CENAS DE UMA DITADURA 17 - EXPULSO DO COLÉGIO

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  • quinta-feira, 14 de julho de 2011
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  • Com a minha detenção em agosto de 1964, e a conseqüente descoberta da célula comunista que mantínhamos dentro do Colégio Mendes de Moraes, no Rio, a direção do Colégio deu-me a “transferência” para outro estabelecimento de ensino, desde que não fosse da Rede Pública.

    Ou seja, estava expulso da escola pública no que seria hoje o equivalente à oitava série.,

    A Diretora do Colégio, Sra. Mara Amélia Santos Penna, um ser humano com todas as suas contradições,  e por isto mesmo idealista, mas  lacerdista e udenista de primeira hora não podia admitir a minha presença no Colégio.

    Afinal haviam feito uma “Revolução” e eram vitoriosos. “Ai dos vencidos.”

    Meu pai e minha família estava desesperada. Eu precisava continuar os estudos. Meu pai matriculou-me num colégio particular na Tijuca. Daqueles do tipo PP (Pagou Passou). Ele achava que a coisa resumia-se no fato de que eu nem precisava estudar se não quisesse.

    Mas minha ética e moral não me permitiam essa hipocrisia.

    Decidi não ir ao tal colégio, e decidi não mais estudar em colégio algum. Declarei o ensino brasileiro “alienado e alienante” (havia lido isto em algum libelo) e resolvi tornar-me autodidata enquanto fazia a “nossa revolução”.

    Nunca mais entrei num colégio como aluno.

    Mas o fato é que comigo deu certo.

    Hoje falo  e escrevo em cinco línguas, sou mestre teatral, autor, diretor e ator, enfim: tenho uma profissão definida, e para espanto dos familiares pequeno-burgueses e da Sociedade Conservadora, não morri, nem virei mendigo ou bandido.

    A luta e o Partido me ensinaram tudo que sei.

    Por causa da censura tinha que  ler os livros teóricos de marxismo-leninismo  em outra línguas, o que me levou a por conta própria aprender inglês, francês, espanhol e italiano.

    A militância através do teatro deu-me a profissão teatral, da qual tenho  com muito orgulho com  o Registro Profissional  nº01, das fls. 01, do Livro 01 do Ministério do Trabalho.

    Aprendi na escola da vida. 

    Não recomendo  a nenhum jovem de hoje deixar o estudo sistemático. Os tempos são outros. Embora um flanelinha talvez ganha mais que muito formado por aí.

    Mas, creio que  sempre haverão os loucos que foram criados para envergonhar os sábios, como o caso de Lula, diante dos mestres da Sorbonne.

     
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