A imprensa e a morte do cardeal

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  • quinta-feira, 19 de julho de 2012
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  • Por Marcelo Migliaccio — Blog Rio Acima
    Não sou o Agnaldo Timóteo pra ficar falando mal de morto, mas achei muito estranha a cobertura da morte do ex-cardeal arcebispo do Rio dom Eugênio Sales.
    Visivelmente, as emissoras de TV, principalmente a Globo, tentaram criar em torno dele uma aura heróica. Bolas, dom Eugênio sempre foi, no mínimo, omisso em relação à ditadura militar que se instalou no Brasil entre 1964 e 1984. Agora, ele surge como salvador de 5 mil presos políticos. Muito estranho isso. Basta ver como ele combateu a Teologia da Libertação. Quem atuou contra o poder discricionário militar foram dom Hélder Câmara, dom Pedro Casaldaliga e dom Evaristo Arns. Esses sim arriscaram a própria pele protestando contra as torturas e outros crimes cometidos durante o regime verde-oliva.
    Mas, na cobertura do seu falecimento, dom Eugênio virou herói. Poderiam ter entrevistado pelo menos um dos 5 mil perseguidos que teriam sido protegidos por ele. Nenhum apareceu. Seria ingratidão ou mistificação?
    Também houve um cuidado flagrante em não mostrar planos gerais da Catedral Metropolitana do Rio, onde o corpo foi velado e sepultado. O motivo é que não havia multidão. O máximo que conseguiram em termos de imagem aberta foi uma fila com não mais de 20 pessoas.
    Atestada pelo último censo demográfico, a perda de fiéis da igreja católica é uma realidade no Brasil. Apesar disso, atribuíram a um apelo de dom Eugênio ao papa a escolha do Rio para sede do encontro mundial de jovens promovido pelo Vaticano. Ora, é claro que o alto clero optou pelo Brasil por causa do crescimento dos evangélicos e não por causa de um suposto apelo do cardeal.
    A nota de pesar do papa Ratzinger foi a mais impessoal e fria possível. No Brasil, a presidente Dilma, que estava do outro lado nos anos de chumbo e sabe quem é quem, manifestou-se apenas por escrito, protocolarmente. O governador e o prefeito do Rio vestiram suas caras de triste e cumpriram a obrigação no velório.
    E ainda teve a tal pomba branca que ficou pousada em cima do caixão durante horas. Aos olhos da imprensa, que cria ficção nos noticiários segundo seus próprios interesses, a apática ave virou a imagem do Espírito Santo.
    Acho que já vi aquela pomba saindo da manga de algum mágico de festa infantil. Se não era ela, era bem parecida.
    Credo!
     
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