Acompanhando os movimentos da militância de internet desde o início da campanha para a prefeitura de Colombo, percebi uma ligação muito clara entre o que vivemos e antigas condutas políticas. Ao seguir um dentre milhares de internautas raivosos por alguns dias – desses, que enviam e-mails, criam perfis falsos, vituperam no twitter, “trolam” os candidatos nas redes sociais e multiplicam documentos apócrifos –, não percebi muita diferença em relação ao jovem Stalin que assaltava bancos na Armênia(*) ou a Goebbels e suas toneladas de mentiras convertidas em verdades.
A associação é claro, soará esdrúxula ou exagerada para alguém que tenha um conhecimento histórico um pouco mais refinado. A malcriação, o expediente maldoso – a maldade, enfim – parece emanar da mesma fonte: o pensamento político da pior espécie, desprovido de ética e moldado no que a “política real” tem de mais asqueroso.
Com isso, penso, não só queimamos uma excepcional oportunidade de avançar em termos civilizatórios – o que se faz de interessante na campanha virtual demonstra isso cabalmente –, como também perdemos um pouco da fé na espécie humana.
Traquinagens - Entre as práticas mais comuns dos militantes computacionais de maus bofes, observa uma fonte integrada a uma das campanhas e que há meses rastreia as escaramuças, está a configuração de “redes de xingamentos”. “O que eu percebo é que existem militantes que se fixam nas ofensas”, observa.
“É impressionante: há momentos do dia reservados para praguejar. São ‘xingamentos programados’, que pegam muito mal com os eleitores indecisos.” Essa conduta, segundo ele, está muito mais presente do que a de promoção das propostas e qualidades dos candidatos. “Em Colombo, acredito, temos candidatos a prefeito afundando por conta disso.”
A rotina do gestor - Todos os dias, ao levantar e acessar as duas telas do computador de onde acompanha as contas de Facebook e Twitter de seu candidato, o gestor de internet com quem conversamos enfrenta a maré de opiniões e maldades.
O primeiro passo é buscar respostas para pessoas que enviam mensagens privadas com sugestões, dúvidas e críticas construtivas ao candidato. O segundo, promover os temas de campanha com os amigos e seguidores, para criar uma rede positiva de difusão.
O terceiro, defender o candidato de possíveis ataques e denúncias, buscando até desmascarar os autores das ofensas mais graves. O quarto, dar suas próprias “beliscadas” nos candidatos adversários. Ao longo do dia, evidentemente, todas as etapas se misturam, o que torna o gerenciamento muito mais complexo.
Questionado sobre um eventual desgaste psicológico, nosso entrevistado concluiu: “como dizem os políticos, o negócio é ‘fazer a lição de casa’. Passar ao largo das ofensas e, na medida do possível, focar os elementos positivos de seu candidato. A ideia é conquistar votos e não destruir o voto alheio”.
(*) - Revendo alfarrábios, me dei conta de que Stálin não assaltava bancos na Armênia, mas na Geórgia, sua terra natal. Infelizmente, essa informação passou no jornal escrito - mas não aqui. Mea culpa.
com interrompemos.