Janio de Freitas
A provável vitória de Fernando Haddad, prenunciada na dianteira de 20% sobre José Serra nos votos válidos, tem vigor bastante para zerar as preocupações do PT com as possíveis e temidas repercussões, sobre o futuro petista, de condenações feitas pelo Supremo Tribunal Federal. As recentes e sigilosas reuniões de Lula com Dilma Rousseff e alguns petistas confirmam os temores e sua intensidade.
As preocupações justificavam-se já pela temeridade da escolha pessoal feita por Lula, impondo um candidato sem experiência eleitoral e pouco conhecido no eleitorado. Condições agravadas pela doença que minimizou a participação de Lula na campanha, pela agenda dada ao mensalão no STF e pela tradicional posição de grande parte dos meios de comunicação. Mas, na hora do enfrentamento, é inegável que muito desses agravantes foi compensado pelo adversário.
José Serra é o homem que não aprende. Mostrou-se, mais uma vez, nas palavras do jargão, grande puxador de votos -para o adversário. Com débito grande no eleitorado, pelo abandono da prefeitura e, ainda por cima, para o reprovado Gilberto Kassab, foi incapaz de reduzi-lo. Foi incapaz da criação de alguma ideia sedutora, de um argumento qualquer que remendasse sua imagem. Preferiu ser apenas o agressor descontrolado de sempre. Deu, porém, uma oportunidade ao eleitorado: a de dobrar-lhe a elevada rejeição e com isso desmentir que os eleitores esquecem tudo e depressa.
A propósito, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, em alta hospitalar por diabetes e problemas renais, afirmou que "o mensalão não foi bandeira de campanha do PSDB". Fica a suspeita: ou trataram a crise errada ou deixaram efeitos colaterais esquisitos.
Agora quem fará reuniões de temor e preocupação é o PSDB. Necessárias a Aécio Neves, porque a provável derrota de Serra não o beneficia, como muitos têm dito e escrito. A vitória fortaleceria o partido como a derrota o descredencia, no eleitorado e entre as forças políticas. O jogo sucessório acelera-se a partir de agora. Com José Serra no partido que fez Kassab criar para uma eventualidade? É melhor não duvidar.