Uso indiscriminado de veneno cria super-ratos na Inglaterra

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  • sábado, 20 de outubro de 2012
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    Super-ratos se tornaram um grande problema nas regiões sul e oeste da Inglaterra. Calcula-se que mais de 70% da população de ratos seja de um tipo resistente a venenos convencionais. O alerta, dado por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Huddersfield, indica que a população desses roedores deve crescer nos próximos anos.

    Os raticidas mais utilizados são anticoagulantes, que causam hemorragias internas nos animais. Na Inglaterra, essas substâncias são amplamente utilizadas desde os anos 1950. O problema é que, naquela mesma década, descobriu-se que uma pequena porcentagem dos roedores era resistente aos venenos. O governo chegou a realizar pesquisas para tentar entender por que isso acontecia, mas elas foram abandonadas em meados dos anos 1990. Hoje, segundo o doutor Dougie Clarke, professor de Huddersfield e coordenador do Projeto de Mapeamento de Resistência a Raticidas do Reino Unido, os super-ratos são maioria em algumas partes da Inglaterra, principalmente nas cidades mais ao sul e a oeste.

      Ao longo de 50 anos, nas áreas do país onde os raticidas foram mais usados, a população de roedores normais diminuiu. Mas, ao mesmo tempo, os ratos resistentes realizaram cada vez mais cruzamentos entre si, passando adiante o gene da imunidade e alavancando os números dessa população. 
    Teste de DNA — O descontrole da população de ratos pode proliferar doenças, arruinar suprimentos de alimentos e danificar cabos elétricos. O cenário também representa um risco para animais silvestres e até mesmo domésticos, como gatos. Afinal, mesmo protegidos do efeito anticoagulante pela mutação genética, os corpos dos roedores continuam carregando a toxina.
    A solução para lidar com o aumento do número de ratos tem sido lançar mão de venenos ainda mais poderosos. O problema é que ele precisam ser utilizados em condições controladas pelas autoridades de saúde inglesas. Por isso, a equipe de Clarke realiza testes de DNA em caudas de ratos enviadas de várias partes do país para determinar se eles tinham ou não o gene de imunização. Assim, o pesquisador espera mapear quais regiões possuem as maiores populações desses animais e que, portanto, devem receber os raticidas mais poderosos. 
    “As áreas com uma proporção muito grande de ratos resistentes não serão tratadas com venenos normais, mas com agentes que têm efeito mais forte”, diz Clarke. “Em uma determinada área, todos os ratos que analisamos eram resistentes. A infestação estava num nível tão grave que a companhia de controle de pestes local acionou o Health and Safety Executive, solicitando o envio emergencial de raticidas mais potentes, e os ratos foram eliminados em duas semanas”, conclui.
    O objetivo do esforço liderado pelo pesquisador é testar 600 animais até 2013. A chegada do inverno, que reduz o alimento disponível para os roedores, deve aumentar o número de amostras enviadas aos laboratórios da universidade de Huddersfield.

       Opinião do especialista

    Osvaldo Augusto Sant'Anna
    Coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Toxinas e cientista do Instituto Butantan.

    Na Inglaterra, aconteceu  um caso de seleção artificial realizada pelo homem. Os ingleses usaram raticidas que causam hemorragias internas, o que funcionou ao longo dos anos. Mas os roedores ficaram resistentes.
    Um exemplo clássico semelhante aconteceu, no século XIX, na Austrália. Lá, o coelho foi introduzido, se proliferou rapidamente e virou um sério problema, por destruir plantações.
    Em meados do século XX, os australianos importaram um vírus que provoca nódulos nesses animais e que matou 80% da população em um curto espaço de tempo.
    Só que uma pequena parcela dos coelhos era imune ao vírus. Acabou ocorrendo uma seleção e o número de coelhos voltou a crescer, agora mais resistente.
    Veja


     
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