Serra presidente

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  • terça-feira, 23 de outubro de 2012
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  • Está feia a coisa para o lado do candidato da imprensa, José Serra (PSDB). A julgar pelo artigo escrito hoje por Janio de Freitas, jornalista da Folha de São Paulo, o jornal jogou a toalha na missão de eleger seu representante. Leia a seguir o texto completo e tire suas conclusões:


    A solução de dar a José Serra a presidência do PSDB, noticiada como reação dos peessedebistas à sua prenunciada derrota na eleição paulistana, é mais do que um jogar precipitado da toalha de nocaute político.

    A presidência de um partido não é prêmio de consolação. E muito menos o seria a presidência do PSDB, cuja perda de expressão entre as forças políticas tem a ver com José Serra, mas é anterior à disputa pela Prefeitura de São Paulo. A formação de direções partidárias por arranjos e interesses subalternos é, aliás, um dos fatores importantes na degeneração do sistema político brasileiro.

    Os figurantes de mais relevo dentro do PSDB não se dão conta de que o seu partido está em uma encruzilhada, falta de percepção que o razoável desempenho nas eleições municipais vem acentuar. Não são muitas as hipóteses de futuro oferecidas ao PSDB. Nem muito tempo para definir o que é capaz de vir a ser, por meio do que seus integrantes influentes sejam capazes de querer e de fazer.

    Uma das hipóteses é a volta do PSDB às suas origens, de partido com o propósito de representar ideias de social-democracia e de reformas democratizantes e moralizantes da política brasileira. Aquilo mesmo que levou Franco Montoro e Mario Covas a deixarem o PMDB de suas tantas batalhas.

    A alternativa àquela hipótese, para o PSDB, é continuar no jogo de patotas em que se mediocrizou, tornando-se a bandeira do neoliberalismo por aqui, e logo descambando para a posição de centro-direita, como representação política do mercadismo e dos negócios financeiros. Por esse caminho tomou o lugar do hoje fantasmagórico PFL-DEM, e, pelo mesmo caminho, não é provável que tarde muito a chegar ao mesmo destino.

    Se José Serra é capaz de fazer algo pelo PSDB, não sei dizer. Mas é certo que a tarefa não poderia ser de um só, e José Serra é um desagregador notório, como demonstrou em sua longa contribuição para o desarranjo interno do partido (só as suas brigas com os então senadores e dirigentes Tasso Jereissatti e Sérgio Guerra e com Aécio Neves já exemplificam o suficiente).

    Gente em condições de recuperar o PSDB, se tal vier a ser o desejo dos que vivem à sua sombra, é material escasso --para dizer o mínimo a respeito. Carência comum a todos os partidos, em dimensões variadas. Com dificuldade adicional no PSDB: as inconvivências internas, muito agudas, desgastaram todos os que têm alguma presença no partido. E, afinal de contas, eles são os que demoliram o projeto PSDB.
     
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