A princípio Avancini não me convidou para fazer o Zebedeu. Queria que eu fizesse um cangaceiro, que seria o braço direito de Tirana.
Nem o salário, nem a personagem me satisfizeram e declinei do convite feito.
Quinze dias depois ele me chamou e me pediu para fazer o Zebedeu. Antagonista de Tirana.
Melhor salário e personagem, prontamente aceitos.
Ao me explicar a personagem dissera-me que seria um bandido corajoso, impiedoso...mas na véspera, ao lado da crítica ao meu futuro trabalho de ator ele mudou o texto e me colocou logo na primeira cena com Tirana me humilhando e me espancando, e eu sem reagir.
Fui à ele indignado, isso destruiria minha personagem como homem de coragem, valentia.
Ele me disse: -É assim e não se discute.
Virei a noite anterior à primeira gravação, sem dormir, pensando em como sair daquela situação.
E descobri: Tirana ia bater em Zebedeu porque estava com vinte homens em armas apontadas para ele e sua mulher , a Baiana. Só batia porque era superior em número, e amparado por seus cabras. Ou seja, se eu soubesse interpretar a reação ao tapa usando apenas o olhar de Zebedeu como denúncia, Tirana estaria desmascarado em sua “coragem”.
E foi o que fiz: ao receber o tapa, Zebedeu levanta-se do chão, olha as armas em volta, vê a superioridade e não pode reagir diante da covardia perpetrada.
Ali no primeiro capítulo driblei Avancini, Zebedeu fora superior a Tirana, e comecei a vida da minha personagem.
Dali em diante a personagem foi trabalhada em cumplicidade com meu psicanalista, Luiz Alfredo Milecco, que me orientou: “Zebedeu é como um primata. Não tem sequer consciência da vida e da morte. Tudo pra ele é festa. É erotismo. Levar tiro, matar, ferir, ser ferido, tudo é vida para ele.É Eros.”
O restante do trabalho foi apoiado na Graça do talento que recebi, no meu feeling de comédia, na minha vivência nordestina, e no apoio solidário que recebia de todo o meu bando.