Por Rudá Ricci
Sejamos sinceros. Esta Constituição é a coisa mais confusa do mundo. Não define o rito democrático da defesa do acusado.
Pior: Lugo terminou o governo da mesma maneira que atuou ao longo da sua gestão. Indeciso, oscilando. Disse que acatava o impeachment e agora forma um governo paralelo?
Os mais coerentes são os governos que formam o Mercosul. Podem chiar que tomam decisão ideológica. Mas tomam. Não deixam dúvidas. E utilizam suas prerrogativas regimentais. Bloqueio econômico é bobagem, mas pressão política é legítima.
O que me deixa pasmo é a falta de coerência de certa esquerda que se diz democrática. Fiquei, neste campo, positivamente surpreso com a postura de Míriam Leitão, deixando claro que nem sempre o que é legal é legítimo. Algo que Habermas já nos ensinou faz tempo. Numa entrevista magistral ao ex-ministro Rouanet (no antigo Mais!, da Folha), dizia que a defesa da vida é mais importante que o respeito à cultura e tradição local. Porque ninguém tem direito de tirar a vida ou mutilar um filho em nome da tradição.
Esta é a base do pensamento moderno, do humanismo.
Fico chocado com o relativismo pós-moderno de alguns que acham que a Constituição foi respeitada e que, portanto, pode tudo. É a estética acima da ética. O fim do humanismo. Algo, por sinal, que já contaminou Lula. É triste ler seus críticos argumentarem com o mesmo relativismo no caso paraguaio.
E é triste um país não se levar a sério.