Lula, Haddad e a imprensa

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  • terça-feira, 23 de outubro de 2012
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  • Da mesma forma que ocorreu quando Lula lançou Dilma à Presidência da República, a imprensa do centro do país duvidou da capacidade do ex-presidente de eleger Fernando Haddad prefeito de São Paulo. Diziam que seria improvável que a candidatura petista decolasse, pois enfrentaria resistências dentro do próprio partido. Em especial, daqueles identificados com Marta Suplicy, que na época aparecia bem nas pesquisas eleitorais. Segundo a grande mídia, haviam também outros dois fatores: a candidatura de Serra seria praticamente imbatível com o apoio do PSD de Kassab e Lula não se recuperaria a tempo do tratamento contra o câncer para participar ativamente do pleito eleitoral. Além disso, obviamente, a imprensa golpista buscava desqualificar Haddad, considerando-o inexperiente e responsável direto pelos problemas ocorridos durante provas do ENEM.

    De novo, as grandes empresas de comunicação passaram vexame.
    Com uma linha acertada de campanha e sem medo de defender bandeiras de esquerda numa das cidades mais conservadoras do país, Haddad foi crescendo. Em agosto, pesquisa do Datafolha descartava a possibilidade do PT chegar ao segundo turno em São Paulo. Russomano tinha 31%, Serra 27% e Haddad apenas 8% (atrás dos votos brancos). No Ibope, teria 6%, empatado tecnicamente com Soninha (7%) e Chalita (5%). Embora não fosse mais possível esconder o crescimento do petista, os institutos de pesquisa e a grande imprensa mantiveram Fernando Haddad fora do segundo turno até a véspera da eleição. No dia 02 de outubro, o Ibope apontava que Celso Russomano (27%) e Serra (20%) iriam para a fase seguinte do pleito. O Ibope foi mais escandaloso ao apontar, no dia 06 de outubro, que Serra teria 24% e Russomano 23%. Haddad estaria próximo, com 20%, mas fora do segundo turno.

    As urnas desmentiram as pesquisas e os grandes meios de comunicação mais uma vez: Serra obteve 30,75% dos votos, Haddad 28,98% e Russomano 21,60%. Por si só, levar Haddad ao segundo turno diante de toda a manipulação, significaria uma grande vitória para Lula e o PT. Mas isso era apenas o começo.

    O segundo turno em São Paulo está repetindo o segundo turno da eleição presidencial que elegeu Dilma. Serra, a grande imprensa e figuras como o pastor Silas Malafaia partiram para o ataque contando com o conservadorismo da população de São Paulo. A homofobia, a baixaria e o preconceito passaram a dominar as declarações, os programas e o estilo de campanha de Serra. Por sua vez, o PSOL que obteve 1,02% dos votos no primeiro turno, dividiu-se entre a neutralidade e o apoio a Serra. Plínio Arruda Sampaio, ex-candidato deste partido a presidente, chegou a declarar apoio ao tucano. Devido a repercussão, acabou optando por não mais se manifestar.

    Quando todos pensavam que toda esta conjuntura faria Haddad ficar na defensiva e iria estancar seu crescimento, a surpresa: a campanha petista assumiu de vez bandeiras da esquerda e apresentou propostas concretas para mudar São Paulo.

    Haddad continuou a crescer. Algo que nem os institutos de pesquisa e nem a grande mídia pode mais esconder sob pena de perderem a pouca credibilidade que ainda lhes restam. O Ibope aponta a vitória do petista contra o tucano com uma margem de 16 pontos percentuais. Já no Datafolha, a margem é de 17 pontos.

    Haddad, Lula e o PT conquistarão o poder novamente na maior cidade brasileira. Serra acumulará mais uma derrota, fortalecendo seus adversários internos no PSDB. Talvez a aposentadoria lhe caia bem. As empresas de comunicação perdem mais uma, mas logo logo se aglutinarão novamente em torno das forças conservadoras, desta vez representadas por Aécio Neves.

    Mais do que o saldo positivo de vencer a eleição numa das únicas capitais onde os tucanos ainda resistem, a vitória de Haddad deve servir de exemplo ao próprio PT. Sim, ela é fruto, em grande parte, do prestígio e da popularidade de Lula. Porém, não menos importante do que isso foi a capacidade que a campanha teve de captar as novas formas de articulação da sociedade brasileira na era pós-Lula. Se, no passado, a luta dos movimentos sociais baseavam-se quase exclusivamente na relação trabalho versus capital, hoje, sem que estas deixem de existir, há a clara intenção destes novos movimentos de discutir e levar a cabo as lutas por cidades com desenvolvimento sustentável, respeito ao meio ambiente e aos direitos humanos. Na conservadora São Paulo, o PT entendeu isso e soube capitalizar para si esta nova conjuntura.
     
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