Érico Firmo - Jornal O Povo
O aperto de mão e os sorrisos trocados ontem entre o governador Cid Gomes, que preside o PSB no Ceará, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder que todo o PT do País ouve, aponta para uma realidade nova nas articulações em torno da sucessão da prefeita Luizianne Lins em Fortaleza. Até agora autossuficiente, garantindo ao processo o ritmo que melhor lhe pareceu, Luizianne pode estar perdendo este controle. Um dia antes, ela mesma já indicara algo diferente acontecendo, ao anunciar a vinda à cidade nos próximos dias do presidente da executiva nacional petista, Ruy Falcão (foto). Até então, o acertado era que ele viria apenas depois que o partido tivesse o nome definido para apresentá-lo à aliança e, em especial, ao aliado Cid Gomes. Na nova estratégia, o dirigente nacional passa a integrar o esforço de solução do impasse.
Cid, que mantém Luizianne sentada à espera de uma simples ligação telefônica para os dois acertarem os ponteiros eleitorais para 2012, deslocou-se 3.127 km até São Paulo, ontem, para uma conversa com Lula. Animais políticos que são, claro que os dois aproveitaram a oportunidade para colocar o processo eleitoral na mesa de discussões. Lula impressionou o governador cearense pelo nível de conhecimento sobre o cenário de Fortaleza, o que pode ter ajudado Cid no discurso potencializador das dificuldades para manter a aliança sem um nome forte para comandá-la desde o palanque. Os números da pesquisa Ibope que o PSB encomendou, certamente apresentados, ilustraram sua argumentação.
A realidade apresentada em números até pode ter impressionado o ex-presidente. Porém, conhecedor do espírito aguerrido da prefeita e vítima dele quando tentou atropelá-la em 2004 para impor o apoio petista ao então candidato Inácio Arruda, do PCdoB, Lula sabe que precisará conduzir sua intervenção com cuidado. Luizianne, apesar dos erros cometidos e de chegar às portas da campanha enfrentando dificuldades políticas para se impor com o nome de sua preferência dentro da aliança, tem uma trajetória inteiramente marcada pelo crescimento nas adversidades. Lula não é do tipo que comete o mesmo erro duas vezes seguidas, nem o cuidadoso Cid Gomes costuma dar chance ao azar quando se trata de trabalhar pela facilitação de suas caminhadas políticas.
Cid diz a Lula que quer manter aliança em Fortaleza
Ao mesmo tempo em que o PT de Fortaleza diz que não irá aceitar intervenção nacional na escolha do candidato petista à sucessão municipal, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva disse que irá se dedicar, nos próximos dias, às negociações eleitorais nas capitais – incluindo a cearense, onde a aliança entre PT e PSB está ameaçada de ruir.
Lula já estaria atento ao impasse. “Eu descrevi a situação no Ceará. Ele (Lula) é muito bem informado, acompanha as coisas. E disse que vai se dedicar, junto com as principais lideranças do partido, a examinar o quadro de cada uma das capitais”, descreveu o governador Cid Gomes ontem à noite, durante entrevista em Brasília, horas após ter se encontrado com Lula em São Paulo.
As declarações de Lula reforçam a tese de que a cúpula nacional do PT entrará em cena para tentar salvar a aliança governista, já que Cid e a prefeita Luizianne Lins (PT) sequer se encontraram para tentar resolver a situação. “(Lula) manifestou, no que foi reiterado por mim, com meu absoluto desejo, a vontade e a disposição de que a gente mantenha a aliança no Ceará. Que o PSB e o PT possam caminhar juntos”, reforçou Cid.
O governador cumpria agenda em São Paulo e disse que aproveitou para visitar o ex-presidente, com quem ele não se encontrava desde o anúncio da doença do petista. Lula foi diagnosticado com um câncer de laringe em outubro do ano passado e se recupera do problema. “Como ele é viciado em política, a conversa acabou descambando (para esse assunto)”, relatou o governador.
Além de Lula, também deverá ser acionado para participar das negociações em Fortaleza o presidente nacional do PT, Rui Falcão, que deve visitar Fortaleza ainda nesta semana. Nos bastidores petistas, cresce a aposta em um possível rompimento entre as duas siglas.
O presidente municipal do PT, Raimundo Ângelo, disse que o partido está aberto às conversas com os líderes nacionais, mas reiterou que a decisão final se dará em âmbito, no próximo dia 3, durante encontro municipal. (Hébely Rebouças - hebely@opovo.com.br)