Às vésperas de ser julgado, ex-deputado rompe silêncio, critica pressão da imprensa sobre o STF e avalia sua situação política
Quando soube que o ex-presidente da Câmara Federal, João Paulo Cunha (PT-SP), havia sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do Mensalão, o ex-deputado federal Paulo Rocha chorou. “Estão condenando a nossa geração de lutadores, uma geração que construiu um projeto de País”, disse em entrevista exclusiva ao DIÁRIO na última quintafeira.Paulo Rocha será julgado nos próximos dias. É o único dirigente do PT do Pará que se tornou réu no que está sendo definido como o maior julgamento da história do País. Vai responder pelo crime de lavagem de dinheiro e a pena pode chegar a dez anos de prisão. Ao lado de Rocha, outra paraense figura entre os réus. É Anita Leocádia, que era secretária dele – e a responsável por fazer os saques do dinheiro que, segundo Rocha, vinha de empréstimos bancários para pagar dívidas de campanha. A acusação diz que os recursos eram resultado de desvios de órgãos públicos federais e seriam usados para comprar apoio político ao então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Abalado com o julgamento, que começou em agosto e deve ser concluído ainda neste mês, Paulo Rocha estava evitando dar entrevistas. Também não tem assistido às sessões do Supremo, transmitidas ao vivo por várias emissoras de TV e sites de notícia. Os detalhes do julgamento chegam até ele por meio de advogados e de telefonemas frequentes do ex-deputado Professor Luizinho (PT-SP), que também é réu no mesmo processo. “Não cometemos nenhum desses crimes de que estamos sendo acusados. Não merecíamos a rigidez dessa condenação. Não representamos a corrupção no Brasil. É duro carimbar isso em nós. É uma crueldade”, defendeu-se.
Seguindo a linha que tem sido apresentada pela defesa dos réus durante o processo, Paulo Rocha repete que não houve mensalão (o pagamento de mesada aos deputados da base). Ele tão pouco admite qualquer desvio de dinheiro público. Para ele, o erro do PT se limita ao uso de caixa dois para bancar gastos de campanha, crime que, defende, deveria ser julgado pela Justiça Eleitoral. “O PT cometeu o erro do caixa dois? Claro. Nós assumimos logo no início, mas carimbar a gente como representantes da corrupção no Brasil? Condenar o João Paulo como símbolo do combate à corrupção? Nós não aceitamos isso”, repete.
PALAVRA PROIBIDA
Paulo Rocha evita usar o termo mensalão. Se refere ao assunto como “aquele episódio”. Segundo ele, o escândalo foi “produzido pelas forças contrárias ao PT e ao presidente Lula”. Seria fruto da disputa de poder no País.
O ex-deputado reclama também da cobertura dada pela mídia ao caso. Diz que parte da imprensa tomou partido. “Quando surgiu o episódio, pensaram: agora é hora de pegar o PT, a partir desse vacilo que foi o caixa dois”. O ex-deputado confessa que sabia, desde o início, que o dinheiro enviado pela direção nacional do PT ao diretório estadual não era contabilizado. “Claro que eu sabia. Nós fazíamos isso aqui também”.
Ele conta ainda que, em 2002, após a campanha de Maria do Carmo Martins ao governo do Pará e de Ana Júlia Carepa ao Senado, o PT acumulava dívidas de R$ 620 mil. Como dirigente da legenda no Estado, Rocha procurou o então tesoureiro do PT nacional, Delúbio Soares, que prometeu ajudar a saldar as dívidas. Começaram então os depósitos em uma agência do Banco Rural. O dinheiro era sacado por Anita e usado, segundo ele, exclusivamente, para quitar débitos com empresas que produziram bandeiras, camisetas e botons para a campanha eleitoral. “Não vi o dinheiro. Minha secretária pegava lá no banco e depositava nas contas dos credores Está tudo nos autos”. Além dos R$ 620 mil para quitar as dívidas do próprio PT, Delúbio enviou ao Pará recursos para ajudar a pagar contas do PSB, na época aliado dos petistas, que também tinha chegado ao fim da campanha sem conseguir fechar as contas.
Paulo Rocha diz que se for julgado com base nessas informações será absolvido, mas não descarta a possibilidade de vir a ser condenado e até preso. “O Supremo está vulnerável ao clima que foi construído pela imprensa”, diz.
Para defender a si e aos companheiros de processo, ele recorre à história do PT, partido gerado em meio às grandes greves dos trabalhadores da indústria no final dos anos 70. “O PT teve um papel importante no País, que foi o de fazer com que o povo se movimentasse em torno de seus interesses e a política foi esse instrumento. No processo democrático, nós já ganhamos da elite”, diz, afirmando que o processo do mensalão seria a reação dessas elites contra o partido.
Fonte: Diário do Pará e Oimpacto