Por Antonio Pimenta, no jornal Hora do Povo:
David Petraeus, o general das escaladas no Iraque e no Afeganistão, e “teórico” da contrainsurgência, o militar mais paparicado pela mídia belicista dos EUA, e operador dos ataques com drones, foi sacado da direção da CIA após o FBI grampear seu computador – e o da sua amante – e se tornar público o affair, depois de meses de investigações sigilosas e do encobrimento da questão na véspera da eleição de 6 de novembro.
O episódio é revelador do profundo farisaísmo que impera em Washington: um criminoso de guerra do seu naipe, sacado, não por causa dos massacres que cometeu e dos milhares de civis que assassinou, mas de uma aventura extraconjugal, que serviu de pretexto para sua eliminação do cenário político dos EUA. Logo ele, que tinha sido considerado pela revista “Time” como “a personalidade do ano” em 2007, cantado como “gênio militar” e era visto até como “presidenciável”. Jornalões e tevês dos EUA choraram pelo decaído e lamentaram profundamente sua “tragédia pessoal”.
Formalmente, após ser informado do grampo e das investigações, Petraeus apresentou a sua renúncia a Obama, que pediu 24 horas para “analisar” e no dia seguinte confirmou a demissão. A amante é uma major que cursou West Point, e autora de uma biografia apologética do militar, “All In: the education of general David Petraeus”, inicialmente uma dissertação de doutorado. Vinte anos mais nova, ela havia passado uma temporada no Afeganistão, quando Petraeus comandava as tropas no país invadido, para preparar o livro. “Embedded”, como se diz no jargão dos puxa-sacos dos militares norte-americanos.
Como o FBI não constatou qualquer violação de segurança, não era obrigatória a sua demissão por conta de uma aventura extraconjugal. Mas foi o que Obama fez, o que denota que, ou Petraeus cometeu algum erro grave, ou se colocou como obstáculo a alguma política do presidente. Assim, ao que tudo indica, estão em questão o episódio do ataque ao “consulado” de Benghazi em que foi morto o embaixador Chris Stevens e mais três; a maior operação atual da CIA no planeta, contra a Síria; e a ameaça de guerra ao Irã.
Na reta final da campanha presidencial que acabou reelegendo Obama, republicanos e a Fox News investiram acusando o presidente e a CIA de terem mentido sobre o ataque a Benghazi e, mais grave, de terem abandonado os funcionários dos EUA à própria sorte, negando uma operação de socorro na amplitude necessária. Estava marcado no Congresso depoimento de Petraeus para esta quinta-feira (15).
Analistas denunciaram que o que havia em Benghazi era uma operação de recrutamento de mercenários (“jihadistas”) para as fileiras de mercenários na Síria. Na sua campanha eleitoral, Obama se vangloriou de que “a Líbia foi liberada”, exibindo a imagem de aviões de guerra dos EUA, mas a realidade é que o golpe sofrido em Benghazi em setembro não pode ser oculto e os autores do ataque saíram vitoriosos. Se Petraeus comandou o socorro aos seus homens em Benghazi – e deveria – foi um desastre completo.
Os jornais norte-americanos dão conta da frenética atividade de Petraeus para a intervenção na Síria, no momento a maior operação da CIA no mundo, uma guerra civil por procuração, com bandos de mercenários armados pelos EUA e apoiados pela Turquia, Arábia Saudita e Qatar tentando derrubar o governo legítimo de Bashar Al Assad. Numa manifestação de que as coisas não estão saindo a contento, o Departamento de Estado acaba de desacreditar o até então privilegiado Conselho Nacional Sírio, e pressionou pela formação de uma outra coalizão de mercenários e subordinação do CNS. Teria Petraeus fracassado também ali, ele que já foi um fiasco no Iraque e no Afeganistão?
Afeganistão
Também está sobre a mesa, agora que se decidiu a eleição nos EUA, a questão do Irã, país contra o qual os EUA já movem uma impiedosa guerra econômica, com sanções de aleijar, ao mesmo tempo em que ameaçam com guerra aberta, caso o Irã não se dobre. Não está claro qual a atitude de Petraeus no assunto, mas no caso do Iraque e do Afeganistão ele foi a favor de fazer a guerra com aumento de tropas envolvidas.
Qual foi o fator que decidiu pela derrubada de Petraeus, não é possível apontar no momento, mas se colocando a oportunidade, foi devidamente aproveitada. O que não dá para acreditar é que e-mails da amante Paula Broadwell, para uma suposta rival, Jill Kelley, com títulos como “Larga o meu cara” e “Eu sei o que você fez” teriam o poder, mesmo no país dos grampos e da Lei (In)Patriótica, para levar a uma investigação, nada menos, do chefe da maior agência de espionagem do planeta. As duas são casadas.
A própria nomeação de Petraeus, tirando-o do círculo militar, onde reinava, para ser um estranho no ninho como diretor da CIA, ao mesmo tempo em que o então diretor Leon Panetta era nomeado para dirigir o Pentágono, vista a posteriori, mais parece uma derrubada “para o alto”. A mídia inflou Petraeus, para diminuir o peso da derrota dos EUA no Iraque e no Afeganistão. Mas seu antigo comandante no Estado Maior, o almirante William Falon, o considera “um pedaço de titica de galinha mal cheiroso”.
David Petraeus, o general das escaladas no Iraque e no Afeganistão, e “teórico” da contrainsurgência, o militar mais paparicado pela mídia belicista dos EUA, e operador dos ataques com drones, foi sacado da direção da CIA após o FBI grampear seu computador – e o da sua amante – e se tornar público o affair, depois de meses de investigações sigilosas e do encobrimento da questão na véspera da eleição de 6 de novembro.
O episódio é revelador do profundo farisaísmo que impera em Washington: um criminoso de guerra do seu naipe, sacado, não por causa dos massacres que cometeu e dos milhares de civis que assassinou, mas de uma aventura extraconjugal, que serviu de pretexto para sua eliminação do cenário político dos EUA. Logo ele, que tinha sido considerado pela revista “Time” como “a personalidade do ano” em 2007, cantado como “gênio militar” e era visto até como “presidenciável”. Jornalões e tevês dos EUA choraram pelo decaído e lamentaram profundamente sua “tragédia pessoal”.
Formalmente, após ser informado do grampo e das investigações, Petraeus apresentou a sua renúncia a Obama, que pediu 24 horas para “analisar” e no dia seguinte confirmou a demissão. A amante é uma major que cursou West Point, e autora de uma biografia apologética do militar, “All In: the education of general David Petraeus”, inicialmente uma dissertação de doutorado. Vinte anos mais nova, ela havia passado uma temporada no Afeganistão, quando Petraeus comandava as tropas no país invadido, para preparar o livro. “Embedded”, como se diz no jargão dos puxa-sacos dos militares norte-americanos.
Como o FBI não constatou qualquer violação de segurança, não era obrigatória a sua demissão por conta de uma aventura extraconjugal. Mas foi o que Obama fez, o que denota que, ou Petraeus cometeu algum erro grave, ou se colocou como obstáculo a alguma política do presidente. Assim, ao que tudo indica, estão em questão o episódio do ataque ao “consulado” de Benghazi em que foi morto o embaixador Chris Stevens e mais três; a maior operação atual da CIA no planeta, contra a Síria; e a ameaça de guerra ao Irã.
Na reta final da campanha presidencial que acabou reelegendo Obama, republicanos e a Fox News investiram acusando o presidente e a CIA de terem mentido sobre o ataque a Benghazi e, mais grave, de terem abandonado os funcionários dos EUA à própria sorte, negando uma operação de socorro na amplitude necessária. Estava marcado no Congresso depoimento de Petraeus para esta quinta-feira (15).
Analistas denunciaram que o que havia em Benghazi era uma operação de recrutamento de mercenários (“jihadistas”) para as fileiras de mercenários na Síria. Na sua campanha eleitoral, Obama se vangloriou de que “a Líbia foi liberada”, exibindo a imagem de aviões de guerra dos EUA, mas a realidade é que o golpe sofrido em Benghazi em setembro não pode ser oculto e os autores do ataque saíram vitoriosos. Se Petraeus comandou o socorro aos seus homens em Benghazi – e deveria – foi um desastre completo.
Os jornais norte-americanos dão conta da frenética atividade de Petraeus para a intervenção na Síria, no momento a maior operação da CIA no mundo, uma guerra civil por procuração, com bandos de mercenários armados pelos EUA e apoiados pela Turquia, Arábia Saudita e Qatar tentando derrubar o governo legítimo de Bashar Al Assad. Numa manifestação de que as coisas não estão saindo a contento, o Departamento de Estado acaba de desacreditar o até então privilegiado Conselho Nacional Sírio, e pressionou pela formação de uma outra coalizão de mercenários e subordinação do CNS. Teria Petraeus fracassado também ali, ele que já foi um fiasco no Iraque e no Afeganistão?
Afeganistão
Também está sobre a mesa, agora que se decidiu a eleição nos EUA, a questão do Irã, país contra o qual os EUA já movem uma impiedosa guerra econômica, com sanções de aleijar, ao mesmo tempo em que ameaçam com guerra aberta, caso o Irã não se dobre. Não está claro qual a atitude de Petraeus no assunto, mas no caso do Iraque e do Afeganistão ele foi a favor de fazer a guerra com aumento de tropas envolvidas.
Qual foi o fator que decidiu pela derrubada de Petraeus, não é possível apontar no momento, mas se colocando a oportunidade, foi devidamente aproveitada. O que não dá para acreditar é que e-mails da amante Paula Broadwell, para uma suposta rival, Jill Kelley, com títulos como “Larga o meu cara” e “Eu sei o que você fez” teriam o poder, mesmo no país dos grampos e da Lei (In)Patriótica, para levar a uma investigação, nada menos, do chefe da maior agência de espionagem do planeta. As duas são casadas.
A própria nomeação de Petraeus, tirando-o do círculo militar, onde reinava, para ser um estranho no ninho como diretor da CIA, ao mesmo tempo em que o então diretor Leon Panetta era nomeado para dirigir o Pentágono, vista a posteriori, mais parece uma derrubada “para o alto”. A mídia inflou Petraeus, para diminuir o peso da derrota dos EUA no Iraque e no Afeganistão. Mas seu antigo comandante no Estado Maior, o almirante William Falon, o considera “um pedaço de titica de galinha mal cheiroso”.