Tudo o que a UNE ama, ela deve ao capitalismo

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  • quarta-feira, 17 de outubro de 2012
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    O Congresso Nacional, em qualquer país, é uma espécie de bolsa de futuros na qual se negociam políticas públicas. Esta não é referência derrogatória ao Congresso Nacional, é apenas uma visão econômica do que se faz lá.

    No Congresso Brasileiro, por exemplo, se olharmos o que acontece nos últimos 3 meses, vemos muito movimento e pouca ação, como nas peças de teatro de má qualidade; Se olharmos economicamente, tudo o que se vem fazendo no Congresso é negociar contratos com vencimento em 2014 ou 2015. Nos Estados Unidos o jogo é o mesmo. Lá chama-se 'I scratch your back you scratch my back.'(eu coço suas costas. você coça as minhas). A versão brasileira é o é dando que se recebe.

    Ninguém supera os americanos na defesa de direitos. Processos judiciais que vão, com frequência, até à Suprema Corte para defender princípios importantes, como o da inviolabilidade do escaninho de uma estudante na escola ou o direito de publicar pornografia à vontade (se você ainda não viu, não perca o já antigo filme O Povo contra Larry Flynt, com uma magistral interpretação de Woody Harrelson, representando o famoso pornográfo). Não importa se as causas agradam-nos ou não: o importante é o princípio.

    Aqui corremos ao contrário. A briga é para ver quem consegue um naco maior dos bens do estado (que ó existem porque capitalistas e operários trabalham mais de quatro meses por ano para pagar impostos. E os pobres pagam proporcionalmente mais.

    Getulio Vargas fundou dois partidos um dos patrões (PSD) e outro dos empregados (PTB) e conseguiu o milagre de representar todos e eleger-se presidente constitucional do Brasil depois de 15 anos de ditadura dele mesmo.

    A roda gira e a privatização do estado no Brasil não para de rodar cada vez mais para ficar no mesmo lugar.

    A UNE é uma campeã. Vários de seus ex-presidentes são políticos, desde José Serra a Lindbergh Farias. Este no Rio de Janeiro e aquele e São Paulo.

    Lembro-me dos meus tempos de estudante. A UNE também seduziu o meu idealismo jovem.

    Agora a UNE quer que o governo lhe construa uma sede, além de ter o monopólio de emitir carteiras de estudante para tornar os ingressos de cinema mais caros para todos nós (nossa entrada custa um pouco mais caro para financiar todo mundo que pagou meia com uma carteira emitida pela UNE). Alguém tem que pagar a conta. A UNE progrediu muito: em 1962 não tinha o monopólio das carteirinhas.

    Meu primeiro congresso da UNE foi em 1962. Não era ainda nem universitário. Tinha apenas terminado o serviço militar obrigatório (outra violação autoritária da liberdade individual) e estava à toa na vida esperando janeiro para fazer o vestibular.

    Um amigo me chamou para ir à UNE e lá fui. Estavam discutindo a organização do Congresso Nacional que seria em julho. Voluntariei-me para ajudar na organização. Foi um Congresso confuso. O país estava dividido. Houve tiroteio, gente baleada. Foi no Hotel Quitandinha, um magnífico cassino em Petrópolis, coisa de luxo. Seu teatro teve o primeiro palco giratório da América do Sul. Fechado o jogo em 1946 ficou às moscas, sendo sustentado pela esperança da reabertura do jogo no Brasil que não ocorreu até hoje.

    Achei a UNE uma coisa maravilhosa. Lá estava eu com 19 anos organizando um congresso de quase três mil estudantes num hotel de luxo no qual nunca poderia hospedar-me. Tive que chegar alguns dias antes pois, como organizador, precisava conhecer tudo do hotel.

    Isto me valeu muito porque aprendi como funcionava um hotel enorme, já que passei boa parte da vida profissional indo a congressos, como participante, como palestrante ou como organizador. O aprendizado da UNE em Quitandinha em 62 e em Santo em 63 foi inestimável.

    Não devo à UNE, devo ao governo que financiou estas farras.  Fico pasmo de ver, atualmente entrevistas de presidentes da UNE que nada mudou. A UNE continua a viver às custas do governo, com frequência opondo-se a políticas que, por piores que sejam, poderiam melhorar o ensino; A UNE foi contra as privatizações. Sobre educação tem pouco a dizer.

    Um dos presidentes da UNE, Augusto Chagas, disse que o capitalismo é limitado e talvez seja mesmo. Sobretudo quando se come do bom e do melhor enquanto se batalha por um naco do dinheiro dos pagadores de impostos (que até recentemente estimava-se que custaria entre 36 e 72 milhões de reais) para construir uma nova sede da UNE, incendiada durante o golpe de 1964.

    De onde será que vem os bifes que os presidentes da UNE comem? E as roupas que eles vestem? Os veículos nos quais se locomovem? Os filmes aos quais assistem? Os desodorantes que  usam?

    Nada disso vem da UNE, vem do capitalismo "limitado" que a UNE dedica-se a combater – felizmente sem grande sucesso – pelo menos, desde 1962.

    Apenas vejo que, infelizmente, nada mudou na UNE as bandeiras são combater a única revolução que deu certo (a capitalista) em nome de uma doutrina que até hoje só levou ao fracasso e à opressão (o socialismo).

    Mas, tudo isso é alimentado a bons bifes que não chegam aos seus pratos andando, mas são produzidos por capitalistas e operários, que ralam para que a UNE tenha nova sede para seguir combatendo o capitalismo. (Para ver notícia sobre a construção da nova sede da UNE com o seu, o meu, o nosso dinheirinho veja o blog do planalto, clicando no link a seguir: http://blog.planalto.gov.br/nova-sede-da-une-ficara-pronta-em-2013/)

    De onde sairão os milhões que serão pagos de, no barato, 32 milhões de reais, pagos com os impostos de todos os que trabalham para alimentar estes sonhos. Estes sonhos só são possíveis porque tudo o que os presidentes da UNE amam, eles devem ao capitalismo.

    Mas a batalha pelo socialismo não pode parar porque, infelizmente, o capitalismo, com todas as suas limitações, empurra esse imenso esforço de privatizar o estado brasileiro, sempre em nome de belas causas ocas… mas extremamente rendosas.

    Uma das boas heranças do getulismo foi a importação do Rio Grande do Sul do termo pelego, que é a manta de lã que os gaúchos usam para amortecer o sacolejo de cavalgar. Importado para a política, pelego era o nome que se dava ao líder sindical, que, em troca de gordos benefícios, amortecia as tensões entre operários e patrões nas disputas sindicais. Não tenho a menor ideia ao fim deste  artigo por que a memória do que quer dizer pelego em política me veio à cabeça…

    Alexis de Tocqueville foi um nobre francês que viajou aos Estados Unidos uns quarenta anos depois da revolução francesa. Na volta escreveu um livro chamado Democracia na América que ficou famoso por chamar a atenção dos leitores para uma das grandes virtudes do associativismo. Os americanos formavam associações para tudo. Era uma espécie de coleção de mutirões para fazer coisas justas, cooperarem uns com os outros e, naturalmente, defender seus direitos junto aos governos.

    Já se passarem quase 200 anos do livro de De Toqueville e os americanos continuam a associar-se. Na lista telefônica de Washington há mais de 2.000 associações, federações, uniões, grupos que se dedicam a defender seus interesses junto ao governo, o que inclui dinheiro público, é claro.

    O problema não é de certo ou errado. É de mais certo ou mais errado. Raramente países caem no zero ou no cem. Ficam sempre em algum ponto da escala. O problema, portanto é tentar ficar o mais próximo possível do mais certo.

    A pergunta: porque os pobres e os ricos do Brasil devem pagar pelas obras da nova sede da UNE que, na realidade, foi, na sua origem, resultado de uma "expropriação" da sede da Sociedade Germânia, um clube social de alemães e seus descendentes que foi ocupada pela turba na época da Segunda Guerra Mundial em nome de combater o nazismo, como o foram, muitos negócios de propriedades de alemães.

    Escapou, por pouco, uma tradicional loja de brinquedos no centro do Rio de Janeiro, chamada "A feira de Leipzig," que tinha esse nome por causa da cidade alemã que era tradicional pela produção de brinquedos, mas que era de propriedade de portugueses.

    Conseguiu escapar da expropriação e do incêndio graças ao seu dono português que, com seu sotaque carregado,  conseguiu explicar e convencer a turba enfurecida que a loja não devia ser destruída que era de propriedade de portugueses. Foram retirados os letreiros e no dia seguinte reabriu com o nome de "A Feira dos Brinquedos."

    Eu ia oferecer um quindim ao leitor ou leitora que adivinhasse quem é o arquiteto da nova sede da UNE, mas a resposta é muito fácil, assim comerei o quindim eu mesmo e matarei sua curiosidade. Claro, é Oscar Niemeyer. Qualquer casualidade é mera coincidência.

     
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