OS DONOS DA PRAIA

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  • quarta-feira, 6 de julho de 2011
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  • Eles gostam de invadir uma praia...
        
         Impressiona a propensão que alguns tem, no Brasil, para misturar o público com o privado. A coisa é feita com tanta naturalidade, que parece o exercício regular de um direito. Mas, de vez em quando, alguém é pego com a boca na botija.
         A bola da vez foi o “bonzinho” Luciano Huck que faz, em seu programa semanal na televisão, filantropia com o dinheiro alheio em troca de merchandising na tela global.
         A juíza da 1ª Vara Federal de Angra dos Reis, Maria de Lourdes Coutinho Tavares, condenou Luciano ao pagamento de R$ 40 mil por ter instalado um cerco de boias em frente à casa que possui na Ilha das Palmeiras, em Angra dos Reis, sem autorização ambiental, em ação proposta pelo Ministério Público Federal. 
         O apresentador tentou aplicar a desculpa fria de que pretendia praticar a maricultura (cultura de mariscos), mas a juíza concluiu que ele não tinha licença para esse tipo de atividade e que pretendia, de fato, afastar as pessoas que quisessem ir à praia. Caso não cumpra a ordem de retirar as bóias, Huck ainda terá de pagar R$ 1 mil por dia.
         Mas a coisa não é nova: em decisão publicada no último dia 22 de junho, o apresentador também foi condenado a pagar outra multa por ter descumprido uma decisão anterior em caráter de liminar que determinava a retirada das bóias.
         Ou seja, mesmo condenados, eles resistem a cumprir as decisões judiciais.
         Ocorre que Huck não está sozinho na busca pela exclusividade litorânea. Sabem quem já também tomou uma condenação por fechar praia? Nada menos que o “Barão do Aço” gaúcho, o “honorável”empresário Jorge Gerdau Johannpeter!
         Pois o “Dr. Jorge”, para o qual todas as forças políticas do Rio Grande do Sul se curvam e aceitam seu dinheiro para campanhas eleitorais (chegou a perguntar, diante de uma platéia de silenciosos vereadores de Porto Alegre, “afinal, quanto custa fazer uma lei?”, como se fazer leis fosse o mesmo que fazer tijolos) fechou, anos atrás, a Praia Vermelha, em Santa Catarina, onde tem mansões, proibindo não apenas os turistas de desfrutar o local, mas também os pescadores que tem, naquela praia, o acesso ao seu meio de vida.
         Como Gerdau comprou todas as propriedades no entorno da praia, que tem uma enseada com dois morros nas extremidades, achou que poderia colocar portões e guaritas com guardas impedindo o acesso de pessoas ao local.
         Processado a partir de denúncias de pescadores junto ao Ministério Público Federal (veja aqui e aqui), Gerdau teve que devolver a praia ao público e, ainda, teve que dar servidão de passagem aos pescadores através da sua propriedade para o escoamento da pesca efetuada a partir da praia Vermelha, além de indenizá-los pelos prejuízos sofridos.
         Este modesto comerciante de bugigangas teve a oportunidade de ir até o local, anos atrás e, por acaso, conversar com os pescadores, já vitoriosos, e avistar as guaritas instaladas nos morros, abandonadas pelo “homem bom” Jorge Gerdau.
         Estes são os homens que a mídia ordinária tenta vender como modelos a serem seguidos. Mas que quando tratam dos seus interesse exclusivos, deixam cair o verniz de homens íntegros e assassinam a ética e o respeito à lei, como se para eles tudo fosse possível. São personagens de um Brasil atrasado, deslocado no tempo, mas que teima em manter privilégios ilegítimos, mantendo vivo o odioso patrimonialismo do qual não conseguimos nos livrar.
     
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