Até hoje, passados mais de dez anos que representei o Zebedeu na novela “Mandacaru” da extinta Rede Manchete, muitas pessoas me param nas ruas a me parabenizar por aquele trabalho. A grande maioria, homens.
Público masculino que assistiu a novela “cangaceira”.
Existe sim a “novela masculina”. É sobretudo aquela que trata menos de romantismo e mais de intrigas de negócios, seqüestros, bandidos, heróis, vilões , mocinhos, tiros, e violência etc. etc..
Este foi o caso de Mandacaru, além do grande apelo que o tema Nordeste, e seu cangaço, trazem ao público brasileiro.
Mas Avancini mais uma vez foi Mestre.
Dividiu Mandacaru em duas vertentes: a dos folhetos de Cordel de Cavalaria, com Tirana e seu bando; com o “Tenentinho” e sua tropa. Heróis românticos, “bonitinhos”, capazes de partir os corações femininos, e empolgar os masculinos pela ousadia e coragem das personagens.
E o Cordel de Bufoneria. Que acabou encontrando sua expressão máxima na minha personagem, Zebedeu.
Num país de tradição de comédias, com um povo alegre e otimista como o nosso é claro que o bufão agradou em cheio. “Tomou” a novela e cativou o público. Um vilão engraçado , empático.
Fui abençoado com a segunda grande vitória minha na TV. A primeira havia sido o “Bafo de Bode” em Tieta.
Vitória que Avancini, mesmo com toda a sua maestria não esperava. Um dia antes das gravações começarem ele me chamou e disse-me que eu seria execrado pela crítica, e que eu ia estragar a novela, porque eu estava completamente fora do tom dela.
Por fim, era Zebedeu quem dava o tom da novela. E Avancini, como pai da criança ficou muito satisfeito por ter errado sua previsão sobre minha atuação.
Mas o segredo principal de Mandacaru foi sua divisão em duas vertentes da literatura de Cordel. Artimanhas de um gênio que nos deixou muito cedo: Walter Avancini.