presidente da República, por exemplo. Pra mim, ou a Comissão da Verdade investiga tudo ou fecha as portas”, explicou em entrevista ao jornal Estadão.
Alternativa para os direitistas órfãos
Pelos documentos publicados e pelas declarações imaturas dos seus dirigentes, a “nova Arena” não tem muita consistência ou futuro. A presidenta da sigla garante que o partido será uma alternativa para as forças reacionárias. “A direita não está representada [no país]. Por isso que as pessoas olharam para a Arena com esperança. A maior parte dos partidos que está aí hoje em dia é de centro, centro-esquerda, alguns são de ‘esquerda volver’”, explicou ao Estadão. Ela aposta a adesão de vários direitistas que estão órfãos.
Neste ponto, ela até tem razão. Com as três surras nas eleições presidenciais e o revezes no último pleito municipal, a direita nativa está realmente perdida, dispersa. Vide a trágica situação de Álvaro Dias (PSDB-PR). Ele declarou guerra ao governador tucano Beto Richa, disparando vários adjetivos, e deve ficar sem vaga para a reeleição no Senado em 2014. Há boatos de que poderia ingressar num partido da base aliada do governo Dilma, o que seria um trauma para o tucano que hoje é um dos mais raivosos inimigos da presidenta.
Se tivesse mais consistência, a “nova Arena” até poderia ser uma alternativa para o desesperado e histérico senador do Paraná!