Quente e frio!

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  • domingo, 22 de julho de 2012
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  • Este é um bom artigo escrito pela jornalista Eliane Cantanhêde na Folha de S Paulo deste domingo. Mostra bem o paradoxo entre a onda “concurseira”  em voga no Brasil e a onda de greves no setor público por melhorias nos salários.

    Vale a pena ler

    Quente e frio!

    Há uma corrida desenfreada por concursos e vagas públicas. Simultaneamente, uma onda de greves e protestos de servidores. Afinal, é bom ou não é?

    Direito é o curso mais procurado do país, mas não significa uma vocação coletiva, ou que todos os vestibulandos queiram ser advogados, juízes, delegados. A maioria quer usar a faculdade como "cursinho" para fazer concurso --não importa o setor.

    Essa corrida ocorre pelo aumento de vagas no serviço público na era Lula, com um festival de concursos em todas as áreas, todos os Poderes, todos os Estados. E, claro, é estimulada pela estabilidade, pela aposentadoria, pela ascensão funcional. É botar o pé dentro e subir degraus.

    É uma contradição: se tudo parece tão bacana e a turma estuda tanto para entrar, é preciso explicar as greves em mais de 20 setores da administração e os 10 mil servidores que pararam o trânsito em Brasília na última quarta, pichando um ministério, ameaçando invadir outro.

    Talvez seja tão bom que os funcionários se sentem fortes o suficiente para confrontar Dilma Rousseff e exigir o impossível: R$ 92 bilhões de aumentos, 50% a mais na folha de pagamentos. Nenhum patrão do mundo faria isso. Muito menos um patrão, ou patroa, que apenas gerencia o dinheiro dos outros --os contribuintes.

    Dilma argumenta com a crise internacional e joga duro, mas os grevistas também. Ela só cedeu para os professores das universidades, focando o top da carreira (doutores com dedicação exclusiva) e dando até 45% de reajuste em três anos. A categoria rejeitou, porque só a "elite" seria beneficiada. E os dois lados têm razão: nem o salário dos docentes é justo nem há dinheiro para tudo.

    Que o impasse entre governo e servidores sirva para que essa obsessão "concurseira" recue para a normalidade. Para isso, porém, Dilma precisa garantir crescimento e investimentos na economia. O setor público está quente, a indústria, esfriando.
     
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