Mises e Ação Humana

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  • quinta-feira, 11 de outubro de 2012
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    Estou encerrando minha coluna The Calling nesse mês e os três próximos artigos serão os últimos. Nessas colunas finais, quero focar nos três livros que são centrais para a tradição austríaca moderna da economia e oferecer um resumo das contribuições de cada um. Começarei nessa semana com Ação Humana, de Ludwig von Mises.

    É difícil resumir um dos mais importantes (e longos) livros de economia do século XX em uma única coluna. Os seus três insights centrais são sua ênfase na natureza subjetiva de valor, conhecimento e escolha humana; o mercado como um processo; e o papel que os mercados desempenham facilitando a cooperação social.

    Para Mises, a economia estuda, como sugere o título do livro, a ação humana. A ação, argumenta, é fundamental para aquilo que nos faz humanos: sempre estamos em um estado de "desconforto", que devemos remover através da ação. Como e quando agimos é determinado por nossos julgamentos subjetivos sobre os fins que desejamos atingir e os melhores meios para atingi-los. O conhecimento que temos em nossas cabeças é somente nosso, e ele nos informa sobre como valorizamos meios e fins. E isso nos leva a fazer as escolhas que fazemos. Não há nada mecânico ou automático nesse processo. Pelo contrário. Ele requer ações conscientes. Esse processo subjetivo do conhecimento à avaliação, até a ação sobre a escolha, é o ponto inicial de toda análise econômica para Mises.

    Começando pela natureza subjetiva do conhecimento, avaliação e escolha, Mises tentou construir uma compreensão completa da economia. Do básico sobre como os preços emergem a partir da avaliação, escolha, e troca monetárias, ao ciclo econômico, até os problemas com as várias formas de intervenção governamental e a impossibilidade do planejamento socialista. Em todos esses casos, a ideia central é que o mercado não é "um lugar ou uma coisa", mas um "processo". Os mercados, particularmente a troca da propriedade privada por dinheiro, são uma maneira pela qual os humanos tentam melhorar a sua situação. Os mercados não são simplesmente locais onde os consumidores e produtores se encontram para maximizar a utilidade e os lucros, respectivamente, baseados nos preços "dados" – como cada vez mais são descritos pelas principais correntes da economia. Para Mises, o mercado não é uma máquina de maximização; o mercado é um processo dinâmico de mudança, aprendizado, crescimento e cooperação.

    A descoberta através da competição

    Como o seu aluno F. A. Hayek, ele via particularmente a competição como um "procedimento de descoberta", através do qual os produtores descobrem o que os consumidores desejam e como produzir aquilo pelo menor preço. Isso é resultado de um empreendimento consciente: a avaliação do presente e dos possíveis futuros, em um mundo de incertezas evidentes, mas não debilitantes. O cálculo econômico com o preço do dinheiro é o processo pelo qual somos capazes de enxergar através de uma neblina de incertezas e suprir as demandas dos consumidores. O mercado, conforme descrito em Ação Humana, é parte de uma batalha humana mais ampla para superar a ignorância.

    O que os mercados possibilitam nada mais é do que a cooperação social – na realidade, a civilização – como nós a conhecemos. Para Mises, a divisão do trabalho e o processo de especialização/trocas não são as únicas fontes de crescimento econômico e de melhora das bilhões de vidas humanas. Eles são também fonte de ligações humanas mais profundas. Uma divisão do trabalho maior significa especializações mais estreitas e mais confiança no comércio para as coisas que gostaríamos de adquirir. Isso significa que os humanos se tornam mais interdependentes, o que por sua vez remove os incentivos pela violência e a guerra. Os mercados nos induzem a cooperar ao invés de saquear e, dessa maneira, nos ajudam a criar civilizações pacíficas. Os mercados, através daquilo que Mises chamou de "Lei da Associação", são a chave para a cooperação social.

    Em conflito com as tendências

    A distinta visão de Mises acerca da economia e o seu lugar na sociedade estava na contramão das tendências da sua época. Ação Humana foi publicado no mesmo ano de Fundamentos da Análise Econômica, de Paul Samuelson, e Fundamentos foi o livro que definiu o tom da economia do século XX. Ele via a economia como sendo, em grande parte, um problema de engenharia de maximização forçada por agentes onicientes em equilíbrio. Por várias razões complexas, não apenas que a visão de Samuelson era mais dócil para as preferências intervencionistas do pós-guerra, a visão da engenharia venceu e o austrianismo de Mises viveu uma experiência de quase morte por várias décadas.

    Entretanto, as sementes que Mises plantara, junto com as sementes do livro que discutirei na próxima semana, formariam a base para o florescer da economia austríaca dos anos 1970, quando o terceiro dos três livros que escolhi foi publicado.

    Ação Humana permanece uma das maiores realizações das ciências sociais e talvez o tratado econômico mais importante do século XX. O renascimento do pensamento em favor do livre mercado e o aumento da liberdade econômica em todo mundo, pelo menos até recentemente, devem muito ao Ação Humana e a Mises.

    * Publicado originalmente na revista The Freeman.

     
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