Um só doador pode mudar 20 vidas

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  • sexta-feira, 21 de setembro de 2012
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  • Vinte pessoas. Segundo os especialistas, esse é o número de pacientes que um único doador de órgãos pode beneficiar. Em alguns casos, que envolvem a doação de córnea, pele e ossos, a atitude garante muito mais qualidade de vida ao receptor. Em outros, quando se doa o coração, pulmão ou fígado, representa a diferença entre viver e morrer. “Doar é um dos maiores atos de amor ao próximo que uma pessoa pode ter”, resume a assistente social Glaucia Repula, da Central de Transplantes do Paraná.
    Como a família é responsável por autorizar ou não a doação, a nefrologista Maria Lúcia dos Santos Vaz, do Hospital do Rim de São Paulo, explica que o ideal é que os familiares vençam o medo, conversem abertamente sobre a morte e que cada pessoa deixe clara sua opinião sobre a possibilidade de doar seus órgãos.

    A seguir você confere como se tornar um doador de órgãos, as principais dúvidas sobre o assunto, como é o sistema de definição dos receptores e quais são os mitos mais comuns sobre a doação.
    Quem pode doar
    Indivíduos entre 2 meses e 70 anos de idade e que tiveram morte encefálica. Hoje, a lei já autoriza que sejam captados órgãos de pessoas com hepatite B ou C, contanto que seja atestado que o receptor também tem essas doenças e está ciente da condição de saúde do doador. São vetadas doações de pessoas com HIV, tuberculose, infecção generalizada e causa de óbito desconhecida.
    Morte encefálica
    A morte encefálica é caracterizada quando as funções cerebrais param, mas o coração continua batendo por algumas horas e, com uso de aparelhos e drogas, é possível manter os demais órgãos funcionando até que o coração pare também. As principais causas são AVC, aneurisma cerebral e acidentes de trânsito (quando há traumatismo craniano).
    Constatação do óbito
    A morte encefálica é constatada a partir de uma sucessão de exames clínicos e laboratoriais feitos por dois médicos diferentes, que não fazem parte da equipe responsável pela cirurgia de retirada dos órgãos ou pelos transplantes. O teste é feito sem drogas que deprimam o sistema nervoso central, a temperatura normal do corpo deve estar regularizada e os exames devem ser repetidos após seis horas.
    Como ser doador
    Pela lei brasileira, quem autoriza a doação dos órgãos após a morte é a família. Um parente de até segundo grau deve assinar os documentos, sempre respeitando a hierarquia familiar: primeiramente, são convidados pai, mãe ou filhos; depois, irmãos, avós ou netos. O cônjuge também pode se responsabilizar pela autorização.
    Documentos
    As manifestações de vontade ou não para doação na carteira de identidade e de motorista não têm mais validade. Independentemente do que esteja manifestado nos seus documentos, é a família quem decide.
    Facebook
    Recentemente, o Facebook, em parceria com o Ministério da Saúde, disponibilizou uma opção em que as pessoas podem se declarar doadoras de órgãos em seu perfil. Para isso, basta em sua linha do tempo, na área Evento Cotidiano, escolher a opção Saúde e Bem-Estar e clicar em Doador de Órgãos. A ferramenta reforça sua opção, mas não tem qualquer validade legal.
    * * * * *

    Mitos ou verdade
    Saiba o que é verdade e o que não passa de lenda quando o assunto é doação de órgãos:
    O corpo fica deformado após o procedimento.
    Mito. A cirurgia de retirada é feita como se a pessoa estivesse viva: os cortes e incisões são do menor tamanho possível, são feitas suturas para fechá-las e o corpo não fica deformado.
    A burocracia para doação retarda muito a liberação do corpo.
    Mito. O processo entre a assinatura dos documentos de doação e a retirada dos órgãos não pode ser lento, porque vários órgãos só podem ser aproveitados até seis horas após a morte do paciente. Por isso, a diferença de tempo para liberação do corpo é de no máximo 24 horas em relação a um não doador.
    Crianças podem ser doadoras.
    Verdade. Crianças que tiveram morte encefálica podem ser doadoras e a prioridade para recepção é dada para crianças que estão na fila de espera, já que alguns órgãos, como coração e pulmão, dependem de compatibilidade de tamanho.
    A doação não tem custos.
    Verdade. Todo o processo de retirada e transplante de órgãos pode ser feito pelo SUS ou por convênio médico.
    Os médicos vão se esforçar menos para salvar um paciente que é doador.
    Mito. A hipótese da doação só é levantada pela equipe médica quando não há mais chances de sobrevivência para o paciente.
    Morte encefálica e estado de coma são a mesma coisa.
    Mito. No coma, ainda há atividade cerebral e a pessoa é considerada viva. Na morte encefálica, há perda total e irreversível das funções encefálicas.
    Transplante após um ano e meio de espera
    O estudante Gustavo Teza, 24 anos, (foto) deixa claro para todos que conhece: faz questão de ser doador de órgãos. O motivo não poderia ser mais nobre: há quatro anos, ele recebeu um transplante de córnea devido às complicações de um ceratocone (doença que torna a córnea mais fina) e pretende retribuir esse gesto ajudando outras pessoas. Em setembro de 2006, a córnea do olho esquerdo de Gustavo rasgou e, depois de uma série de tratamentos sem sucesso, acabou entrando na fila de transplante. Após um ano e meio de espera, o procedimento foi feito e Teza relembra que logo tentou conhecer a família do doador, uma criança de 7 anos que havia morrido atropelada em Minas Gerais. “Fui atrás do contato dos parentes, mas em agosto de 2008 [sete meses após o transplante], me mudei para a França e não consegui falar com eles. Agora que voltei a morar no Brasil, quero muito encontrá-los.”
    Saiba mais
    Cada estado tem uma central de captação de órgãos, interligada ao Ministério da Saúde, que organiza uma fila de receptores. Como o sistema é monitorado, não há risco de os órgãos serem comercializados. No Brasil, as pessoas também podem ser doadoras em vida, mas a lei regulamenta que só podem fazer a doação o cônjuge ou parentes até quarto grau. Para não familiares, exige-se aprovação no comitê de ética do hospital e autorização judicial e do Ministério Público. Os procedimentos, no entanto, (com exceção da doação de medula óssea) não são incentivados por causa dos riscos para os doadores.
    Saiba mais
    Cada estado tem uma central de captação de órgãos, interligada ao Ministério da Saúde, que organiza uma fila de receptores. Como o sistema é monitorado, não há risco de os órgãos serem comercializados. No Brasil, as pessoas também podem ser doadoras em vida, mas a lei regulamenta que só podem fazer a doação o cônjuge ou parentes até quarto grau. Para não familiares, exige-se aprovação no comitê de ética do hospital e autorização judicial e do Ministério Público. Os procedimentos, no entanto, (com exceção da doação de medula óssea) não são incentivados por causa dos riscos para os doadores. 


     
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