Por Marcelo Migliaccio — Blog Rio Acima
Ontem a polícia prendeu ladrões de carro no Rio. Depois disso, os policiais passaram a procurar as oficinas que compram peças de carros desmontados, ou seja, as receptadoras, as financiadoras do crime, que compram o produto roubado para revender ao consumidor final.
Pois aconteceu o seguinte outro dia na televisão.
Um programa novo na emissora líder de audiência decidiu debater a invasão de privacidade. Convidaram um ator contratado da casa e um fotógrafo que passa seus dias perseguindo pessoas mais ou menos famosas atrás de flagrantes inusitados.
O mediador do debate, apresentador do programa, logo tomou partido do ator da casa. Sendo ele uma personalidade também, resolveu colocar o fotógrafo paparazzi contra a parede. Juntaram-se então o ator contratado da casa e o apresentador para demonizar o pobre coitado do lambe-lambe.
O debate de dois contra um virou uma covardia. A dupla de "famosos" ali, colocando para fora todos os seus recalques contra fotógrafos que os emboscaram nos shopping centers da vida, levando embora o sossego de um dia de folga em família.
Foi quando o tal ator, que adora dar lição de moral, disse que também deveriam ser responsabilizados os órgãos de imprensa que compram as tais fotos para publicá-las em suas revistas e sites de celebridades.
Neste momento, o fotógrafo, muito calmamente, disse que sua principal compradora era a empresa dona daquele canal de TV.
Ou seja, o receptador da preciosa intimidade roubada do ator e do apresentador é ninguém menos que seu próprio patrão.
Instantaneamente, as duas celebridades, até então tão indignadas com a situação, se calaram. Ficaram com caras de tacho. Sem graça, o apresentador ainda saiu-se com essa:
_ Que delícia podermos debater isso aqui.
Mas o debate acabou ali, quando chegou nas responsabilidades do patrão de ambos sobre o crime que denunciavam. Acabaram-se seus argumentos e aquela suposta coragem intrépida de debater o tema polêmico.
Ainda se vangloriaram de o programa ser gravado e mesmo assim a cena ter ido ao ar, mas, se cortassem na edição, estariam desmoralizados diante da grande platéia reunida no estúdio.
Você que consome revistas ou visita sites de fofoca, portanto, é o último elo dessa cadeia. É você quem consome a intimidade roubada dos artistas pelos paparazzi e revendida pela indústria da mídia de celebridades. Da mesma forma que o espertinho compra peças roubadas para consertar seu carro a um preço menor, o consumidor de fofoca quer ver o artista sem que ele esteja se apresentando profissionalmente.
A TV comercial não dá margem a nenhum debate sério, porque tudo ali tem implicações e interesses, sejam políticos, econômicos, ou ambos.
Veja o vídeo arremedo constrangedor de debate: