Aos 33 anos, Valdelice se tornou uma líder respeitada pela comunidade indígena Guarani-Kaiowá e quer que as autoridades brasileiras reconheçam suas terras, como a Constituição determina. Ela tem muito trabalho a fazer. De acordo com o último relatório da Anistia Internacional, em 2011, “a situação é particularmente grave no estado de Mato Grosso do Sul, onde as comunidades Guarani-Kaiowá enfrentam perseguição constante de pistoleiros contratados por fazendeiros locais” “Apesar dos esforços por parte dos promotores federais para acelerar o processo de reconhecimento das terras indígenas, a questão permanece parada”, lembra o Relatório “Povos indígenas sob ameaça nas Américas” da Anistia Internacional. Valdelice conta a mesma história, só que ao contar escorrem lágrimas de seus olhos: “A recuperação da nossa terra não é fácil. Temos que enfrentar homens armados, contratados para nos matar e a recusa do governo em compreender a cultura indígena. Nosso maior desafio é poder ocupar nossas terras, que foram demarcadas e homologadas, e mesmo assim o Supremo Tribunal Federal acaba de rejeitar esse nosso direito. Toda vez que um novo governo chega ao poder, ou entra outro governo, é a mesma coisa, temos que começar do zero”. Na 14ª Conferência Internacional Anticorrupção – IACC – a discussão da corrupção na administração e divisão de terras foi amplamente debatida, uma vez que é uma das áreas públicas mais corrompidas de todo o mundo. Por exemplo, 37% das terras da Amazônia não são devidamente protegidas. A luta da comunidade Guarani-Kaiowá enfrenta um árduo caminho contra a corrupção. Em janeiro deste ano a Funasa, órgão federal vinculado ao Ministério da Saúde se envolveu em um escândalo de desvios de fundos, enquanto suprimentos médicos não chegam a um número significativo de comunidades indígenas e o sistema de saúde é inadequado. Quando eu conheci Valdelice, compreendi o quanto é importante dar voz às comunidades indígenas que, apesar de não estarem sozinhas, estão lutando contra um inimigo muito mais poderoso do que eles. E às vezes esse inimigo aparece disfarçado de amigo. Valdelice descreveu sua mãe enfrentando a paisagem de metal que agora ocupa sua terra. “Por que há esse monstro de ferro?”, ela me pergunta. “Por que temos que passar a vida aqui, lutando com as estruturas enormes de indústrias de etanol, financiadas pelo Governo Federal, que foram construídas onde vivemos.” Para chamar a atenção das autoridades brasileiras, 170 índios Guarani-Kaiowá assinaram um pacto de suicídio que irá entrar em vigor após uma ação do governo para remover à força as tribos. Parte do pacto diz: “Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente aqui. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.” Alguns, incluindo Valdelice, ainda têm esperanças de uma solução pacífica. “Esperamos, mas não sei por quanto tempo iremos aguentar. Quantos mais índios terão que morrer por quanto tempo esse genocídio irá durar?”. “Nós pensamos que Dilma, como mulher, mãe, v´teria mais sensibilidade, porém, ainda não sabemos o que ela pensa da nossa situação”. Leia a íntegra da carta dos índios Guarani-Kaiowá: http://migre.me/bic1x Por: Maria Martin Delgado Young Journalists - Transparência Internacional Tradução Livre – AMARRIBO Brasil |
A Luta dos Índios Brasileiros Contra a Corrupção na Demarcação de Terras
Posted on quinta-feira, 25 de outubro de 2012 by Editor in