As diversas faces das eleições municipais

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  • quarta-feira, 11 de julho de 2012
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  • Fernando Cartaxo de Arruda - fcartaxoarruda@gmail.com Sociólogo--
    A eleição municipal de 2012 tem algumas peculiaridades e sutilezas que a diferenciam dos demais pleitos. É um embate eleitoral descasado das eleições presidenciais e, portanto, ocorre em uma paisagem aparentemente distinta de um projeto nacional. Em geral, as disputas pelo poder central tendem a gerar blocos aglutinadores de forças partidárias, visando maior consistência das oportunidades eleitorais.
    A outra circunstância do comportamento político da eleição municipal é a maior liberdade de voo solo dos partidos políticos, que buscam fortalecer suas bases e redutos eleitorais, acumulando energias para negociarem com mais ímpeto o processo da sucessão presidencial. Daí não ser estranho a implosão das velhas alianças e o entrechoque entre os partidos da base aliada do governo federal. As realidades locais e regionais acabam por fazer desenhos esquisitos na montagem das disputas eleitorais. E são também nesses momentos que o inesperado das urnas pode revelar surpresas, que o imprevisto pode se tornar real.
    Os apetites pelo poder se aguçam; a dança das cadeiras é uma luta de sobrevivência política. É um momento de ousar, correr riscos. Mesmo que os olhos estejam postos em 2014, o peso entre as forças políticas locais exercem a moldagem das disputas e o rearranjo de novos acordos políticos. Essa mutação simboliza uma nova arquitetura na base política do poder. Antigos aliados se distanciam, novas parcerias políticas se firmam. As janelas do poder se abrem para novos cenários que irão influenciar as novas forças regionais de poder e definir quem terão as melhores cartas para apresentar na montagem da sucessão presidencial, dos governos estaduais e dos parlamentos regionais e nacional.
    O caso mais emblemático tem sido as pelejas entre o PT e o PSB, acirradas pelos desentendimentos nos acordos políticos e o confronto frontal em cidades estratégicas no país. O PSB alega, com razão, que não nasceu para ser satélite do PT. Na verdade, busca robustez política para não ser coadjuvante no jogo da sucessão política de 2014. Até aí age como todo partido que objetiva a conquista do poder.
    Mas o embate municipal deixará marcas e pavimentará muitas possibilidades para o distanciamento político nos futuros acordos da sucessão dos governos estaduais.
    O presidente do PSB, governador Eduardo Campos, tratou de querer separar o clima das disputas municipais do âmbito do projeto nacional de poder. Em outras palavras, disse que continua um aliado da presidenta Dilma Roussef. E que as estratégias eleitorais do PSB não miram uma eventual candidatura presidencial em 2014. A presidenta Dilma conversou com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, baixando o fogo do acirramento eleitoral para acalentar o entendimento de um pacto na sucessão presidencial. Embora analistas petistas avaliem que toda essa movimentação nas eleições municipais e o comportamento dos partidos têm seus aspectos regionais, mas reconhecem a essência e relevância desse momento para a sucessão presidencial.
    Daí existir uma corrente de interpretação da realidade política que pensa em fortalecer o papel dos dirigentes nacionais nas disputas municipais. Assim como agem os outros partidos, o PT tem que defender suas bandeiras políticas. O Lula já foi escalado para ser um personagem político de peso em diversas cidades importantes do país. E outro passo que buscam dar os estrategistas políticos é a participação da Presidente Dilma. Acreditam ser fundamental para alavancar o PT nas disputas mais ferrenhas e de real interesse geopolítico para consolidar o partido nas estruturas regionais de poder.
    Os partidos da base aliada temem uma presença mais marcante de Lula e Dilma no embate das eleições municipais. A força simbólica e política dessa dupla podem definir os rumos das vontades das urnas, pois exercem um fascínio popular enorme. É verdade que o fulcro eleitoral é o debate da cidade e a capacidade de gestão sobre ela. Mas também é inegável que os principais programas de planejamento urbano são interligados ao governo federal e que o caixa que toca as principais obras e programas públicos e sociais são financiados pela enorme fatia dos impostos concentrados no governo central.
    Hoje a maior preocupação política das diferentes forças partidárias aliadas e de oposição é tentarem anular a dimensão nacional da disputa eleitoral municipal. Talvez esse seja o ponto mais delicado do processo eleitoral de 2012. A Dilma sofre a pressão do PT para um engajamento mais efetivo nas eleições municipais e apelos de neutralidade por parte de aliados nacionais que se confrontarão com candidatos do PT. Este terreno melindroso ainda não está por completo esclarecido, mas as expectativas é que Dilma tentará se equilibrar entre esse fogo cruzado, sem se omitir de sua identidade partidária.
    Há notícias que agirá de forma diplomática em gravações de programas eleitorais, mas em situações pontuais e cirurgicamente refletidas.
    Para focarmos uma situação concreta: Fortaleza, a maior cidade governada pelo PT, a estratégia eleitoral traçada é do envolvimento das lideranças nacionais do partido, de forma solidária e combativa com a candidatura Elmano Freitas. A estratégia nítida, com as primeiras peças de campanha divulgadas, é vincular o candidato à identidade partidária e ao governo Lula e Dilma, sem abrir mão das realizações da prefeita Luizianne Lins. Essa linha incomoda os demais candidatos, mas é uma escolha sensata para o marketing político.
    Daí que ainda vamos escutar muitos berros na caminhada eleitoral. Mas não podemos deixar de reconhecer que essas eleições municipais têm os dois lados da moeda: a dimensão nacional e a local. Para alguns é preferível esconder a dimensão nacional. Em política o certo é se fazer uso das forças que se tem, senão se perde o jogo.
    O calor da campanha eleitoral só será sentido, com maior precisão, nas telinhas da televisão e nos ruídos dos rádios, na virtualidade dos computadores e na florada dos comícios. Ainda vivemos o momento de esquentar os motores, checar o nível do óleo e calibrar os pneus.
     
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